Brasil e China: o impacto do recente acordo bilateral no agronegócio brasileiro

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Acordo Brasil e China
Acordo Brasil e China

A intensificação da parceria entre Brasil e China, materializada nos 37 acordos bilaterais assinados no Brasil em 20 de novembro de 2024, inaugura uma nova era para o agronegócio brasileiro. O gigante asiático, com sua crescente demanda por alimentos e produtos agrícolas, representa um mercado estratégico para o Brasil, que se consolida como um dos principais players no cenário global.

Agronegócio brasileiro: potência em crescimento

O Brasil ocupa uma posição de destaque no mercado mundial de alimentos, impulsionado por fatores como:

– Extensão territorial e recursos naturais: Com vasta área agricultável e condições climáticas favoráveis, o Brasil possui grande potencial produtivo.

Tecnologia e inovação: Investimentos em pesquisa e desenvolvimento tecnológico, como agricultura de precisão e biotecnologia, contribuem para o aumento da produtividade e da qualidade dos produtos agrícolas.

– Mão de obra qualificada: O Brasil conta com profissionais capacitados e expertise em produção agrícola em larga escala.

Números que impressionam

– 4º maior produtor mundial de alimentos: O Brasil responde por cerca de 10% da produção global de alimentos.

– 25% do PIB: O agronegócio representa um quarto do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro.

– 18% da força de trabalho: O setor emprega quase um quinto da população economicamente ativa do país.

– US$ 165 bilhões em exportações: Em 2023, o Brasil exportou essa quantia em produtos do agronegócio, sendo a China o principal destino, com cerca de 36% de participação.

Desvendando o acordo Brasil e China e seus impactos

1 – Abertura de mercado para novos produtos

– Uvas: A China, com um mercado de uvas de mesa estimado em US$ 16 bilhões, abre suas portas para a fruta brasileira. A expectativa é de que as exportações atinjam US$ 100 milhões por ano, segundo a Abrafrutas. O Vale do São Francisco, principal região produtora de uvas do Brasil, deve se beneficiar significativamente com essa abertura.

– Gergelim: O Brasil, 5º maior produtor mundial de gergelim, com 157 mil toneladas em 2023, tem a oportunidade de ampliar sua participação no mercado chinês, que importou US$ 1,2 bilhão em gergelim em 2023. O Nordeste brasileiro, principal região produtora de gergelim, pode aumentar sua produção e renda com essa nova demanda.

– Sorgo: A China, 2º maior produtor e consumidor mundial de sorgo, utilizado principalmente na alimentação animal, representa um mercado promissor para o Brasil, que produziu 2,7 milhões de toneladas em 2023. O Centro-Oeste brasileiro, com grande potencial para a produção de sorgo, pode se beneficiar dessa oportunidade.

– Farinha de peixe: A crescente demanda chinesa por farinha de peixe para ração animal abre novas perspectivas para o Brasil, que produziu 600 mil toneladas em 2023. A região Sul, com forte tradição na pesca e produção de pescado, pode aumentar sua produção de farinha de peixe.

2 – Cooperação em pesquisa e tecnologia

A Embrapa e instituições chinesas desenvolverão projetos conjuntos em áreas como: 

– Biotecnologia: desenvolvimento de novas variedades de plantas resistentes a pragas e doenças, e mais adaptadas às condições climáticas do Brasil.

– Agricultura de precisão: uso de tecnologias como drones, sensores e inteligência artificial para otimizar recursos e aumentar a produtividade.

– Manejo sustentável de solos e recursos hídricos: desenvolvimento de práticas agrícolas que preservem o meio ambiente e garantam a sustentabilidade da produção.

– Produção de alimentos orgânicos: desenvolvimento de técnicas de produção orgânica para atender à crescente demanda por alimentos saudáveis e sustentáveis.

3 – Facilitação do comércio

– Simplificação dos trâmites alfandegários: redução da burocracia e agilidade nos processos de exportação.

– Agilização dos processos de inspeção e certificação fitossanitária: garantia da qualidade e segurança dos produtos brasileiros, facilitando sua entrada no mercado chinês.

