Nos últimos anos, qualquer noticiário que o leitor tenha assistido sobre o agronegócio provavelmente fez alguma menção sobre a China. Não é para menos, pois o crescimento do gigante asiático e o aumento da importação de commodities de vários países do mundo tem feito o país ser um parceiro essencial na balança comercial.
Aqui no Brasil, em 2023, a China vai se destacando novamente como o maior importador de commodities agrícolas como soja, milho e carne bovina. Para saber mais sobre a relação da China e Brasil em carne bovina leia este artigo no blog.
Neste artigo, falaremos sobre o mercado pecuário norte-americano. E por qual motivo? Porque, provavelmente teremos uma baita oportunidade comercial – ao menos no curto/médio prazo.
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Atualmente, os EUA vivem uma restrição de oferta de gado, com a menor quantidade de cabeças desde 2014. Desse estoque, o total de 28,9 milhões de cabeças que é direcionado à pecuária de corte, atinge o menor nível desde 1962.
Chama a atenção no último inventário o número de vacas, que reduziu mais de um milhão de cabeças, e a queda de 6% do número de novilhas, que tendem a ser mantidas para substituir as vacas nas crias.
Tal movimento se deu pela combinação de fatores como clima seco (o que prejudicou as pastagens), os insumos mais caros e o alto preço das vacas de descarte que incentivaram o pecuarista norte-americano a aumentar o abate.
Tipicamente nos ciclos pecuários, se a oferta de gado reduz, o preço sobe. Observe os gráficos abaixo:
Com a forte alta do preço do boi, a carne encareceu, e isso contribuiu para o aumento da inflação nos Estados Unidos. Esse tem sido um tema muito sensível ao governo, que precisou elevar os juros de 0,25 a 0,50% ao ano para 5,25 a 5,50% ao ano em curto espaço de tempo – o maior patamar desde 2001.
Com isso, os EUA têm buscado novos mercados para importar carne e equilibrar os preços. Para se ter uma ideia, recentemente habilitaram o Paraguai como exportador de carnes (após 25 anos).
No mercado internacional, o Brasil tem se destacado devido a fatores como competitividade e boa oferta de animais.
Mas outros players também têm se tornado mais competitivos e, portanto, vêm ganhado mais espaço e preferência nos embarques, conforme mostra o ranking abaixo:
No momento em que escrevo (20/12/23), são esses os preços internacionais de alguns players:
Como o Brasil pode surfar essa onda?
O USDA (Departamento Agrícola Norte Americano) já projeta que os EUA aumentarão suas importações de carne no próximo ano, conforme abaixo:
Atualmente, os EUA já são o segundo maior importador de carne bovina brasileira. Ao mesmo tempo, vemos a China, nosso maior importador, reduzindo o volume de compras (-5% na comparação ano a ano) e o preço pago em dólar por tonelada. Por outro lado, há uma grande oferta de suínos por lá, pois o surto de gripe suína africana fez os preços da proteína concorrente despencarem. Estrategicamente, é hora de o Brasil aumentar o share em outros países e reduzir dependência da China.
Isso já vem acontecendo. Recentemente, habilitamos plantas frigoríficas para exportar para o México e Canadá, e nos resta agora buscar aumentar gradativamente o volume exportado aos EUA, pois pode ser que o país demore de dois a três anos para recompor parte do plantel e estabilizar a relação oferta e demanda.
Lembrando que, para exportar carne bovina aos EUA, existe uma “cota tarifária de grupo” que são cerca de 65 mil toneladas/ano com tarifas menores (4,4 cents/kg). O que exceder essa cota é tributado em 26,4% sobre o valor do produto enviado.
Seria muito interessante, pelo momento que os EUA vivem e pela capacidade do Brasil de atender tal demanda, que os governos brasileiro e americano fizessem um acordo para que o Brasil saísse da cota “others” e tivesse uma cota própria com impostos reduzidos. Se isso acontecesse, seríamos o maior exportador e o segundo maior produtor de carne bovina, atendendo ao maior produtor mundial. Uma baita relação ganha-ganha! Quem sabe, né?