Seja para quem investe em ações ou para quem atua na gestão financeira, a dívida líquida é um importante indicador financeiro na análise de uma empresa.
Como o próprio nome diz, ela representa o somatório de todo o contas a pagar da organização deduzido de suas disponibilidades de caixa. Dessa forma, o indicador mostra se o que a empresa tem em caixa é suficiente para liquidar as suas dívidas em um determinado momento.
Como calcular a dívida líquida
Para calcular esse indicador, utilizamos a seguinte fórmula:
Dívida líquida = endividamento total – disponibilidade de caixa
Para obter o endividamento total, basta somar todos os compromissos financeiros da empresa. Por exemplo, empréstimos, financiamentos, fornecedores, impostos, salários a pagar, e assim por diante. Por sua vez, a disponibilidade de caixa representa o que a organização tem em conta corrente e também em aplicações de alta liquidez, como CDBs ou Tesouro Selic.
A importância desse indicador para a análise financeira da empresa
De forma geral, um endividamento baixo é sinônimo de boa saúde financeira da empresa. Na linguagem do mercado, dizemos que, nessa situação, a organização possui “baixa dependência de recursos de terceiros”. Ou seja, ela gera caixa suficiente para bancar toda a sua operação, ou boa parte dela. Dessa forma, não precisa recorrer a bancos ou a outros tipos de financiamento para desempenhar as suas atividades.
No entanto, é importante saber que o endividamento da empresa nem sempre é algo negativo. Ao contrário, muitas vezes ela precisa aumentar ou modernizar a sua produção para melhorar ou manter a sua competitividade. Para isso, necessitará de recursos, e nem sempre os sócios terão dinheiro suficiente para apoiar esses projetos.
Nesse caso, existem diferentes formas de captar esses recursos. Por exemplo, se a empresa for uma S/A, poderá fazer isso por meio de um IPO ou follow-on na bolsa. Ou poderá também recorrer a um financiamento junto a bancos ou fornecedores, se for mais vantajoso ou se ela não tiver condições de abrir o capital ou emitir novas ações. De qualquer forma, o importante é que o endividamento da empresa esteja bem equalizado no tempo e que ela gere caixa suficiente para pagá-lo sem comprometer o seu resultado. Caso contrário, os encargos financeiros poderão acabar afetando negativamente o seu lucro.
Endividamento da empresa x retorno ao acionista
Em relação à dívida líquida, é importante analisar também se o endividamento da empresa pode contribuir com a geração de valor para o negócio. Nesse sentido, para que a estratégia financeira seja eficiente, o ideal é que o lucro gerado para o acionista seja superior aos encargos da dívida. Em outras palavras, as dívidas que a empresa contraiu geraram resultados suficientes para incrementar o negócio e remunerar os investidores.
Por outro lado, se a empresa aumenta suas dívidas e isso não gera resultado suficiente para cobrir os custos financeiros, há uma perda de valor para o investidor. Isso porque, como vimos, encargos financeiros maiores reduzem o lucro líquido do exercício.
quando a companhia se endivida e o resultado gerado não cobre os custos do endividamento, há uma perda de valor para o acionista. Em casos mais graves, essa situação poderá comprometer o lucro líquido da empresa, em função do aumento dos encargos financeiros.
Outros indicadores de endividamento
A dívida líquida também serve como base para o cálculo de outros índices de endividamento de empresas. A seguir, conheça dois dos mais utilizados pela análise fundamentalista:
Dívida Líquida / EBITDA
A Dívida Líquida / EBITDA é um dos indicadores de endividamento mais utilizados por investidores de ações. Para entendê-lo, é preciso antes conhecer o conceito de EBITDA.
A sigla vem de earnings before taxes, interests, depreciation and amortization. Ou, na tradução do inglês, lucro antes dos impostos, juros, depreciação e amortização. De forma simplificada, o EBITDA mostra o caixa que a empresa gera somente com a sua operação, ou seja, antes da dedução dos juros, impostos, depreciações e amortizações.
Esse indicador demonstra em quanto tempo a empresa conseguiria pagar a sua dívida líquida considerando somente a própria geração de caixa. Nesse sentido, sua interpretação é feita em vezes. Ou seja, se a Dívida Líquida / EBITDA de uma empresa é igual a 2, isso significa que ela precisa multiplicar por 2 a geração de caixa atual para pagar as suas dívidas totais.
Usualmente, o mercado considera positivo quando esse índice não passa de 2 vezes. Nesse caso, a relação entre a geração de caixa operacional e o endividamento está adequada. Dessa forma, segundo analistas, a saúde financeira da empresa é considerada boa.
Por outro lado, um número elevado significa que o tempo que a empresa levará para paras sua dívida com a própria geração de caixa será maior. Para os investidores, um prazo maior pode ser algum indício de má gestão financeira, o que pode vir a comprometer os resultados da empresa no futuro.
Dívida Líquida / Patrimônio Líquido
Outra forma de medir o endividamento de uma empresa é por meio da relação entre dívida líquida e Patrimônio Líquido (PL). Nesse sentido, o PL representa a diferença entre Ativo (bens + direitos) e o Passivo (obrigações) da organização, e essas informações estão no Balanço Patrimonial:
Patrimônio Líquido = Ativo – Passivo
Ou seja, o Patrimônio Líquido corresponde ao capital próprio da organização.
Em relação ao indicador, quanto menor ele for, menos endividada estará a empresa. Dessa forma, mais saudáveis serão suas finanças, e esse é um importante atrativo para os investidores. Lembrando que, como dito anteriormente, o endividamento por si só não é necessariamente algo ruim. Nesse sentido, o importante é avaliar os projetos da empresa e as perspectivas para o negócio.
Além disso, é importante considerar também o setor de atuação, pois diferentes atividades demandam volumes distintos de investimentos. Por exemplo, uma empresa que atua na geração de energia costuma ter elevadas dívidas em relação ao PL. Isso porque os projetos desse segmento exigem aportes elevados de recursos. Porém, se a organização estiver gerando bons resultados e se as dívidas estiverem bem distribuídas no tempo com um custo financeiro razoável, isso não será um problema para os resultados da operação.
Por fim, alertamos para a importância de não basear uma análise financeira em somente um ou poucos indicadores. Isso porque, quanto mais indicadores você utilizar, mais aspectos conseguirá avaliar de uma empresa, como pagamento de dividendos, preço justo das ações, e assim por diante.