A temporada de balanços acabou e o mercado continua a digerir e entender quem teve um bom resultado e quem deixou a desejar. Isso deverá ser preponderante para determinar qual caminho cada ação deverá seguir nos próximos meses, afinal, em última instância, são os resultados corporativos o grande driver de preços das empresas listadas na bolsa de valores.
O mercado vive de perspectivas, então compreender quem surpreendeu e quem decepcionou é um caminho interessante para avaliar possíveis ações que deverão ter altas e quais deverão passar por baixas em um futuro próximo. Não adianta apenas ter ganhos, uma empresa que teve prejuízo menor do que o esperado e vem diminuindo suas perdas em direção à rentabilidade deve ver sua ação registrar ganhos maiores que uma outra que tem grandes lucros, mas vem perdendo fôlego.
DESTAQUES POSITIVOS
WEG (WEGE3)
A situação adversa da economia internacional baseava as baixas expectativas sobre os resultados da Weg para esse trimestre. Entretanto, o trimestre da empresa foi muito melhor do que os investidores imaginavam. A queda na demanda de equipamentos industriais não foi vista como esperada, a escalada nos preços de energia em decorrência do conflito armado na Ucrânia impulsionou os ganhos do setor de óleo e gás, e devido a isso, os investimentos foram ampliados, beneficiando as empresas industriais que fornecem equipamentos ao setor.
A empresa também viu suas margens serem ampliadas, em razão da menor pressão inflacionária e ganhos de produtividade através de uso de fábrica maior e melhores processos. O cenário a frente ainda é adverso, tendo em vista que a economia não deve acelerar novamente no curto prazo, mas os números da Weg tornaram os investidores otimistas sobre a capacidade da empresa de superar esse período.
Banco do Brasil (BBAS3)
Em um trimestre de dificuldades para os bancos, em razão do aumento sistêmico da inadimplência, o Banco do Brasil conseguiu compensar a deterioração da qualidade dos ativos com rendimentos maiores nas suas carteiras de crédito de modo geral. O banco também teve seus ganhos impulsionados pelo seu posicionamento do mercado do agronegócio, em que é o principal player. A reação do mercado em relação aos resultados foi tímida, devido às incertezas sobre quais devem ser os princípios de gestão num governo que possui um pensamento diferente sobre como as estatais devem funcionar.
BTG Pactual (BPAC11)
A instabilidade vista no mercado nos últimos anos, por todos os fatores de baixa probabilidade, mas de alto impacto, como a pandemia e guerra na Europa, ainda penaliza a demanda por processos de abertura de capital, uma importante fonte de receitas para o banco. Ainda assim, o BTG registrou bons resultados em outros segmentos, demonstrando que a tendência positiva dos resultados permanece sólida. Há dúvidas sobre como o mercado estará nos próximos meses, considerando a atual deterioração da economia no exterior e as incertezas sobre a política econômica brasileira para os próximos anos. Essa questão é vista como um ponto de atenção para o banco que pode ser penalizado pelas condições adversas do mercado e economia.
Gerdau (GGBR4)
As adversidades no mercado internacional penalizam também os setores de materiais básicos, mas a Gerdau registrou resultados positivos em relação às expectativas para o trimestre. Os últimos meses da Gerdau não são um ponto alto na história, os resultados ainda estão pressionados pela baixa demanda por metais, tendo em vista que a economia chinesa ainda apresenta uma aceleração abaixo do usual. O resultado, então, apoia uma recuperação da empresa e setor assim que o governo da China abandonar sua política de Covid zero e a economia do país voltar a expandir.
Rumo (RAIL3)
A maior atividade no setor agrícola no trimestre possibilitou que a empresa apresentasse um volume maior em relação ao total transportado nos últimos trimestres, impulsionando os resultados da empresa. Depois de dois anos entregando resultados abaixo do guidance estipulado, a Rumo agora revisou para cima sua meta desse ano. A perspectiva de ganhos para os próximos anos agora contam com uma visão mais otimista.
