Ancoragem nos investimentos: como reconhecer e evitar esse comportamento?

Tempo de leitura: 3 minutos

Imagem de âncora na praia remete à ancoragem nos investimentos
Imagem de âncora na praia remete à ancoragem nos investimentos

Provavelmente isto já tenha acontecido com você: entrar em uma loja, ver um produto super caro, e começar a olhar para outros mais baratos como “acessíveis”, mesmo que tudo no local seja caro. Esse comportamento nada mais é do que o efeito ancoragem, um perigoso viés de comportamento que pode afetar vários aspectos da vida, inclusive os investimentos.

Um viés comportamental (ou cognitivo) acontece quando temos alguma decisão a tomar e o cérebro escolhe a forma mais rápida e confortável de fazer isso. Não que isso seja errado, afinal todos nós acumulamos experiências que nos permitem avaliar diversas situações ao longo da vida.

O problema é quando nos apoiamos somente nessas experiências e deixamos de considerar aspectos externos, que não conhecemos muito bem. Isso pode levar a decisões equivocadas – e a ancoragem é uma das formas de induzir a erros, conforme veremos a seguir.

O que é ancoragem?

Ancoragem nada mais é do que uma armadilha mental na qual podemos cair quando atribuímos um peso desproporcional a determinada referência para tomarmos uma decisão. Normalmente, isso acontece porque não conhecemos determinadas variáveis. Ou simplesmente porque estamos tão acostumados a fazer algo da mesma maneira que nem pensamos em fazer diferente.

No livro “Rápido e Devagar”, o psicólogo e vencedor do Nobel de Economia, Daniel Kahneman, sustenta que o nosso pensamento se desenvolve sob dois sistemas distintos. Um deles é rápido, emocional e intuitivo; já o outro, é lento, lógico e estruturado.

E é justamente do sistema rápido que vem o efeito de ancoragem. Isso porque, para tomar uma decisão rápida, o cérebro vai buscar um referencial no que já é conhecido. Ou seja, ele se “ancora” em experiências passadas e tenta fazer conexões com o presente, e isso nem sempre leva à decisão mais assertiva.

Como funciona a ancoragem nos investimentos?

Trazendo para o mundo dos investimentos, o efeito ancoragem ocorre quando alguém toma uma decisão com base em informações passadas, desconsiderando fatos mais novos ou relevantes.

Imagine a seguinte situação: um investidor pagou R$ 20 por ações de uma empresa. Depois de algum tempo, a economia começa a desacelerar, e isso impacta diretamente a empresa, que passa a vender menos e reduz o seu lucro. A piora da operação se reflete diretamente no preço de suas ações, que cai para R$ 10.

O tempo continua passando, e não há sinais de retomada econômica. E os indicadores financeiros da empresa começam a piorar ainda mais; agora, existe um prejuízo, o endividamento está maior, e as ações caem ainda mais, para R$ 7.

Mesmo com todo esse cenário desfavorável, o investidor continua segurando as ações ao invés de vendê-las, pois está “ancorado” aos R$ 20 que pagou no passado. Ou seja, ele não admite que o contexto atual é outro, e se recusa vender as ações, pois ainda está preso a referências passadas, que já não fazem sentido no presente.

Outro exemplo: um investidor comprou ações de uma boa empresa, mas na fase errada dos ciclos de mercado, quando os papéis estavam sobrevalorizados. Mesmo sabendo que a empresa tem bons fundamentos, ao ver a ação caindo de preço tempos depois, ele pode achar que fez um mal negócio.

Mais um exemplo: uma ação está com o valor abaixo de sua média no mercado. Você conhece e gosta da empresa, mas não tem acompanhado os seus números, nem o setor, e nem notícias sobre a operação. Mesmo assim, decide comprar o título sem fazer uma análise mais aprofundada sobre os indicadores e o potencial de retorno.

Em todos esses casos, a ancoragem atrapalha o discernimento na hora da escolha, pois já existe um conceito pré-formado sobre o investimento, mesmo que baseado em informações desatualizadas.

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Como evitar o efeito ancoragem nos investimentos?

Voltando ao exemplo da loja: o fato de existirem produtos mais baratos do que um item caro, não significa que os seus preços sejam justos. Nesse caso, podemos cair nessa armadilha de avaliação simplesmente porque não temos variáveis suficientes para avaliar corretamente os preços. Inclusive, colocar na entrada da loja o carro ou a TV mais cara é uma estratégia de vendas, pois imediatamente ancoramos esse valor e julgamos todo o resto a partir dele.

Nos investimentos, a lógica não é diferente. Quanto mais informações tivermos sobre o mercado e sobre a ação ou qualquer outro ativo no qual desejamos investir, mais confiança teremos em nossas decisões.

Para isso, é preciso analisar indicadores financeiros, comparar a performance do ativo ao longo do tempo e com outros semelhantes e acompanhar sempre notícias sobre o mercado financeiro. Outro aspecto importante é não se deixar levar por momentos de euforia ou pessimismo do mercado, que também desencadeiam armadilhas comportamentais. Alguns exemplos dessas ciladas são o “efeito manada” e o medo de ficar de fora de oportunidades, conhecido pela sigla “FOMO” (fear of missing out).

Lembrando que tudo isso demanda tempo, pois não se consegue avaliar com prudência tantos tópicos de forma rápida. Como bem apontou Kahneman em “Rápido e Devagar”, quando nosso julgamento é baseado somente no que temos disponível, corremos um grande risco de nossas decisões sejam precipitadas e equivocadas.

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