Copom corta Selic em 0,5 ponto: veja a análise da Terra Investimentos sobre o cenário nacional e internacional

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Copom

Conforme esperado, o Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu a taxa Selic para 12,25% ao ano na penúltima reunião de 2023. No comunicado divulgado no início da noite desta quarta-feira (1), o colegiado disse que as adversidades do ambiente externo – entre elas, juros altos e inflação persistente nos EUA e novas tensões geopolíticas – demandarão cautela por parte de países emergentes.

“Tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária, o Comitê reafirma a importância da firme persecução dessas metas”, disse o Copom.

Confira a seguir como os analistas da Terra Investimentos veem o atual cenário macroeconômico no Brasil e no mundo.

Brasil

Luis Novaes, analista da Terra Investimentos, observa que os dados econômicos recentes da economia brasileira demonstram uma perspectiva positiva para o processo desinflacionário, com menor impulso do setor de serviços e atividade desacelerando como o previsto pela autoridade monetária. Nesse momento, as dúvidas se concentram em como o Banco Central vai se portar frente à deterioração do cenário internacional.

“A expectativa de juros mais altos nos EUA e o acirramento das tensões geopolíticas fizeram os rendimentos dos treasuries americanos avançar. E o mercado também está de olho em possíveis complicações em relação à estabilidade fiscal brasileira”, aponta o analista.

Hoje é praticamente consenso no mercado o fato de que o governo não atingirá as metas fiscais estipuladas para os próximos anos. Isso é ruim, pois o atingimento das metas é muito importante para as expectativas futuras. Segundo Novaes, a maior incerteza quanto à condução da política monetária atualmente está na taxa a ser atingida ao fim do ciclo.

“Há uma grande divergência entre o que os economistas do mercado estão estimando e o que o mercado está precificando na curva futura. Ou seja, ainda não se consegue mensurar o impacto potencial da questão fiscal nas decisões futuras do Copom”, explica.

Estados Unidos

As últimas semanas foram marcadas por tensões no mercado de títulos soberanos americanos. Isso ocorreu após o Federal Reserve (FED) ter sinalizado que poderia aumentar novamente os juros ainda esse ano, para conter a inflação, que se mostra resiliente. Entretanto, diante da expressiva alta nas taxas futuras, e considerando a quantidade de investidores que buscam mais proteção em meio ao ambiente geopolítico cada vez mais tenso, não haveria mais a necessidade de atuação do FED. Ou seja, já existem fatores suficientes atualmente que tornam o crédito mais restritivo.

Por isso, Novaes acredita que o mercado já não espera novas altas de juros nos EUA até o final do ano. Porém, espera-se que as taxas continuem altas por mais tempo, considerando dados recentes da economia que mostram atividade resiliente e mercado de trabalho robusto.

O analista ainda destaca que a questão fiscal segue como um dos fatores de risco para a condução da política monetária americana, adicionando prêmio nos vértices mais longos da curva.

“Nas próximas semanas, o governo e a Câmara retornam as negociações pelo financiamento público, agora sob a liderança de Mike Johnson após a destituição de Kevin McCarthy, em razão da insatisfação dos parlamentares pela forma como os últimos acordos foram atingidos”, observa.

Europa

Após dez altas consecutivas, o Banco Central Europeu (BCE) decidiu pela manutenção da taxa básica de juros de forma unânime. A autoridade monetária afirmou que as decisões continuariam a serem tomadas com base nos dados futuros da economia da Zona do Euro, sem descartar a possibilidade de uma retomada do ciclo de alta.

Christine Lagarde, presidente da instituição, destacou que a inflação deve seguir elevada no bloco europeu, e, portanto, espera-se que as taxas permaneçam em níveis restritivos pelo tempo que for necessário. Em relação aos impactos do aperto monetário cumulativo, a comunicação do BCE aponta que a economia deve continuar fraca pelo resto do ano, tomando força somente nos anos seguintes.

Por fim, as tensões geopolíticas foram reconhecidas como fatores de risco para condução da política monetária, tendo em vista seus efeitos potenciais nos preços de energia e alimentos.

China e Japão

A perspectiva incerta para as economias asiáticas não se modificou nas últimas semanas, e os governos buscam medidas alheias à política monetária para endereçar problema internos.

Novaes observa que, mesmo diante do crescimento econômico abaixo do esperado, a autoridade monetária da China mostrou resistência em fornecer estímulos econômicos a partir da redução dos juros básicos, considerando o potencial destrutivo da medida sobre o valor da moeda local. Assim, a alternativa encontrada foi aumentar o limite de endividamento público, permitindo a emissão de mais dívida a fim de apoiar o mercado de crédito, enquanto previne uma fuga intensa de capital.

Por sua vez, o Japão também decidiu manter suas principais taxas de referência alteradas, sob pressão da inflação que continua elevada. Por lá, a autoridade monetária buscou interferir no mercado para evitar maiores flutuações na moeda e nos rendimentos dos títulos soberanos, enquanto espera pacientemente que a inflação apresente um comportamento mais benigno nos próximos meses.

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