Cyrela (CYRE3)
Os juros em patamares elevados pressionam o setor de construção civil, ainda assim, a Cyrela foi capaz de reportar resultados acima das expectativas de mercado para o trimestre. As receitas apresentaram crescimento tanto em relação ao trimestre passado quanto ao último ano, impulsionadas pelas obras concluídas nos últimos meses.
A lucratividade da empresa demonstra movimento de recuperação e a venda de participação na Cury permitiu que a empresa entregasse um lucro líquido acima do esperado. Considerando a situação ainda desafiadora para o setor, a Cyrela ascende como a principal escolha entre as construtoras.
Negativos
Bradesco (BBDC4)
O Bradesco foi o ponto baixo da temporada de balanços, o crescimento da inadimplência no país foi um dos pontos-chave para o resultado muito abaixo ao esperado registrado pelo banco, considerando sua maior exposição ao crédito de pessoas físicas. A lucratividade do banco foi muito impactada pelos maiores níveis de inadimplência, já que foi necessário um volume maior de provisionamento. Esse trimestre deverá gerar efeitos no futuro, pressionando os próximos resultados do Bradesco.
Braskem (BRKM5)
Em mais um trimestre, a Braskem demonstra que ainda há um caminho complicado até que recuperação do negócio. O cenário internacional não contribuiu com o volume de vendas da empresa e os preços em mercado internacional restringiu as margens já apertadas. A possibilidade de que a Novonor se desfaça de sua participação e que novos aportes sejam feitos na empresa limitam as reações negativas no mercado. A reabertura da economia chinesa se mostra como fundamental para que a empresa retorne a apresentar resultados positivos novamente.
Santander (SANB11)
Mesmo com o aumento de controles visando se proteger da inadimplência feitos no último trimestre, o Santander voltou a registrar um resultado negativo impactado pelas provisões. O banco cresceu muito nos últimos anos e esse crescimento trouxe deterioração no crédito, agora, o foco da instituição está na revisão desses créditos concedidos a fim de garantir um melhor resultado no futuro, contando que as taxas de inadimplência sejam menores. O resultado ruim acabou sendo atenuado pelo, também abaixo do esperado, resultado do Bradesco, ainda assim, não é uma escolha preferencial no setor.
GPA (PCAR3)
Os resultados do Grupo Pão de Açúcar foram mais uma vez abaixo do esperado, o prejuízo maior em relação ao último trimestre e margem operacional menor quando comparado ao ano passado, agravam situação do conglomerado que já acumula resultados negativos e não demonstra capacidade para que esses sejam revertidos em breve. Os altos juros e inflação devem continuar pressionando o setor, tendo em vista que as projeções de mercado indicam uma política fiscal mais flexível quanto aos gastos públicos.
Alpargatas (ALPA4)
O que chamou a atenção nos resultados da Alpargatas foi a retração no crescimento no mercado exterior. A principal tese de investimento da empresa de sandálias, o que atraiu os investidores nos últimos anos, é sua expansão em mercado internacional. Entretanto, a situação econômica adversa nas principais economias do mundo fez com que os volumes de vendas em mercados como os EUA e China diminuíssem consideravelmente, colocando em dúvida a estratégia central da empresa de crescimento.
Americanas (AMER3)
No início do trimestre, as expectativas para o varejo eram altas, a inflação estava desacelerando que o mercado via o momento como um ponto de inflexão para o setor que ainda sofria com os efeitos negativos da economia pós-pandemia. Entretanto, os indicadores econômicos e o movimento de valorização das empresas do setor perdendo força já demonstravam que os resultados seriam decepcionantes.
As vendas da Americanas foram menores em relação ao último ano em diversos segmentos, as margens foram reduzidos em razão de um processo de desalavancagem da empresa e houve uma grande queima de caixa no período. Assim, as projeções de recuperação do setor ficaram para o próximo ano.