O Nubank comunicou o mercado que vai pedir para à B3 e à CVM a conversão de suas BDRs Nível 3 para BDR Nível 1. Com isso, a empresa efetivamente “fecha o capital” no Brasil e passa a ficar listada apenas na Bolsa de Nova York – o que, no comunicado da companhia, serve para “maximizar a eficiência” e “minimizar as redundâncias”. Na prática, o banco digital – que brevemente foi o mais valioso do Brasil – deixa de prestar contas para o investidor nacional.
Mas o que aconteceu para o Nubank fazer esse pedido? Certamente ele não apenas se cansou de prestar contas para os brasileiros, correto? A história é um pouco mais complexa. A diferença de um BDR Nível 3 para BDR Nível 1 se refere à quantidade de informações que são divulgadas. “Nesse nível, exige-se bem menos dessas empresas com relação à divulgação de informações relevantes para os investidores nesses mercados”, afirma Luís Novaes, analista de investimentos aqui na Terra Investimentos.
“É justamente isso que a empresa alega como a razão por trás da decisão, pois a mudança possibilitaria diminuir as despesas relacionados com essas divulgações, que hoje são obrigatórias considerando o nível 3 de BDRs”, completa o analista. Há rumores de que a diretoria do banco estavam insatisfeitos com uma série de fatores: da cobertura desfavorável por parte das casas de análises dos bancões ao fato de querer ser mais avaliada em linha com as principais fintechs do mundo (geralmente listadas no mercado americano).
Também apontava-se que as ambições do Nubank são globais: embora a empresa tenha nascido no Brasil, tem focado bastante na expansão internacional, com forte atuação na Colômbia e no México, onde a empresa é a maior emissora de cartão de crédito atualmente, o que colaborou para o forte desempenho nos últimos meses. Com a redução dos custos associados à manter uma estrutura de listagem dupla, diminui-se a burocracia, o que é bom para a empresa do roxinho. “Tendo em mente as despesas e complexidades menores, isso é positivo para a empresa”, salienta Luís.
Contudo, é relevante destacar que o investidor nacional pode se sentir abandonados pela empresa depois dessa decisão, já que as informações serão disponibilizadas apenas no padrão norte-americano. “Ainda existem muitos investidores no Brasil que dão preferência às informações de padrão local, assim esses investidores ficam, em parte, desamparados, já que precisarão buscar as informações que desejam nos padrões americanos”, destaca o analista. “Como a base de investidores está em sua maioria no exterior, a empresa decidiu pela mudança mesmo diante dessa questão”, lembra.
O investidor nacional terá algumas alternativas referente ao seu investimento: trocar os recibos atuais por ações negociadas nos EUA, trocar o atual BDR de nível 3 por um novo, de nível 1, ou realizar a venda dos ativos em processo facilitado. Quem ainda quiser se tornar investidor na empresa, poderá através dos BDRs nível 1, que devem assumir o ticker NUBR31, em sucessão ao NUBR33 que se refere ao nível 3.
É interessante notar que a decisão foi tomada antes do período de lock-up do “pedacinho”, uma ação recebida pelos clientes do Nubank, que demonstraram interesse, na época do IPO – um movimento de marketing para popularizar o investimento em ações no Brasil, chamado de NuSócios.
Embora a ideia tenha sido muito bem recebida, a execução possa ter tornado o “pedacinho” em uma oportunidade perdida – afinal, a queda das ações depois do IPO e o preço atrelado ao dólar (por ser um BDR) acabaram espantando alguns potenciais investidores. A dupla listagem serviu justamente para viabilizar o NuSócios, que teve 7,5 milhões de interessados, que habilitaram conta na corretora do Nubank para receberem esse um BDR. Não se sabe quantos deles se tornaram investidores efetivos em bolsa, mas o cancelamento do BDR Nível 1 indica que o programa não atingiu o resultado desejado.