Para investir com mais segurança, uma das premissas importantes é estar por dentro do que acontece na economia e no mercado financeiro. Porém, o excesso de informações pode levar a uma ilusão de controle nos investimentos, o que pode ser tão prejudicial para a carteira quanto a falta de conhecimento.
A seguir, falaremos mais sobre por que essa armadilha acontece, quais os seus riscos para os investimentos e como podemos evitá-la. O especialista em Finanças André Massaro deu dicas valiosas sobre o tema em seu canal no YouTube, como veremos adiante.
O que é ilusão de controle?
A ilusão de controle é um tipo de viés cognitivo que, como o próprio nome diz, faz com que as pessoas achem que podem controlar todos os eventos a sua volta. E não só os que dependem de habilidades ou de algum esforço, mas também os aleatórios.
Por exemplo, sabe aquele hábito de jogar sempre os mesmos números na loteria, ou de soprar os dados antes de lançá-los à mesa? Esse tipo de comportamento ritualístico e sem explicação racional é típico de uma ilusão de controle sobre fatos fortuitos.
Mesmo que pareça sem sentido – afinal, todo mundo sabe que é impossível controlar tudo o que acontece – o fato é que esse viés de comportamento é mais comum do que se imagina. E, nos investimentos, normalmente ele não tem nada a ver com falta de conhecimento. Até quem é mais experiente pode, em determinadas situações, tornar-se confiante em excesso, e isso pode ser um perigo para o patrimônio, como veremos no próximo tópico.
Como a ilusão de controle pode atrapalhar os investimentos?
Sem dúvida, a facilidade de acesso à informação que temos hoje democratizou as formas de investir. Além de instituições financeiras e casas de análises, muitos sites, aplicativos e canais gratuitos oferecem conteúdos sobre economia e finanças que auxiliam quem está em busca de mais segurança no mundo dos investimentos.
Porém, com tantas opções disponíveis, é fácil passar do ponto e consumir mais informações do que o necessário para investir. Quando isso acontece, as pessoas podem apresentar um excesso de confiança perigoso, pois se sentem aptas a assumir mais riscos do que deveriam.
Como explica André Massaro, o excesso de informações pode levar à ilusão de que saber mais significa ter mais poder de prever ou controlar o futuro. No entanto, muitas vezes as pessoas esquecem de que toda informação é do passado.
“É muito comum ver pessoas acompanhando notícias em várias telas ligadas ao mesmo tempo, ou assinando diversos serviços e newsletters. Só que elas não consideram que todas essas informações, mesmo que sejam recentes, sempre chegam até nós com algum atraso. Além disso, elas não têm nenhuma influência sobre eventos aleatórios do futuro, e a gente sabe que muita coisa é aleatória no mercado financeiro”, observa o especialista.
Exemplo
Para exemplificar como funciona a ilusão de controle nos investimentos, Massaro fala sobre um hábito seu, que é o de acompanhar as curvas de juros.
“Acompanhar o movimento dos juros nos dá insights interessantes sobre o que pode acontecer na bolsa, pois a renda variável se subordina muito à renda fixa”, explica.
No Brasil, as três formas mais comum de acompanhar o comportamento dos juros são os contratos futuros de DI negociados na bolsa, a curva de juros dos títulos prefixados divulgada pela ANBIMA e o Boletim Focus, que traz as projeções para a Selic. Embora venham de fontes diferentes, essas três ferramentas utilizam a mesma matéria-prima, como explica Massaro.
“Algumas pessoas acham que terão mais segurança se analisarem os três relatórios. Mas isso é um erro, pois todos são feitos com base no sentimento dos agentes econômicos, e esse sentimento é extremamente volátil. Dependendo do que acontecer no mundo, as expectativas podem mudar em um milésimo de segundo”, diz Massaro.
O risco de analisar fontes redundantes é que isso pode aumentar a sensação de prever o futuro. Quando se sentem mais confiantes, as pessoas acabam se expondo a riscos demasiados e não diversificam adequadamente a carteira.
“Isso pode levar ao temido overtrading, que é quando se opera demais a carteira de investimentos, tentando antecipar pequenos movimentos e reagindo a ruídos do mercado”, alerta o especialista.
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Como evitar a ilusão de controle nos investimentos?
Na verdade, um viés cognitivo não é algo que se possa evitar, pois ele é um processo cerebral e não mental. É um atalho que o nosso cérebro realiza automaticamente para tomar uma decisão de forma mais rápida, em vez de avaliar racionalmente o contexto e as opções envolvidas.
Por outro lado, o que se pode fazer é ficar alerta quando esses comportamentos surgem. Daí sim há como atenuá-los, minimizando os seus efeitos negativos.
Segundo Massaro, no caso da ilusão de controle, a primeira dica é fazer o velho exercício da humildade. Em outras palavras, é preciso reconhecer que muitas coisas são aleatórias na vida, e deixar de lado a crença de que “tudo acontece por uma razão”.
“Não reconhecer a aleatoriedade é meio que uma forma de tentar achar ordem no caos”, alerta o especialista.
Outra atitude importante é ter mais moderação em relação ao consumo de informações, pois, como vimos, elas sempre refletem o passado.
“A informação em excesso dá margem para narrativas falsas, pois fica muito fácil dizer que o dólar subiu por causa dos juros nos EUA, da guerra, ou por outra razão qualquer. É importante sempre ter a consciência de que toda a informação que consumimos é do passado. Dessa forma, podemos ao menos ficar mais imunes aos efeitos negativos da ilusão de controle, já que não dá para se livrar totalmente dela”, alerta Massaro.