– Digitalização dos processos e uso de tecnologias como blockchain para rastreabilidade de produtos: aumento da transparência e segurança nas transações comerciais.

4 – Investimentos em infraestrutura

A China manifestou interesse em investir em projetos de infraestrutura logística no Brasil, como: 

– Ferrogrão: ferrovia que ligará o Mato Grosso aos portos do Norte do país, facilitando o escoamento da produção agrícola do Centro-Oeste.

– Ampliação de portos como o de Santos e Paranaguá: aumento da capacidade de exportação de produtos agrícolas.

– Melhoria da infraestrutura rodoviária: investimentos em estradas para facilitar o transporte da produção agrícola.

Oportunidades e desafios por setor

Veja agora o que podemos esperar dessa parceria em relação a alguns dos principais produtos do agro brasileiro.

Carne bovina

A China já é o principal destino da carne bovina brasileira, e a expectativa é que a demanda continue crescendo nos próximos anos, impulsionada pelo aumento da renda da população e pela mudança nos hábitos alimentares. Por sua vez, a maior demanda pode resultar na valorização da carne bovina no mercado internacional, beneficiando os produtores brasileiros. 

O Brasil precisa manter a alta qualidade e atender às rigorosas exigências sanitárias do mercado chinês, investindo em rastreabilidade, bem-estar animal e controle de doenças. A crescente demanda também pode pressionar os preços da carne no mercado interno. 

Quanto às oportunidades, diversificar a oferta de produtos, com cortes de maior valor agregado e carne processada, pode aumentar a rentabilidade do setor. Além disso cooperação em pesquisa e tecnologia pode contribuir para o desenvolvimento de novas técnicas de produção e garantir a sustentabilidade da pecuária brasileira.

Soja

A China é o principal comprador da soja brasileira, e os acordos devem fortalecer essa parceria estratégica. Além disso, a demanda chinesa por soja para alimentação animal e produção de biodiesel deve se manter aquecida nos próximos anos.

Aumentar a produção para atender à demanda crescente, com investimentos em tecnologia e manejo sustentável do solo, é um dos desafios a serem enfrentados pelo Brasil. A dependência do mercado chinês pode gerar vulnerabilidades em caso de mudanças nas políticas comerciais do país. 

Por outro lado, diversificar a produção entre soja orgânica e não transgênica pode abrir novos mercados e agregar valor ao produto. A cooperação em pesquisa e tecnologia pode contribuir para o desenvolvimento de novas variedades de soja mais produtivas e adaptadas às condições climáticas do Brasil.

Milho

A China é um importante importador de milho, e a demanda pelo grão deve aumentar nos próximos anos, impulsionada pela produção de ração animal e etanol. A maior abertura do mercado chinês para o milho brasileiro reduz a dependência do mercado interno e abre novas oportunidades para os produtores. 

Aumentar a produção é importante para atender à demanda crescente, com investimentos em tecnologia e logística de transporte. A concorrência com outros países produtores de milho, como os Estados Unidos, exige atenção à competitividade do produto brasileiro. 

Como oportunidades, vemos os investimentos em tecnologias para aumentar a produtividade e reduzir os custos de produção, além de desenvolver variedades de milho com maior valor agregado, como o milho doce e o milho para pipoca.

Frutas

A abertura do mercado chinês para a uva brasileira é um marco importante. Outras frutas, como melão, manga e limão, também têm potencial para conquistar espaço.

O desafio é garantir a qualidade, o cumprimento dos protocolos fitossanitários e a logística de transporte adequada para manter a qualidade das frutas durante o longo trajeto até a China.

Produtos florestais

A China é o maior importador mundial de produtos florestais, como celulose e papel. Por sua vez, o Brasil, com sua vasta área florestal, tem grande potencial para aumentar as exportações.

A sustentabilidade da produção, com manejo florestal responsável e certificação ambiental, é fundamental para atender às demandas do mercado chinês e garantir a preservação das florestas brasileiras.

Algodão

A China é o maior consumidor mundial de algodão, e o Brasil é um dos principais produtores. Logo, os acordos podem fortalecer a parceria entre os dois países nesse setor, com aumento das exportações de algodão brasileiro.

