O Acordo Mercosul-União Europeia (UE), firmado em dezembro de 2024 após 25 anos de intensas negociações, representa um marco no comércio internacional, com potencial para redefinir o panorama global de commodities.
Unindo dois gigantes econômicos, o acordo cria um mercado integrado de 718 milhões de pessoas e um PIB combinado que supera os US$ 22 trilhões. Essa integração em larga escala promete impulsionar o crescimento econômico, gerar novas oportunidades de negócios e fortalecer as relações entre as duas regiões.
Contudo, é importante lembrar que o acordo ainda precisa ser aprovado pelos parlamentos dos países membros da União Europeia, o que pode levar algum tempo.
Acordo Mercosul-União Europeia: impacto econômico e social
A eliminação de tarifas de importação para 95% dos bens brasileiros com destino à UE e 92% das exportações europeias para o Mercosul abre um leque de oportunidades para diversos setores.
Nesse sentido, projeções indicam um aumento expressivo no comércio bilateral, com estimativas de crescimento de US$ 113 bilhões no PIB brasileiro em 15 anos. Esse impulso econômico se traduz em geração de empregos, aumento da renda e melhoria das condições de vida.
Além dos benefícios econômicos diretos, o acordo também fomenta a cooperação em áreas como desenvolvimento sustentável, proteção ambiental, direitos trabalhistas e inovação tecnológica. A aproximação entre os blocos estimula a troca de conhecimentos e experiências, contribuindo para o desenvolvimento social e modernização das economias, como destacado pela Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro), que vê o acordo como um catalisador para a modernização do parque industrial brasileiro.
Oportunidades, tensões e incertezas
O acordo, contudo, não está isento de controvérsias. Produtores rurais europeus estão protestando, preocupados com a concorrência do agronegócio do Mercosul, temendo que a entrada de produtos agrícolas a preços mais baixos possa prejudicar seus negócios.
Essa tensão evidencia as complexas dinâmicas do acordo, que exige atenção para as possíveis disparidades
e desafios. A necessidade de garantir a sustentabilidade ambiental e social das atividades produtivas em ambos os blocos é outro ponto crucial.
Diversificação estratégica das exportações brasileiras
O acordo Mercosul-UE desempenha um papel estratégico na diversificação das exportações brasileiras.
Atualmente, o Brasil concentra grande parte de suas exportações em commodities agrícolas e minerais, com forte dependência de mercados como a China. Por sua vez, a UE oferece uma oportunidade para diversificar os destinos de exportação, reduzindo a vulnerabilidade a flutuações em mercados específicos e expandindo o acesso a um mercado consumidor de alto poder aquisitivo.
Análise da consultoria Hedgepoint e impactos no PIB
A consultoria Hedgepoint, em sua análise sobre os impactos do acordo para o açúcar brasileiro, destaca o potencial de aumento das exportações do produto para a UE.
A eliminação de tarifas e o aumento da cota de exportação podem beneficiar o setor sucroenergético brasileiro. As
estimativas do governo brasileiro apontam para um aumento de 0,34% no PIB do país em 2044, como resultado do acordo.
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Considerações da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG)
A ABAG celebra o acordo Mercosul-UE, reconhecendo sua importância estratégica para ambos os blocos. A entidade destaca o potencial do acordo para fortalecer o agronegócio brasileiro, promovendo o desenvolvimento sustentável e a geração de empregos no campo.
Análise sobre as principais commodities agrícolas
O acordo abre um leque de oportunidades para o agronegócio do Mercosul, com a eliminação de tarifas e a ampliação de cotas para diversos produtos, como veremos a seguir.
Carnes
- – Carne Bovina: cota de 99 mil toneladas com tarifa zero e cota adicional de 10 mil
toneladas com tarifa reduzida. - – Carne de Aves: cota de 180 mil toneladas com tarifa zero, beneficiando o setor
avícola. - – Carne Suína: cotas de exportação com tarifa zero, abrindo oportunidades para o
setor.
Grãos
- – Soja: benefício indireto pelo aumento da demanda por carne bovina e aves.
- – Milho e arroz: cotas com tarifa zero, impulsionando as exportações para a UE.
- – Trigo: apesar da concorrência com a produção europeia, o trigo do Mercosul pode
encontrar nichos de mercado na UE.
Açúcar e etanol
- – Açúcar: cota de 180 mil toneladas com tarifa zero, beneficiando o setor
sucroenergético. - – Etanol: a cota para etanol industrial é de 450 mil toneladas com tarifa zero, e outras 200
- mil toneladas de etanol para outros usos (inclusive combustível), com tarifa reduzida em
- um terço.
Suco de Laranja
Cota de 100 mil toneladas com tarifa zero, beneficiando o setor.
Frutas
Livre comércio de frutas como abacate, limão, lima, melão, melancia, uva de mesa e maçã, abrindo novas oportunidades.
Café
O café, já com tarifa zero, pode ter sua posição no mercado europeu fortalecida pelo acordo, que promove maior integração entre os blocos.
Outros produtos
Eliminação de tarifas para produtos como mel, lácteos, azeite de oliva, vinho e cacau.
Desafios e oportunidades para o agronegócio
A concorrência com a agricultura europeia subsidiada, as barreiras não tarifárias e a necessidade de adaptação aos padrões de sustentabilidade da UE são desafios a serem superados.
O acordo abre um mercado de alto poder aquisitivo, com potencial para gerar crescimento econômico e desenvolvimento para o setor. A diversificação de mercados, a valorização de produtos sustentáveis e a modernização do setor são algumas das oportunidades.
Considerações Finais
O Acordo Mercosul-União Europeia é um marco histórico com potencial para impulsionar o comércio de commodities e gerar benefícios para ambos os blocos.
Para o agronegócio, representa um divisor de águas, com a promessa de ampliar o acesso a mercados, aumentar a
competitividade e promover o desenvolvimento sustentável. A análise detalhada das commodities, dos desafios, oportunidades e perspectivas do setor visa fornecer um panorama abrangente dos impactos do acordo para o agronegócio.