A China, com seus 1,4 bilhão de habitantes e uma classe média em ascensão, é um gigante que dita o ritmo do mercado global de commodities agrícolas. O recém divulgado 15º Plano Quinquenal, com foco em “agricultura inteligente”, coloca o país em uma nova trajetória, com impactos diretos sobre o Brasil.
Mas como essa estratégia de modernização do setor agrícola chinês, impulsionada por tecnologias como IA, big data e IoT, irá afetar o agronegócio brasileiro no curto, médio e longo prazo?
Desvendando o plano chinês
A segurança alimentar é prioridade máxima para o governo chinês. O plano visa aumentar a produção interna e reduzir a dependência de importações, investindo em tecnologias para otimizar o uso de recursos, aumentar a
produtividade e melhorar a qualidade dos produtos.
Segundo o Ministério da Agricultura da China, a meta é alcançar 70% de autossuficiência em grãos até
2027.
Impactos no curto prazo (2024-2026)
Para os próximos dois anos, destacamos como pontos importantes a demanda sustentada e a volatilidade, que poderá trazer oportunidades.
Demanda sustentada
A implementação do plano exige tempo, e a demanda chinesa por alimentos continuará aquecida no curto prazo.
Em 2023, o Brasil exportou US$ 48 bilhões em produtos agrícolas para a China, representando 36% do total das exportações do setor. A soja, carro-chefe do agronegócio brasileiro, correspondeu a US$ 34,4 bilhões.
Essa dependência, porém, gera um alerta: a desaceleração econômica chinesa, com crescimento do PIB projetado em 5% para 2024, pode afetar a demanda por commodities. Por sua vez, isso terá impacto sobre os preços e as receitas
brasileiras.
Volatilidade e oportunidades
A busca por autossuficiência em produtos como soja e milho pode gerar volatilidade nos preços internacionais. O Brasil precisa estar preparado para essa instabilidade, buscando diversificar seus mercados e produtos.
A queda de 76,8% nas exportações de milho para a China em 2023, totalizando apenas US$ 428,9 milhões, ilustra os riscos dessa dependência. Por outro lado, a demanda por carnes, especialmente bovina e suína, deve continuar crescendo, impulsionada pela mudança nos hábitos alimentares da população chinesa.
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Impactos no médio prazo (2027-2030)
Com o aumento da produção interna chinesa, a competição no mercado internacional se intensificará.
Competição acirrada
O Brasil precisará investir em inovação e tecnologia para manter sua competitividade, focando em produtos de alto valor agregado, como cafés especiais, frutas tropicais e produtos orgânicos. A diversificação da produção e a busca por novos nichos de mercado, como o de alimentos processados e produtos com rastreabilidade e certificação de sustentabilidade, serão cruciais.
Impactos no longo prazo (2031 em diante)
Por fim, para o longo prazo, espera-se a reorganização do mercado global e a sustentabilidade como diferencial.
Reorganização do mercado global
A China, no longo prazo, pode reduzir significativamente sua dependência de importações agrícolas. Essa mudança estrutural no mercado global exigirá que o Brasil busque novos mercados e desenvolva estratégias para manter sua relevância no cenário internacional.
Nesse sentido, a consolidação de acordos comerciais com blocos econômicos como a União Europeia e a busca por mercados em ascensão na Ásia e na África serão fundamentais.
Sustentabilidade como diferencial
O plano chinês enfatiza a sustentabilidade na agricultura, com foco na redução do uso de pesticidas e fertilizantes, na proteção dos recursos hídricos e na promoção de práticas agrícolas de baixo carbono. O Brasil, com seu vasto território e potencial para produção agrícola sustentável, pode se tornar um parceiro estratégico da China, atendendo à crescente demanda por produtos com certificação socioambiental.
Conclusões e recomendações
O 15º Plano Quinquenal da China representa um divisor de águas no mercado global de commodities agrícolas. O Brasil precisa estar preparado para enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades que surgirão.
Investir em inovação, tecnologia, diversificação de mercados e produtos, e na produção sustentável será crucial para garantir a competitividade e a liderança do agronegócio brasileiro nas próximas décadas.