A partir de 2023, as empresas listadas na bolsa terão novas regras relacionadas à inclusão e diversidade nos cargos de alta liderança. A exigência é da própria B3, e atende a um dos requisitos dos investimentos sustentáveis, conhecidos no mercado pela sigla ESG.
De acordo com a B3, das mais de 400 empresas listadas, 60% não possui nenhuma mulher na diretoria estatutária. Para equilibrar a participação da mulheres e minorias nas companhias, a proposta da B3 inclui a eleição de, ao menos, uma mulher e um representante de minorias no conselho ou diretoria estatutária. Além disso, o projeto visa incluir indicadores de desempenho relacionados a temas ESG na remuneração variável dos administradores.
Conhecido como “pratique ou explique”, o mecanismo proposto pela B3 já é utilizado de forma semelhante em vários outros países. Por aqui, as empresas que não adotarem essas práticas até o prazo determinado (2025 e 2026) precisarão dar explicação aos investidores e ao mercado.
Esse movimento mundial mostra a força cada vez maior que a sustentabilidade tem alcançado no mundo inteiro. E, com os investimentos, isso não poderia ser diferente. Ou seja, investir em boas empresas vai além de bons indicadores fundamentalistas e perspectivas de mercado.
Para saber mais sobre o que são os investimentos sustentáveis, continue a leitura a seguir.
- Green bonds: o que são os “títulos verdes” do mercado financeiro?
- ISE: conheça o índice de sustentabilidade empresarial
O que são investimentos sustentáveis?
Os investimentos sustentáveis também são conhecidos no mercado pela sigla em inglês ESG, cujas iniciais significam Environmental (ambiental), Social (social) and Governance (governança). Como o nome diz, esses investimentos selecionam ações de empresas que seguem critérios ambientais, sociais e de governança. Nesse sentido, o objetivo é incentivar o mercado a procurar por companhias ambientalmente e socialmente responsáveis e que se comprometem com mudanças positivas junto à sociedade.
Quais critérios são considerados no ESG?
No Brasil, também nos referimos a esses investimentos como ASG, cujos critérios representados por cada uma das palavras são os seguintes:
Critérios ambientais
Tratam das práticas da empresa em relação à utilização de recursos naturais quando desempenha as suas atividades. Nesse sentido, os critérios ambientais consideram a emissão de gases poluentes, a forma de utilização de água e energia, o descarte do lixo, a gestão de resíduos, o cuidado com o desmatamento, e assim por diante.
Critérios sociais
Por sua vez, os critérios sociais se relacionam à responsabilidade social da empresa. Ou seja, como a companhia lida com funcionários, clientes, fornecedores e todos que, de alguma forma, participam de seu ecossistema.
Olhando para dentro da empresa, esses critérios consideram o bem-estar profissional, respeito aos direitos humanos e às leis trabalhistas, diversidade de gênero, raça, credo (etc), segurança no trabalho, remuneração adequada, entre outros. Já sob a ótica externa, a preocupação com a experiência dos clientes, o engajamento com causas sociais e beneficentes e o aprimoramento das relações com a sociedades são alguns dos aspectos mais importantes.
Critérios de governança
Por fim, os critérios de governança dizem respeito às políticas, estratégias, processos e tudo o que se refere à administração da empresa. Por exemplo, qualificação da gestão, ética, transparência das informações perante investidores e sociedade fazem parte desse tópico.
Além disso, complementam esses critérios as ações da empresa quanto a práticas anticorrupção, canais de denúncias sobre assédio e discriminação, e tudo mais que possa impactar a sua imagem e o seu relacionamento com a sociedade de forma geral. Nesse sentido, os critérios de governança são os que orientam e fiscalizam as práticas sustentáveis. Por isso, estão intimamente ligados aos dois anteriores (social e ambiental).
Por que o ESG é tão valorizado no mercado?
Há tempos, as pessoas no mundo inteiro têm adotado práticas sustentáveis de forma mais efetiva em todos os aspectos da vida. Nesse sentido, essas práticas não se restringem à economia de água, ou à reciclagem de lixo, por exemplo. Apesar de essas serem preocupações muito importantes, a sustentabilidade abrange aspectos bem mais amplos e que impactam a vida em todo o planeta.
