Como já era esperado, a temporada de balanços do 1T23 não animou muito o mercado. Ao longo do último ano, o aperto da política monetária penalizou a atividade econômica e, consequentemente, o resultado das empresas, principalmente daquelas que atuam em setores cíclicos.
No trimestre, os segmentos menos dependentes do ciclo econômico conseguiram entregar melhores resultados, mesmo em meio a números mais magros. Entre eles, estão concessões de transportes, utilidades básicas, setor industrial e educação. Por outro lado, varejistas, frigoríficos e atividades ligadas à mineração e siderurgia foram negativamente impactados pela retração da economia.
Para saber o que a equipe da Terra Investimentos achou sobre o 1T23 e quais as perspectivas para a bolsa nos próximos trimestres, continue a leitura a seguir!
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Destaques positivos do 1T23
Concessões de transportes
Luis Novaes, analista da Terra Investimentos, observa que as concessões foram expressivamente favorecidas pelo aumento do tráfego e de tarifas ao longo dos primeiros meses do ano. Isso ocorreu em diferentes modais de transportes, o que afirma a retomada na mobilidade após quase dois anos de pandemia e seus efeitos sobre os hábitos das pessoas e empresas.
Nesse sentido, o analista destaca a recuperação da Ecorodovias (ECOR3), cuja melhora permitiu a redução da alavancagem e favoreceu a contribuição dos ativos adquiridos nos últimos anos. “A CCR não só foi favorecida pelo aumento de tráfego nas rodovias, mas em outros modais de atuação, como aeroportos e mobilidade urbana, apresentando um aumento expressivo nas margens, enquanto o endividamento segue controlado”, explica.
Outro destaque do setor foi a Hidrovias do Brasil (HBSA3), que também foi favorecida pelos maiores volumes transportados.
Utilidades básicas
Novamente, o setor de utilidades básicas teve um trimestre positivo, com melhores tarifas e controle de custos, demonstrando a capacidade de lucratividade em um momento de desaceleração econômica.
Entre os destaques, Novaes cita a Sabesp (SBSP3), que manteve os custos controlados ao longo dos primeiros meses do ano, o que favoreceu as margens operacionais no período. Outro nome de forte desempenho no 1T23, segundo o analista, foi a Equatorial (EQTL3), cuja performance foi favorecida pelos novos ativos adquiridos nos últimos anos. Por fim, a Ômega (MEGA3) também apresentou resultados acima do esperado, contando com volume maior de energia produzida e custos controlados.
Setor industrial
Mesmo diante do receio dos investidores ante a desaceleração da atividade econômica, o setor industrial provou sua robustez em um trimestre significativamente positivo.
Nesse sentido, Novaes observa que a Fras-le (FRAS3) apresentou um trimestre sólido, com maior volume de vendas, o que impulsionou as receitas e as margens do período. O mesmo aconteceu com a Randon (RAPT4), que reportou um significativo resultado operacional, fruto de sua estratégia de diversificação no ramo industrial. Por fim, a Weg (WEGE3) segue provando ser uma das principais escolhas defensivas na bolsa, ao apresentar novamente um trimestre de controle de custos e receitas consistentes.
Educação
Apesar de a reversão do ciclo econômico ainda parecer distante, o setor de educação apresenta os primeiros sinais de recuperação. Liderando esse trimestre positivo para a atividade, a Yduqs (YDUQ3) registrou expansão de receitas e margens. “Isso fez com que a empresa encerrasse o 1T23 com lucratividade acima do esperado, obtendo uma reação significativamente positiva no mercado”, avalia Novaes.
Destaques negativos do 1T23
Varejo
Ainda sobre forte pressão do ambiente macroeconômico, as duas principais empresas do setor listadas na bolsa tiveram um desempenho fraco e abaixo do esperado.
Sobre isso, Novaes observa que a Magazine Luiza (MGLU3) vem se beneficiando com a evolução na contribuição de vendedores terceiros em seu site, um reflexo do colapso da Americanas. No entanto, as margens e resultados foram significativamente impactos pelas despesas financeiras, mesmo com o aumento de receitas.
Na mesma linha, os resultados da Via (VIIA3) ficaram aquém do esperado, contrariando as expectativas do mercado, que aguardava sinais mais concretos de retomada nos setores cíclicos.
Frigoríficos
Apesar de diferenças em suas operações, os frigoríficos tiveram um trimestre igualmente fraco. Nesse sentido, o declínio no ciclo do gado nos EUA impactou negativamente as margens da JBS (JBSS3) e Marfrig (MRFG3), que possuem alta exposição ao mercado norte-americano e tímida participação no mercado interno.
Já a suspensão de exportações de gado para a China orientou os resultados fracos da Minerva (BEEF3) no trimestre, enquanto a BRF (BRFS3) segue pressionada por sua alavancagem, em um momento de elevadas taxas de juros.
Mineração e siderurgia
Mesmo com a grande expectativa sobre a retomada econômica da China, as metálicas tiveram um trimestre abaixo em relação ao esperado pelo mercado. Apesar do impulso no preço do minério de ferro, devido às especulações quanto à recuperação chinesa e sazonalidade do mineral, a Vale (VALE3) ainda sofre com os custos altos de produção e transporte, o que acabou penalizando o resultado.
Novaes também chama atenção para o resultado da CBA (CBAV3), igualmente fraco. “Em meio às dificuldades operacionais, a companhia também teve um fraco desempenho no 1t23, agravado pelo preço do alumínio em queda nos últimos meses”, complementa.
E o que esperar para os próximos trimestres?
Para Novaes, os custos foram os responsáveis pela dinâmica dos resultados do 1T23. Isso porque as empresas com receitas historicamente mais estáveis tiveram mais capacidade de controlar os custos, preservando dessa forma as suas margens. Em contrapartida, as companhias dos setores cíclicos ainda sofrem com a pressão macroeconômica.
“É incerto como a economia irá se comportar nos próximos trimestres, tendo em vista que podemos ter mais efeitos da escalada de juros sobre a atividade econômica, o que penalizaria os setores cíclicos. Portanto, vemos uma melhora nos resultados de empresas voltadas ao consumo, o que pode ser um grande gatilho de valorização para essas que se encontram num patamar descontado na bolsa. Acreditamos também que as empresas que tiveram resultados positivos nos últimos trimestres consigam manter essa tendência”, conclui o analista.