Além da performance das empresas e do cenário econômico, existem eventos do mercado de capitais que também mexem com os preços das ações e, consequentemente, afetam a vida do investidor. Entre eles, estão IPO, OPA, follow-on e outros que veremos a seguir.
Entender o que são e quais os efeitos desses eventos é importante para quem deseja construir uma carteira de longo prazo, pois traz um novo olhar sobre as perspectivas de uma empresa. Continue a leitura e saiba mais a respeito.
Como os eventos no mercado de capitais mexem com os investimentos?
A seguir, listamos os principais eventos do mercado acionário, e explicamos quais efeitos eles podem trazer para os investidores.
IPO
Uma das formas que uma empresa tem de captar recursos no mercado de capitais é por meio de uma oferta pública de ações. O IPO – sigla para Initial Public Offering (ou “oferta pública inicial”) marca a estreia da empresa na bolsa de valores, como o próprio nome sugere.
Depois de cumprir diversos requisitos exigidos por entidades regulatórias brasileiras, as empresas podem, finalmente, oferecer suas ações ao público. Essa oferta pode ser primária, quando se trata de ações novas emitidas, ou secundária, quando ela coloca à venda ações que já estavam nas mãos dos sócios.
Efeitos do IPO para o investidor
De forma geral, os IPOs são eventos muito esperados pelo mercado e, por isso, costumam causar certa euforia. Por parte das empresas, é a primeira vez que se mostram ao grande público; já os investidores estão em busca de novas alternativas de ganhos.
Porém, tudo pode acontecer com as ações logo que uma empresa abre o capital. Dependendo do sucesso do IPO, os títulos podem se valorizar muito nos dias que seguem, ou mesmo cair assim que passa a euforia inicial do mercado. No último caso, isso pode assustar inicialmente o investidor, mas, segundo especialistas, esse é um movimento que acontece com certa frequência. E faz sentido, pois as ações podem estar sobrevalorizadas quando a empresa está sob holofotes, o que não significa, necessariamente, que o valor não seja justo. O recuo pode ser somente um ajuste temporário, até que o mercado absorva as negociações dali para frente.
Portanto, o investidor precisará de tempo para sentir os efeitos de um IPO. Se os fundamentos da empresa forem sólidos e o mercado contribuir para uma boa performance, a tendência é de que os títulos se valorizem no longo prazo.
Follow-on
O follow-on também é uma fonte de captação da empresa no mercado acionário. Em relação ao IPO, a diferença é que ele é um evento que ocorre depois da abertura de capital, ou seja, uma oferta subsequente de ações, pois a empresa já passou pelo processo de oferta pública inicial.
Assim como no IPO, a oferta no follow-on pode ser primária (mediante a emissão de novas ações) ou secundária (títulos já existentes vendidos para novos investidores). Mas a oferta subsequente possui uma peculiaridade no que diz respeito ao público para o qual serão oferecidas as ações. Quando a oferta é pública, qualquer pessoa pode adquirir os títulos. Nesse caso, a empresa precisa respeitar o mesmo trâmite legal do IPO, determinado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Já na oferta restrita, somente investidores profissionais e qualificados podem participar da compra das ações, e ela é limitada a 50 investidores. Por alcançar um público de investidores mais sofisticados, esse tipo de oferta é mais simples e bem menos burocrática do que a pública.
Efeitos do Follow-on para o investidor
Teoricamente, em uma oferta subsequente, os títulos não costumam apresentar a mesma volatilidade de uma pós-abertura de capital, pois a empresa já é conhecida do mercado. Mas, assim como em um IPO, vale a pena entender se a oferta é primária ou secundária.
No caso de uma oferta primária, com mais recursos em caixa, a empresa poderá investir mais na operação, e isso é sempre bom para o negócio. Já na oferta secundária, como vimos, as ações somente mudam de mãos, ou seja, o dinheiro do novo investidor vai para um sócio que está se retirando do negócio. Isso pode acontecer por simples decisão de retirada da sociedade, ou por existir algum conflito na gestão.
Normalmente, o mercado vê com cautela as ofertas secundárias, mas isso não significa, necessariamente, que elas sejam indicativos de problemas. De qualquer forma, cabe investigar os motivos que levaram a empresa a recorrer a esse tipo de oferta.
Direito de subscrição
Quando uma empresa que já abriu o capital decide fazer um follow-on primário (emitir novas ações), essa nova captação de recursos se chama subscrição de ações. Nesse caso, a lei determina que os atuais acionistas tenham o direito de subscrição dessas novas ações, ou seja, a preferência na hora da aquisição dos títulos que serão lançados no mercado.
Efeitos do direito de subscrição para o investidor
O direito de subscrição dá a oportunidade ao acionista de manter a mesma proporção de participação na empresa. No caso das ações ordinárias, isso é importante para quem deseja garantir a influência nas decisões da companhia. Quanto às ações preferenciais, o direito de subscrição evita que a parte na distribuição de dividendos seja diluída por causa da entrada de novos sócios.
Fica ao critério do acionista exercer ou não o direito de subscrição, inclusive existem situações que podem ser mais ou menos vantajosas para se fazer isso. Se os fundamentos da empresa continuam bons, e o investidor pensa em ficar com o ativo no longo prazo, pode ser um bom momento para exercê-lo. O contrário acontece se os indicadores financeiros pioraram e o momento econômico não justifica o investimento. Outro aspecto a considerar é avaliar se, ao adquirir mais ações da empresa, a carteira não ficará concentrada.
