Beta: como balancear seu portfólio diante do risco

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Investidor avaliando uma oferta pública de ações
Investidor avaliando uma oferta pública de ações

Uma das primeiras coisas que se aprende quando se decide investir no mercado de renda variável é que o risco é o principal fator a ser considerado. Mas mesmo dentro do mercado, o risco possui diferentes dimensões, e isso acaba influenciando nos rendimentos dos investimentos realizados. E a melhor forma de entender isso é quantitativamente, a partir do Beta, uma importante e muito conhecida métrica que auxilia os investidores nas decisões sobre tomadas de risco no mercado.

O Beta (β) é uma medida que busca dimensionar a volatilidade de um ativo em relação ao mercado em sua totalidade, se utilizando de um índice de referência para assumir essa função, como o Índice Bovespa, quando considerando o mercado brasileiro. Pode ser utilizado também índices acionários de outros países, como o Standard & Poor’s 500, seja pelo motivo de o investimento ser em bolsa americano ou para traçar uma aproximação do comportamento do ativo em relação ao desempenho das bolsas de modo geral, considerando que o índice americano possui forte correlação com diversas outros bolsas internacionais.

Desta forma, podemos entender que o Beta, além de uma medida de sensibilidade dos movimentos do ativo, também serve para indicar a exposição desse ao risco sistêmico. Sendo assim, uma importante ferramenta para a tomada de decisão do investidor quanto a aquisição ou não do ativo.

Há diversos sites na internet que disponibilizam o Beta das companhias listadas em bolsa de valores, sendo o mais acessível e famoso o Yahoo Finanças. Para outros ativos além das ações, é preciso fazer o cálculo através da fórmula abaixo.

Existem cinco possibilidades de resultados ao se auferir o Beta de uma empresa.

  • Beta igual a 1.0

Nesse caso, o ativo é muito correlacionado com o índice de mercado escolhido como referência, algo próximo de uma cópia perfeita. Apesar de existiriam algumas ações com essa característica, é muito mais provável que isso seja notado em um fundo que busque replicar propositalmente o índice, como o ETF BOVA11, fundo de investimento que utiliza a composição do Ibovespa como carteira. 

  • Beta maior que 1.0

Em casos onde o resultado apresentado é maior do que 1.0, o ativo tende a ser mais volátil que o mercado, ou seja, se valorizando além do índice em período de alta, mas também, se desvalorizando além do índice em momentos de baixa. É característico dos setores cíclicos e de empresas com foco no crescimento, como setor de varejo e tecnologia, respectivamente. Isso deriva da influência de diversos fatores na determinação de valor dessas empresas, assim os investidores criam perspectiva diferentes sobre a precificação trazendo volatilidade para o ativo.

  • Beta menor que 1.0

Quando se tem o resultado abaixo de 1.0, os ativos ainda são positivamente correlacionados com o mercado, mas os movimentos são de menor magnitude. Isso significa que num mercado de alta, os investimentos com essa característica ainda irão se valorizar, mas apenas numa fração da valorização do mercado, o mesmo acontecerá com o mercado em baixa. Na bolsa de valores, os setores que possuem essa característica são os anticíclicos, que possuem receitas estáveis ao longo do ano e são, até certo grau, indiferentes ao momento econômico vivido no país, como o setor de energia elétrica, telecomunicações e saneamento básico. 

  • Beta menor que 0

Existem os ativos que são negativamente correlacionados com o mercado, conhecidos também como ativos hedge, que pode ser traduzido como proteção. Esses possuem características que atraem os investidores em momentos de desaceleração econômica, se valorizando enquanto o mercado sucumbe diante de uma crise financeira, guerra ou qualquer outro evento que prejudique a economia. O ouro é o principal ativo dessa classe, mas podemos considerar também as opções de venda (apesar de não utilizarem Beta), alguns títulos públicos e qualquer outro instrumento financeiro que tenha por finalidade a proteção do capital.

