Que o agronegócio é fundamental para a nossa economia, e que o Brasil ocupa posição de destaque na produção mundial de alimentos, isso muita gente já sabe. O que ainda é pouco conhecido de forma geral é o potencial do setor na descarbonização da economia.
A cada ano, os desafios em relação à indústria de alimentos se tornam maiores no mundo todo. Por um lado, é cada vez mais evidente a necessidade de aceleração nas cadeias de produção, tendo em vista a demanda crescente. No entanto, as emissões de carbono tendem a aumentar com o incremento da atividade econômica. E é justamente aí que entra o potencial do agronegócio brasileiro na geração de energia verde, conforme veremos a seguir.
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O que é descarbonização?
A descarbonização é a busca pela redução, no curto e médio prazo (e eliminação, no longo prazo) da emissão de gases de efeito-estufa na produção de bens e serviços. Na atividade econômica, isso é possível quando mudamos a matriz energética, substituindo combustíveis fósseis por energias renováveis, aumentando a eficiência da indústria ou reciclando matérias-primas, por exemplo.
Mas também no dia a dia podemos contribuir para esse processo. Nesse sentido, reduzir desperdícios de produtos e, principalmente, de recursos naturais é uma das formas mais eficientes de contribuir para o meio ambiente.
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E o que o agronegócio tem a ver com tudo isso?
Segundo Maurício Palma Nogueira, engenheiro agrônomo e diretor da Athenagro – consultoria focada na pecuária – o Brasil é o único país que domina a tecnologia de produção agropecuária de alto desempenho em ambiente tropical. Diferentemente do que ocorre em outras partes do mundo, a produção brasileira tem aumentado de forma eficiente e mitigando as emissões de carbono.
Entre 1990 e 2022, o rendimento médio de cada hectare em produção no Brasil melhorou 265%. Isso representou um salto de 1,37 tonelada por hectare para 5,02 toneladas por hectare de produtos gerados pela produção agropecuária. O cálculo envolve todos os produtos de origem vegetal e animal obtidos a partir das atividades agropecuárias. Em três décadas, a produção brasileira aumentou 250% em uma área 4% menor.
Pode-se afirmar que o aumento da produtividade brasileira não teria ocorrido sem que houvesse um forte trabalho de construção da fertilidade do solo. Em outras palavras, além do avanço genético dos cultivares e da tecnologia disponível, preparar o solo de forma eficiente para receber as plantas foi determinante para alcançar essa evolução.
Tanto no plantio direto quanto nas pastagens, as atividades agrícolas que precisam de muito combustível têm sido substituídas por operações mais eficientes em termos de custo energético por área. Nos dois casos, os sistemas de produção irão substituir as arações por distribuição de fertilizantes e aplicação de defensivos na área. Dessa forma, a mesma quantidade de óleo diesel acaba sendo suficiente para cobrir uma área de cultivo maior.
Mudanças climáticas e agropecuária sustentável
No Centro-Oeste brasileiro, a temperatura pode aumentar mais de 5°C até 2050, o que tornaria impossível o cultivo das lavouras da forma como ocorre atualmente. O alerta consta no relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), da Organização das Nações Unidas (ONU).
Desde 2010, o Brasil investe no programa Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (Programa ABC), que foi renovado até 2030. No entanto, o desmatamento ilegal que ainda ocorre por aqui ofusca o brilho das práticas sustentáveis no agronegócio já conquistadas.
Nos últimos anos, o investimento em pesquisa e inovação transformou terras ácidas e com vastas regiões semiáridas em lavouras produtivas. Isso foi alcançado por meio de avanços na biotecnologia e manejo integrado, a exemplo do plantio direto e de sistemas silviagrícolas, como a Integração Lavoura Pecuária Floresta (ILPF).
Para João Moraes, diretor global da Yara International, o agronegócio brasileiro pode ir além da descarbonização e iniciar um processo de reversão da degradação ambiental. “Por meio de boas práticas na agricultura regenerativa podemos recuperar o meio-ambiente, para que ele se mantenha produtivo e continue produzindo frutos”, afirma.
(Fonte: Canal Agro – Estadão)