Em muitos eventos dos quais participo ou palestro, sempre provoco o público – em geral, produtores rurais – sobre a importância de assegurar o preço de venda da safra, seja qual for a commodity envolvida.
Pela lógica, fazemos seguro para proteger algum bem essencial para nós. Se esse bem vier a faltar por conta de algum sinistro, seremos compensados pelo seguro.
Por exemplo, se faço um seguro residencial e minha casa pega fogo e abala toda a estrutura, a seguradora avalia o sinistro e reembolsa o valor da casa. O mesmo vale para o seguro de uma camionete (muito utilizada por produtores rurais), caso seja furtado ou me envolva em algum acidente que cause perda total do bem.
Muitas vezes nos questionamos sobre a importância de ter um seguro, pois sinistros não ocorrem com tanta frequência. Isso nos leva, de forma errada, a pensar que o gasto que tivemos com a apólice foi um “custo sem necessidade”. Mas se eventualmente algum problema acontece, agradecemos muito por estarmos protegidos. Só quem já precisou acionar um seguro conhece a sensação de alívio e segurança.
A importância do hedge no preço de venda da safra
Fazendo um paralelo com o mercado financeiro (especificamente de hedge de commodities em bolsa de valores) vejo diariamente a mesma situação que descrevi anteriormente. Vou tentar fazer um paralelo para mostrar a importância do hedge no preço de venda da safra.
Cotei o seguro de uma camionete Toyota Hilux SRX 2024 – com preço estimado em R$ 326.500,00 no início do ano e obtive os seguintes preços pelos prêmios:
- R$ 17.123,00/ano com cobertura intermediária (valor correspondente a 5,24% do valor do bem)
- R$ 20.796,50/ano com cobertura completa (valor correspondente a 6,37% do valor do bem)
Saliento que, em caso de sinistro (roubo ou perda total) precisaria arcar ainda com o preço da franquia, que neste caso era R$ 149.966,42, o que corresponde a 45,93 % do valor do bem.
Em resumo, meu custo no caso de um sinistro seria de R$ 170.762,92 (52,30% do valor do bem – se optasse pela cobertura completa). Mas ninguém faz seguro para bater o carro ou ser roubado, certo?
Agora, olhe por este ponto de vista (um caso real):
Um produtor em janeiro de 2024 me informou que colheria cerca de 90.000 sacas de milho em sua propriedade e que comercializaria em março do mesmo ano. No dia em que falamos (5 de janeiro de 2024), o milho (CEPEA) estava cotado a R$ 76,76/saca. Ou seja, se os preços se mantivessem nesse patamar, ele teria um faturamento bruto de R$ 6.908.400.
Cotei para ele uma opção de venda – put – que nada mais é do que um seguro contra a queda dos preços, para março. A put garantiria um preço de R$ 73,00/saca custando R$ 1,20/saca (ou seja 1,64% do montante assegurado).
Mas o produtor, sem pensar muito, disse: “Deixa quieto por enquanto… é muito caro R$ 1,20/saca” e realmente não fez a operação.
Hoje, dia 29 de fevereiro, recebo uma ligação desse produtor, que estava muito preocupado. E não é para menos, pois o preço (CEPEA) do milho fechou hoje a R$ 62,30/saca. O faturamento que era esperado na primeira conversa (R$ 76,76/saca x 90.000 sacas = R$ 6.908.400) caiu para R$ 5.607.000,00. Ou seja, em menos de dois meses, o produtor tem R$ 1.301.400,00 a menos para receber devido à queda de 18,84% no preço do milho até o momento.
Já aquela put que eu havia cotado em R$ 1,20/saca para garantir preços a R$ 73,00/saca, hoje custa R$ 8,00.
Moral da história…
- APÓS O OCORRIDO, SURGE O ARREPENDIMENTO DE NÃO TER FEITO O “SEGURO” ANTES DO SINISTRO… mas só quem realmente fez “colhe” o resultado.
- O produtor fez o seguro da camionete gastando 6,37% do valor do bem para protegê-la, mas não pensou em gastar 1,64% para proteger a sua safra de faturamento em R$ 6.570.000 (R$ 73,00/saca que era o preço da proteção x 90.000 sacas).
- Por enquanto o “prejuízo” desse produtor é de R$ 1.301.400,00. Mas e se os preços se igualarem ao da paridade exportação atual (R$55,00/saca)? Nesse caso, o prejuízo aumentaria para R$ 1.958.400! Esse prejuízo daria para comprar 6 Toyota Hilux!!!
O que gostaria de trazer aqui, além da necessidade do hedge, é que não faz sentido o produtor assegurar uma camionete pagando 6% do valor todos os anos e NÃO FAZER o seguro da sua safra!
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