A produção de algodão sustentável, com uso racional de água e defensivos agrícolas, é um diferencial competitivo no mercado chinês.

Café

O mercado consumidor de café na China está em expansão, e há potencial para aumentar as importações nos próximos anos. Nesse sentido, a maior entrada no mercado chinês pode contribuir para a diversificação da pauta exportadora do café brasileiro, reduzindo a dependência de mercados tradicionais, como Estados Unidos e Europa. 

Um dos desafios é a concorrência com outros países produtores de café, como Vietnã e Colômbia, que exige atenção à qualidade e ao preço do café brasileiro. A promoção da cultura do café brasileiro e o desenvolvimento de produtos inovadores são essenciais para conquistar o consumidor chinês. 

Por outro lado, o Brasil pode oferecer cafés especiais e de alta qualidade, com certificações de origem e sustentabilidade, para agregar valor ao produto e conquistar nichos de mercado na China. Além disso, a cooperação em pesquisa e tecnologia pode contribuir para o desenvolvimento de novas variedades de café mais resistentes a pragas e doenças e com maior produtividade.

Açúcar

O Brasil é o maior produtor mundial de açúcar, e a China é um importante importador. Os acordos podem fortalecer a parceria entre os dois países nesse setor, com aumento das exportações de açúcar brasileiro.

A produção de açúcar sustentável, com práticas agrícolas que preservem o meio ambiente e garantam a responsabilidade social, é um diferencial competitivo no mercado chinês.

Análise macro dos impactos

Diante dos desafios e oportunidades que envolvem o acordo Brasil e China, destacamos:

Aumento das exportações

Projeções do Ministério da Agricultura indicam crescimento de até 20% nas exportações do agronegócio para a China nos próximos cinco anos.

Diversificação da pauta exportadora

A entrada de novos produtos no mercado chinês reduz a dependência de produtos como soja e carne, tornando o agronegócio brasileiro mais resiliente a flutuações do mercado internacional.

Modernização do setor

A cooperação em pesquisa e desenvolvimento tecnológico acelera a modernização do agronegócio, com foco em agricultura de precisão, biotecnologia e sustentabilidade.

Geração de emprego e renda

O aumento das exportações e o crescimento do setor geram novas oportunidades de emprego e renda no campo, impulsionando o desenvolvimento econômico e social das regiões produtoras.

Desenvolvimento regional

Os investimentos em infraestrutura logística e a diversificação da produção agrícola contribuem para o desenvolvimento regional, com a geração de emprego e renda em diferentes regiões do país.

Segurança alimentar

O Brasil, como um dos principais produtores de alimentos do mundo, contribui para a segurança alimentar global, fornecendo alimentos para a crescente população mundial.

Considerações finais

O acordo entre Brasil e China representam um passo crucial para o aprofundamento da parceria estratégica entre os dois países e abrem um leque de oportunidades para o agronegócio brasileiro. No entanto, é preciso estar atento aos desafios e garantir que o crescimento do setor seja sustentável e beneficie toda a sociedade.

Desafios e Pontos de Atenção:

– Dependência do mercado chinês: É crucial que o Brasil continue buscando novos mercados e diversificando sua pauta exportadora para evitar a dependência excessiva de um único mercado consumidor.

– Sustentabilidade: A crescente demanda chinesa por alimentos pode pressionar os recursos naturais e gerar impactos socioambientais negativos. É fundamental que o Brasil continue investindo em práticas agrícolas sustentáveis e na preservação da biodiversidade, garantindo que o crescimento do setor seja responsável e compatível com a preservação do meio ambiente.

– Competitividade: O Brasil precisa continuar investindo em inovação, tecnologia e qualificação da mão de obra para manter a competitividade do seu agronegócio no mercado internacional.

– Logística: A melhoria da infraestrutura logística é crucial para reduzir os custos de transporte e garantir a eficiência do escoamento da produção agrícola.

– Segurança jurídica e política: A estabilidade política e jurídica do Brasil é fundamental para atrair investimentos e garantir a confiança dos parceiros comerciais.

O Brasil tem o potencial para se consolidar como potência agrícola global, aproveitando o momento para investir em inovação, sustentabilidade e qualificação da mão de obra. 

Até breve!

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