Se optar por não exercer o direito de subscrição, o investidor pode vendê-lo a algum interessado em adquirir as ações. essa negociação é feita no mercado secundário, por meio da sua plataforma de investimento.
OPA
OPA é a sigla para “oferta pública de aquisição”, processo inverso à abertura de capital na bolsa. Nesse caso, os acionistas majoritários (ou um grupo controlador) adquirem os títulos que estão em poder dos minoritários, e suas ações deixam de ser negociadas no pregão.
A princípio, esse movimento pode parecer estranho, pois uma empresa trabalha muito para deixar tudo em ordem até que consiga chegar ao IPO. Mas diversas razões podem levar as empresas a fechar o capital, e, normalmente, elas estão relacionadas à estratégia do negócio.
Por exemplo, pode ser que o preço das ações esteja abaixo do que os controladores consideram justo, e isso pode motivá-los a fazer uma OPA. Outra situação é quando a gestão vislumbra um horizonte favorável para o negócio, a ponto de ser vantajoso readquirir o controle ou parte dele.
Efeitos da OPA para o investidor
Se, para a empresa, a OPA normalmente traz vantagens, o mesmo nem sempre acontece para o investidor. Como as ações deixam de ser negociadas na bolsa, a sua liquidez também acaba diminuindo consideravelmente. Isso significa que o investidor que permanecer com os títulos certamente terá mais dificuldade para negociá-los quando desejar.
Outro aspecto que merece atenção é quanto à transparência de informações e critérios de governança, muito mais presentes na vida das companhias de capital aberto. Quando as empresas têm ações negociadas na bolsa, precisam atender a diversas exigências relativas à contabilidade e informações periódicas ao mercado. No entanto, muitos desses critérios passam a não ser mais obrigatoriedade quando a companhia fecha o capital.
Isso não quer dizer que a OPA seja, necessariamente, ruim para o investidor. Mas, quando esse tipo de evento acontece, é bom monitorar, justamente para defender o patrimônio e os interesses como acionista.
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Desdobramento e grupamento de ações
O desdobramento (split) e o grupamento (inplit) de ações são eventos do mercado de capitais que alteram a quantidade de títulos em circulação. No caso do desdobramento, a empresa divide a quantidade total de ações sem alterar o seu valor de mercado. Em outras palavras, aumenta o número de ações em circulação e o valor de cada uma fica mais baixo.
Já no grupamento, o processo é exatamente o contrário: aqui, a companhia reúne algumas ações em uma só unidade, aumentando o valor individual de cada título. Normalmente isso ocorre quando os títulos estão valendo menos do que o considerado justo no mercado.
Não há uma regra fixa para determinar o valor a partir do qual se deve agrupar as ações. De forma geral, as empresas fazem o inplit para evitar que elas baixem de um real, o que acende um sinal amarelo no mercado. Isso porque, se uma ação fica abaixo desse valor por 30 dias seguidos, a companhia recebe uma notificação da B3 para que apresente um plano de reversão dessa situação. Se nada for feito e a ação continuar abaixo de um real, as negociações do título podem ser suspensas no pregão, e a companhia pode sofrer outras sanções.
Efeitos do desdobramento e grupamento de ações para o investidor
Quando ocorre o desdobramento de uma ação, a liquidez dos títulos aumenta, pois eles começam a circular em maior volume no mercado. Isso é positivo para o investidor, pois uma ação mais líquida tem chances de ser negociada mais facilmente na bolsa.
Outro efeito benéfico do split a a interpretação de que ele geralmente leva à valorização dos títulos tempos depois. Por isso, não é raro que aumente a procura por uma ação que sofreu um processo de desdobramento.
No caso do grupamento, a ação se torna menos volátil, pois o seu valor individual aumenta. Isso pode ser um atrativo para que novos investidores procurem o título, pois se sentem mais seguros em relação às oscilações dos preços. No entanto, é preciso entender por que a ação perdeu valor, e isso é possível analisando os fundamentos da empresa, o mercado e as perspectivas para o negócio.
Seja como for, é importante entender que nem o desdobramento nem o grupamento provocam a valorização ou a desvalorização da ação por si só. O que o investidor precisa fazer é acompanhar esses eventos e analisá-los junto com outros indicadores para acompanhar a performance das ações.
Recompra de ações
Eventualmente uma companhia pode recomprar as suas ações que estão em circulação no mercado. Normalmente, isso acontece quando ela deseja provocar a valorização dos títulos pois, ao retirarem uma quantidade de ações do pregão, o preço acaba subindo.
Outra razão para a recompra de ações pode ser para bonificar acionistas e funcionários. Isso porque muitas empresas possuem sistemas de stock options, que premiam colaboradores e sócios com os próprios títulos.
E a companhia tem a possibilidade de recomprar as ações para deixá-las em tesouraria, ou seja, sem cancelá-las. Se fizer isso, poderá revender futuramente os títulos, caso venha a precisar de um reforço de caixa.
E, caso a companhia não cancele os títulos recomprados, poderá revendê-los futuramente se precisar de um reforço de caixa.
Efeitos da recompra de ações para o investidor
O que pode acontecer (mas não obrigatoriamente) quando uma empresa recompra suas ações é uma queda momentânea nos dividendos distribuídos. Mas, se os fundamentos permanecerem sólidos, o investidor não tem por que se preocupar, pois a tendência é de que os seus proventos se recuperem mais adiante.
Inclusive, para proteger o investidor de eventuais problemas na liquidez dos títulos por causa da recompra, a CVM estabeleceu um limite de 10% de ações em tesouraria. Ou seja, salvo que existam problemas na empresa, esse não é um evento que cause impactos negativos para o mercado.