Na hora de escolher um investimento, um dos aspectos mais importantes a considerar é a sua relação entre risco e retorno. Existem alguns indicadores que podem ajudar nessa análise, e um dos mais utilizados no mercado financeiro é o índice de Sharpe.
Esse indicador costuma ser utilizado com mais frequência para avaliar fundos de investimentos, mas pode ser aplicado a qualquer ativo. A seguir, entenda como ele funciona e como pode ajudar na tomada de decisões sobre a carteira.
O que é o índice de Sharpe?
O índice de Sharpe, criado pelo matemático e estatístico americano William Sharpe, é um indicador que mostra a relação entre retorno potencial e risco de um investimento. Para isso, ele apura o retorno de um ativo e a sua volatilidade em determinado período e compara esse resultado a uma taxa livre de risco.
Por sua vez, a taxa livre de risco é aquela que remunera o investimento considerado o mais seguro do mercado. Na prática, sabemos que nenhum investimento é totalmente isento de risco, mas as chances de o Tesouro Direto dar um calote nos investidores são muito menores em comparação a qualquer outro emissor. Por isso, no Brasil, as referências de taxa livre de risco são a Selic (que remunera o Tesouro Selic) e o CDI, que possui valor muito próximo à taxa básica de juros.
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Como utilizar o índice de Sharpe?
Avaliar somente a rentabilidade de dois investimentos não é o suficiente para dizer qual deles é o melhor, pois também é preciso considerar o risco de cada um. Foi justamente nisso que William Sharpe criou o índice em 1966, o que lhe rendeu o Prêmio Nobel de Economia anos depois, em 1990.
Em outras palavras, o índice Sharpe mostra até onde vale a pena assumir riscos em troca de determinado retorno. Afinal, se um investimento oferecer um alto rendimento, mas o risco também for elevado, pode ser mais interessante optar por outro menos rentável e mais seguro. Essa relação é demonstrada na fórmula que veremos a seguir.
Cálculo do índice
Para obter o índice, devemos aplicar a seguinte fórmula:
Índice de Sharpe = (taxa de retorno do investimento – taxa livre de risco) / volatilidade
Você também encontrará a fórmula de Sharpe com a seguinte representação:
IS = (Ri – Rf) / σi
A letra sigma (σ) representa a volatilidade do ativo – ou desvio padrão.
Não existe um valor mínimo ou ideal para o índice de Sharpe, pois a sua análise sempre será relativa, considerando a comparação entre dois ou mais investimentos. De forma geral, quanto maior for o valor resultante da equação, melhor tende a ser o retorno que o ativo pode trazer em relação ao risco que o investidor assumiu.
Em determinadas situações, um índice próximo a 1 já é o suficiente para que um investimento possa ser considerado interessante. Porém, dependendo do cenário, da tolerância ao risco e de outros fatores, o valor deve ser mais elevado.
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Exemplo de utilização do índice de Sharpe
Imagine que você esteja analisando os ativos “X” e “Y” para decidir em qual investir. O ativo “X” oferece um retorno médio de 12% ao ano e a sua volatilidade é de 5%. Já o ativo “Y” possui uma taxa de retorno de 17% e volatilidade de 10%.
No momento em que você faz essa análise, a taxa Selic (livre de risco) está em 10%. Com isso, já podemos calcular o índice para cada um dos ativos:
IS ativo “X” = (14 – 10) / 5 = 0,8
Segundo o índice, cada 1 ponto de risco que você correr com o ativo X lhe renderá 0,4 ponto acima do retorno que receberia em uma aplicação livre de risco.
Agora vejamos o cálculo para o ativo “Y”:
IS ativo “Y” = (17 – 10) / 10 = 0,7
Perceba que, embora a taxa de retorno do ativo “Y” seja maior do que a de “X”, a sua relação entre risco e retorno é pior. Ou seja, para obter mais rentabilidade, o investidor também corre mais risco, o que torna o ativo “X” mais interessante pelos critérios de Sharpe.
Quando o índice é muito baixo ou próximo a zero, estamos diante de um ativo cuja remuneração se aproxima da taxa Selic. Nesse caso, que vantagem existe em fazer o investimento e correr risco ao invés de optar pelo Tesouro Selic ou por um CDB que paga 100% do CDI, por exemplo?
Comparação entre fundos de investimento
Como vimos, o índice de Sharpe pode ser utilizado na avaliação de qualquer tipo de ativo. Porém, ele é especialmente útil nos fundos de investimentos, especialmente quando o patrimônio é bem diversificado – como nos fundos multimercados e nos fundos de ações, por exemplo.
Nesse sentido, é comum encontrarmos fundos com taxas de retorno semelhantes, mas com diferentes graus de volatilidade. Se dois fundos entregam um retorno médio de 15% ao ano, mas um deles tem desvio padrão de 6% e o outro, de 10%, podemos concluir que o primeiro é mais confortável para o investidor, pois as suas oscilações foram menores.
É sempre importante lembrar que, no universo da renda variável, a rentabilidade passada não garante ganhos futuros. Mas utilizar indicadores de volatilidade, como o índice de Sharpe e outros, auxiliam no gerenciamento do risco e na escolha de ativos mais adequados a cada perfil de investidor.