  • Beta igual a 0

Não existe um ativo que seja cotado em algum mercado que totalmente independa desse ou de outros mercados. Mas podem ser considerados os instrumentos financeiros de proteção que não podem ser comercializados ou portfólio construídos com esse objetivo, no primeiro caso, podemos nos referir aos seguros ou as opções de venda (desconsiderando o mercado secundário), que permite o ressarcimento ou venda de um ativo à um preço fixado, independente do que esteja ocorrendo no mercado. Portifólios com o objetivo de replicar o beta zero artificialmente serão comentados a frente.

Como visto, existem claras diferenças entre os ativos com diferentes Betas, e o investidor pode acreditar que é melhor investir em ativo com o maior Beta possível, assim atingirá o maior retorno. Mas existem outros fatores a serem considerados, entre eles estão a tolerância ao risco do investidor, considerando que os ativos com essa característica também vão ser mais penalizados em momentos de desaceleração do mercado, e a estratégia a ser adotada, os ativos com Beta negativo serão fundamentais para estratégia de proteção de patrimônio em alguns períodos específicos de baixa do mercado. Portando, não se deve pensar apenas no cenário otimista, lembrando-se que o risco é proporcional ao retorno.

Assim, podemos resumir a decisão do investidor em:

  • Posicionar-se em ativos com beta igual a 1 quando se busca replicar o rendimento do mercado.
  • Posicionar-se em ativos com beta maior que 1 quando as projeções do mercado são altistas, a fim de alavancar os ganhos.
  • Posicionar-se em ativos com beta menor que 1 quando as projeções do mercado são baixistas, a fim de reduzir as perdas.
  • Posicionar-se em ativos com beta menor que 0 quando as projeções do mercado são baixistas, a fim de ganhar com o mercado em queda.
  • Posicionar-se em ativos com beta igual a 0 quando as projeções do mercado são baixistas ou incertas, a fim de garantir os rendimentos passados ou uma saída sem grandes perdas até que o mercado mude de trajetória ou se torne mais previsível.

Beta alavancado e desalavancado            

Existem dois tipos distintos de Beta a serem utilizados em uma análise, o primeiro é o beta desalavancado, que consiste apenas no cálculo estatístico considerando os retornos passados do ativo e do índice de mercado. Porém, viu-se a necessidade de incluir no cálculo algo que considerasse a estrutura de capital da companhia, adicionando qualquer efeito positivo ou negativo que a relação de dívidas e patrimônio poderia ter sobre a volatilidade do papel em bolsa. Assim, chegou-se no Beta alavancado, sendo calculado através da fórmula:

Esse pode ser maior ou menor do que o Beta desalavancado, indicando o benefício ou maleficio da estrutura de capital na volatilidade da ação no mercado.

Portfólio Beta-zero

Quando se tem um grande receio sobre as incertezas do mercado, mas não se tem o objetivo de se desfazer dos ativos em carteira, existem duas possibilidades, utilizar de instrumentos financeiros para se proteger das flutuações, como opções, ou adquirir ativos para se atingir o Beta zero, descorrelacionando o retorno da carteira com o mercado e o aproximando de um investimento livre de risco.

Assim esse portifólio nada mais é do que a média dos Betas ponderada pelo tamanho da posição em cada ativo considerado, para exemplificar, usaremos alguns dados hipotéticos:

  • Ação 1 – Beta: 1,17 (26%)
  • Ação 2 – Beta: 0,86 (10%)
  • Título 1 – Beta: -0,64 (24%)
  • Título 2 – Beta: -0,47 (25%)
  • Commodity 1 – Beta: -0,78 (15%)
  • Média Ponderada = 0,00042

Em muitos casos, a construção de um portifólio assim se mostrará como desvantajosa, mas em outros, específicos, pode ser a saída para um investidor que não tem muitas opções para proteção do capital investido.

A fim de concluir o assunto, é importante observar que, assim como uma infinidade de outras métricas do mercado financeiro, o Beta é calculado a partir dos retornos históricos dos ativos, portanto, não deve se imaginar que o comportamento desses se repetirão de forma idêntica no futuro. Mas demonstrou confiabilidade no teste do tempo sendo amplamente utilizada por diversos especialistas no mercado ao longo das últimas décadas.

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