Ciclos de mercado: quais são e como identificá-los?

Tempo de leitura: 5 minutos

Imagem mostra investidor analisando os ciclos de mercado
Imagem mostra investidor analisando os ciclos de mercado

Mesmo quem não conhece o mercado acionário, sabe que uma de suas principais características é o sobe e desce ao longo do tempo. No entanto, isso não significa que os preços das ações, fundos imobiliários, BDRs, ETFs e outros ativos negociados nesse mercado sejam definidos aleatoriamente. Embora não exista previsibilidade total no comportamento desses preços, eles obedecem a ciclos de mercado, e entender isso é muito importante para saber quando investir ou não em um ativo.

Os ciclos de mercado funcionam de forma semelhante aos ciclos econômicos. Esses últimos se movem de acordo com indicadores macroeconômicos, como PIB, taxa de juros, inflação, nível de emprego, e assim por diante. Já os primeiros, embora também possam ser influenciados por essas variáveis, possuem uma dinâmica própria fortemente influenciada também pelo comportamento dos investidores.

Neste conteúdo, mostraremos quais são os ciclos de mercado, como podemos identificá-los e como você pode utilizar esse conhecimento para investir melhor. Acompanhe a seguir!

O que são ciclos de mercado?

Para falarmos sobre ciclos de mercado, precisamos entender alguns pressupostos da análise técnica, identificados por Charles Dow, um dos precursores da metodologia.

Dow foi o jornalista que fundou o famoso The Wall Street Journal. Posteriormente, em parceria com Edward Jones e Charles Bergstresser, criou a Dow Jones Company e um dos índices mais antigos do mercado de capitais dos EUA: o Dow Jones Industrial Average (DJIA).

Ele também desenvolveu a Teoria de Dow, com premissas que apoiam a análise técnica até hoje e que explicam os movimentos do mercado baseados em três tendências: primária, secundária e terciária. Não falaremos aqui sobre todos os fundamentos da teoria, pois o que nos interessa é a relação que Dow faz com os ciclos de mercado, e isso podemos observar quando ele descreve a tendência primária.

Segundo Dow, essa tendência possui três fases, que são acumulação, participação pública e distribuição. Na acumulação, os preços dos títulos começam a subir, sendo esse o melhor momento para a compra. Na participação pública, os investidores entendem a tendência de alta e as compras se intensificam, o que faz os preços subirem ainda mais. Por fim, na distribuição, a notícia de alta já se espalhou e mais pessoas começam a comprar, e essa é a melhor fase para vender os títulos com lucro, antes que comece um novo ciclo de queda.

Independentemente da duração de cada fase, os ciclos de alta e de baixa se sucedem o tempo todo no mercado de capitais e para todo tipo de ativo. E isso vale para qualquer estratégia de investimento, seja de curtíssimo, curto, médio ou longo prazo.

Por exemplo, quando falamos em day trade ou swing trade, um ciclo de mercado pode alguns dias ou apenas algumas horas, entre topos ou fundos de determinado indicador técnico. Já no buy and hold, podemos encontrar ciclos que se estendem por meses, ou até mesmo anos, dependendo do contexto econômico. E essas fases se alternam em ondas, para cima e para baixo, exatamente como previu Dow em sua teoria.

Feitas as primeiras considerações, vejamos a seguir quais são as etapas dos ciclos de mercado.

Quais são os ciclos de mercado?

Dependendo da intensidade das oscilações na bolsa, algumas fases trazem consequências mais acentuada. Esses momentos são conhecidos como bull market e bear market, que marcam, respectivamente, as fases de euforia e de pessimismo por parte dos investidores.

Mas, salvo algum evento totalmente inesperado, os picos e fundos do mercado acionário não acontecem da noite para o dia. Ou seja, dificilmente estaremos em pleno bull market e acordaremos com a bolsa despencando, a não ser por causa de alguma guerra, crise política ou qualquer outro acontecimento de força maior.

Isso porque as fases evoluem gradativamente, e se alternam entre quatro momentos distintos: acumulação, valorização, distribuição e queda, conforme mostraremos agora.

1 – Acumulação

A fase de acumulação é a que acontece quando o mercado começa a sair de um período de queda. Normalmente, esse é o momento em que os investidores e traders mais experientes aplicam o value investing, ou seja, identificam bons ativos para comprar na baixa e vender na alta. Em outras palavras, é a fase em que o mercado começa a acumular ativos, o que impulsiona a alta novamente.