Para atender a consumidores cada vez mais exigentes e engajados com ESG, as empresas também passaram a dar mais atenção a essas práticas. Dessa forma, melhoram a sua imagem e se tornam fortes candidatas aos investimentos sustentáveis, os quais vêm aumentado sua participação no mercado financeiro.
Prova disso foi um levantamento feito pela Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) no primeiro semestre de 2022 a pedido do Prática ESG. Segundo o relatório, o número de fundos de ações que se enquadram como investimentos sustentáveis (considerando os três critérios) aumentaram 74% de 2008 a março de 2022. Nesse sentido, o patrimônio total desses fundos passou de R$1,03 bilhão para R$ 2,01 bilhões no período de referência.
Mas não é só por conta da boa imagem trazida pelo ESG que as empresas podem se beneficiar. Isso porque as práticas de sustentabilidade se refletem positivamente também na atividade operacional. Por exemplo, uma empresa que respeita leis trabalhistas e tem processos rígidos quanto a tratamento de água, descarte de lixo e preservação ambiental estará bem menos suscetível a eventuais processos judiciais. Dessa forma, as chances de que venha a ter prejuízos por multas ou indenizações são pouco prováveis. Isso acaba se refletindo na redução de custos e, consequentemente, nas boas perspectivas de resultados no futuro, o que dá mais confiança a quem busca investimentos sustentáveis.
Índices ESG da bolsa de valores
Se você acompanha o mercado acionário, certamente já ouviu falar sobre o Ibovespa, o principal índice de ações da bolsa brasileira. O Ibovespa é o principal termômetro da bolsa, pois reflete o desempenho médio das maiores companhias listadas.
Para quem deseja acompanhar os investimentos sustentáveis, também existem índices específicos. A seguir, conheça alguns dos principais:
ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial)
O ISE é o mais antigos dos índices de sustentabilidade da bolsa brasileira. Criado em 2005, ele contempla as empresas reconhecidas por suas ações relativas à responsabilidade social e sustentabilidade empresarial.
Para que possa fazer parte do ISE, as ações da empresa precisam estar entre as 200 mais líquidas no pregão da B3. Além disso, a companhia precisa responder a um questionário feito pela FGV (Fundação Getúlio Vargas) que aborda dimensões de sustentabilidade ambiental, social, governança corporativa, econômico-financeira, entre outras.
Atualmente, cerca de 40 empresas fazem parte do ISE. Todo ano ocorre a revisão do índice, entre o final de novembro e início de dezembro.
ICO2 (Índice de Carbono Eficiente)
O ICO2 foi criado devido à preocupação cada vez maior com o aquecimento global. Nesse sentido, o índice considera basicamente a transparência das companhias no que diz respeito às emissões de gases de efeito estufa. Ou seja, o ICO2 tem como objetivo fazer com que as empresas cuidem de suas políticas de emissões e as torne públicas. Para participar do índice, um dos critérios é o total de ações em circulação (free float) das empresas que cumprem os critérios ESG.
IGC (Índice de Ações com Governança Corporativa Diferenciada)
O IGC reflete o desempenho médio da empresas listadas na B3 que, teoricamente, possuem as melhores práticas de governança corporativa.
Como vimos, as boas práticas de governança englobam tudo o que se relaciona aos sócios, diretores e demais aspectos ligados à administração da empresa. Nesse sentido, todas as companhias que compõem o IGC fazem parte do Novo Mercado da B3, segmento que abarca as melhores práticas de governança da bolsa.
Como investir em ESG?
Há diferentes formas de escolher investimentos sustentáveis. Por exemplo, você pode investir diretamente em ações de empresas que seguem os princípios ESG. Ou, se você deseja algo mais simples e com mais diversificação, há fundos de ações e multimercados que também possuem ações dessas empresas no patrimônio.
Outra opção também são os ETFs (Exchange Traded Funds), que são fundos de gestão passiva cujas cotas são negociadas na bolsa. Os ETFs também proporcionam uma boa diversificação, e normalmente as cotas são bastante acessíveis.
Lembrando que, para qualquer uma das alternativas, é necessário que você tenha o perfil adequado para investir em renda variável, certo?