Um dos princípios básicos e mais conhecidos do mundo dos investimentos é a importância de diversificar a carteira, para aumentar as possibilidades de ganho e, ao mesmo tempo, mitigar o risco dos ativos. Porém, há quem confunda os conceitos de diversificação e pulverização, e isso pode não só colocar em risco a eficiência da estratégia como provocar perdas, dependendo das escolhas feitas.
Neste conteúdo, mostraremos as diferenças entre diversificar e pulverizar os investimentos e algumas dicas para selecionar corretamente os ativos. Aqui, já vai um spoiler: ao contrário do que algumas pessoas pensam, diversificar não é simplesmente sair comprando papéis diferentes, pois isso pode ser perigoso para a carteira. Continue a leitura e confira!
O que é diversificação dos investimentos?
Antes de mais nada, é importante conhecer os tipos de riscos aos quais os investimentos estão sujeitos. Para simplificar, podemos classificá-los em duas categorias: riscos diversificáveis e riscos não diversificáveis.
Os riscos diversificáveis são aqueles relacionados ao ativo em si e ao seu setor de atuação. No caso de um CDB, por exemplo, o risco diversificável tem a ver com a saúde financeira e solidez do banco. No investimento em ações, podemos conhecer esse risco avaliando indicadores financeiros das empresas, e tanto o CDB quanto as ações são impactados por indicadores macroeconômicos, como taxa de juros, inflação, PIB, e assim por diante.
Perceba que o risco diversificável tem a ver com as chances de um calote por parte do emissor do título. Por isso, também é comum nos referirmos a ele como risco de crédito.
Já o risco não diversificável – também chamado de risco de mercado ou sistêmico – é aquele que afeta o desempenho de todos os ativos, e não de uma categoria ou setor específico. Crises econômicas, políticas e guerras são exemplos de eventos que abalam o mercado.
Na prática, a diversificação atua sobre o risco de crédito, pois busca distribuir os recursos entre ativos que possuem correlação negativa ou que sejam descorrelacionados. Isso significa escolher títulos que se movimentem de maneira diferente quando sofrem os efeitos de determinado evento. Dessa forma, se um deles se desvaloriza, a perda pode ser mitigada pela evolução positiva do outro.
Exemplo
Um dos exemplos clássicos de correlação negativa é a renda fixa conservadora e os investimentos na bolsa. Em tempos de Selic baixa, a renda variável se torna mais atrativa, pois o investidor percebe que precisa arriscar mais para obter ganhos maiores. Por outro lado, quando os juros sobem, o apetite para o risco diminui, o que provoca uma migração natural de recursos para o Tesouro Direto e para títulos bancários como CDBs, LCIs e LCAs.
O que é pulverização de investimentos?
A pulverização ocorre quando o investidor escolhe diferentes ativos sem levar em conta a correlação entre eles ou a sua relevância na carteira.
É como se, por exemplo, alguém adquirisse somente CDBs de bancos diferentes, ou ações de empresas que atuam no mesmo setor. Em ambos os casos, uma crise que afetasse os bancos ou o setor das empresas faria com que os ganhos desabassem, não importando a quantidade de emissores que o investidor colocou na carteira.
Ao investir em muitos títulos diferentes, o investidor até pode ter a ilusão de que o seu portfólio está diversificado. Mas se a quantidade de ativos é muito grande e eles possuem a mesma tendência, as chances de que ocorram perdas são grandes, pois o risco não fica equilibrado.
Dicas para diversificar a carteira de forma equilibrada
O primeiro passo para uma boa diversificação é evitar a pulverização dos investimentos. Além de ser arriscada, ela faz com que os ganhos também sejam menores, pois quando há muitos títulos na carteira, pode ocorrer de a valorização de um ou outro ficar diluída no todo.
Entendida a diferença entre diversificação e pulverização, outras ações importantes para diversificar de forma correta são as seguintes:
Acompanhar o cenário econômico
Monitorar o que acontece na economia é importante para que se possa escolher os ativos mais interessantes para determinados momentos.
Retomando o exemplo da Selic que vimos anteriormente, períodos de juros em alta favorecem os títulos pós-fixados, pois os seus rendimentos acompanham a trajetória da taxa básica de juros. Já na situação contrária, quando há expectativa de queda dos juros, os prefixados são uma forma de garantir uma remuneração mais alta.
Outro exemplo são os efeitos da inflação sobre os investimentos. Para proteger o patrimônio da desvalorização mediante a alta dos preços, os ativos atrelados a índices inflacionários (como IPCA e IGP-M) são boas alternativas.
Diversificar na renda fixa
Quem tem mais tolerância ao risco, pode encontrar opções na renda fixa mais arrojadas e com maior potencial de ganhos. Nesse caso, estamos falando nos títulos de crédito privado – como debêntures, CRIs e CRAs – que não possuem a proteção do FGC e, por isso, costumam oferecer rendimentos acima da renda fixa bancária.
Investir de acordo com os diferentes tipos de reservas financeiras
Para cada necessidade ou projeto, existe um tipo de reserva financeira mais adequado. Mesmo que o patrimônio seja um só, quando separamos as aplicações por prioridades e objetivos, a estratégia de investimentos se torna mais eficiente.
Por exemplo, para a reserva de emergência, segurança e liquidez são os principais atributos. Já para as reservas de médio e longo prazo, o investidor pode assumir mais riscos e prazos mais estendidos, pois não precisará do dinheiro no curto prazo.
No link abaixo, saiba mais sobre os diferentes tipos de reservas financeiras e como investir em cada caso:
Pensar na diversificação internacional
Quem tem perfil para assumir mais riscos, deve pensar em diversificar os investimentos também em outras moedas. ao investirmos em ativos ligados a alguma moeda forte, como dólar ou euro, conseguimos atenuar o risco-país da carteira. Dessa forma, os percalços da economia nacional causam menos impacto no patrimônio, o que traz mais segurança para o investidor, principalmente no longo prazo.
E não é preciso abrir conta lá fora para ter acesso a investimentos que acompanham o mercado internacional. Nesse sentido, algumas alternativas que temos por aqui são os fundos cambiais, ETFs internacionais e BDRs. Embora acompanhem o desempenho de moedas estrangeiras, esses ativos são negociados em reais, e se sujeitam à legislação brasileira. Além disso, há opções que exigem baixos aportes mínimos iniciais, tornando o acesso ao mercado internacional mais acessível ao pequeno investidor.
Rebalancear a carteira
Por fim, é muito importante rebalancear a carteira de tempos em tempos, para garantir que a diversificação se mantenha em linha com a estratégia de investimento. Ao revisarmos periodicamente os investimentos, conseguimos enxergar se eles estão trazendo os resultados esperados, ou se devemos substituí-los ou mexer na proporção de um ou outro na carteira.
Outro aspecto do rebalanceamento é conseguir identificar boas oportunidades no mercado. Além disso, quando olhamos com certa frequência para a carteira, entendemos melhor os movimentos da economia. Dessa forma, as chances de entrarmos ou sairmos de determinado ativo em um momento ruim acabam sendo bem menores.