2 – Valorização

A partir da acumulação, a demanda começa a aumentar, pois os investidores vão percebendo que há potencial de ganhos no mercado. Com a demanda crescente, os preços começam a subir, e quem adquiriu ativos na fase anterior começa a vender e realizar lucros. A fase de valorização (também conhecida como markup) registra um aumento considerável no volume de negociações.

3 – Distribuição

A fase de distribuição é o chamado “sinal amarelo” do mercado. Aqui, os preços dos ativos já alcançaram o topo e começam o movimento de reversão, com a queda da demanda.

Ao contrário da valorização, na distribuição é a ponta vendedora que toma força, pois o objetivo é realizar o lucro antes que venha a próxima fase de queda. Com a diminuição da demanda, a percepção do mercado passa a ser de que os ativos estão sobrevalorizados, e isso começa a puxar os preços para baixo.

4 – Queda

Por fim, a quarta fase do mercado (também chamada de markdown) é caracterizada pela queda mais acentuada nos preços dos ativos. À medida que a demanda diminui, sobram oportunidades no mercado, pois os investidores ainda estão tentando se desfazer de suas posições. Isso força mais ainda a desvalorização, e quem comprou na alta acaba tendo prejuízo se vender nesse período.

Embora possamos identificar as quatro fases, não há uma linha totalmente clara que marque o final de uma e o início da próxima. Por isso, é comum encontrarmos boas oportunidades durante as quedas (ativos mais baratos e com bons fundamentos), assim como acontece na acumulação.

O que influencia os ciclos de mercado?

Embora sejam movimentos normais dos ativos, algumas variáveis podem determinar a duração e intensidade dos ciclos de mercado.

Por exemplo, em momentos de prosperidade econômica, as pessoas se sentem mais confiantes em relação a suas finanças e tendem a gastar mais. Isso impulsiona a atividade das empresas, que passam a produzir mais para atender a demanda aquecida. Com o crescimento das vendas, os indicadores de resultado e de distribuição de lucros também melhoram, o que motiva ainda mais os investimentos no mercado acionário e a valorização dos ativos.

Por outro lado, fases de crises, inflação alta ou algum outro evento que exija uma política monetária mais austera causam o efeito contrário na bolsa. Em condições menos favoráveis, o apetite dos investidores arrefece e os negócios desaceleram, o que fortalece o movimento de venda e pode dar início a uma fase de queda novamente.

Não podemos deixar de considerar também o “efeito manada”, outro componente muito importante que influencia os ciclos de mercado, tanto na alta quanto na baixa. Em momentos de euforia, o comportamento impulsivo pode distorcer o valor dos ativos e gerar bolhas que prejudicarão o mercado. Já no pessimismo generalizado, o risco é ocorrer uma fuga de capitais por simples pânico, o que acentua ainda mais a queda dos preços, causando perdas desnecessárias e, às vezes, difíceis de reverter.

Como identificar os ciclos de mercado para investir melhor?

Embora sejam conceitos distintos, é importante analisar os ciclos de mercado em conjunto com os ciclos econômicos, pois, como vimos, a economia exerce influência sobre o comportamento dos investidores. Teoricamente, se estamos em um momento de prosperidade, a tendência é de que uma fase de queda na bolsa dure menos do que em períodos de economia desaquecida. Isso dá mais conforto ao investidor, pois ele pode esperar pela próxima fase sem pressa para vender um ativo que se desvalorize momentaneamente.

Por outro lado, momentos de economia retraída ou em desaquecimento exigem mais cautela por parte dos investidores. Nesse caso, é mais prudente reduzir a exposição a riscos e avaliar com muito cuidado os ativos descontados, pois é possível que a recuperação dos preços demore algum tempo.

Em relação ao ativo em si, a análise fundamentalista e análise técnica dão uma boa noção do potencial de valorização e momento do mercado. Quando analisamos aspectos de uma empresa como evolução das vendas, rentabilidade, endividamento, entre outros, podemos entender o quanto ela está preparada para lidar com as fases de um ciclo de mercado. Já os indicadores da análise técnica, como médias móveis ou topos e fundos, permitem enxergar em que fase do ciclo estamos e estimar a sua duração, em linha com o momento da economia.

Compartilhe:

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on pinterest
Share on telegram
Share on whatsapp
Share on email
Blog Terra Investimentos

Posts Relacionados