Muitas vezes, as pessoas tomam decisões baseadas em motivos não tão racionais, inclusive em relação aos investimentos. Na psicologia, isso se chama viés de comportamento, e um dos que mais atingem os investidores é o efeito disposição, pelo medo do prejuízo.
Esse padrão mostra que, de forma geral, o medo de perder mexe mais com o ser humano do que a possibilidade de ganhar. Isso faz com que muitos investidores sejam mais tolerantes com as perdas do que deveriam em algumas, ocasiões, ao mesmo tempo que não aproveitam totalmente o potencial de um ativo rentável.
Para não incorrer neste erro com os seus investimentos, continue a leitura e entenda como funciona esse perigoso viés comportamental.
O que é o efeito disposição?
O efeito disposição é a tendência que muitos investidores têm de manter na carteira ativos que se desvalorizam (na esperança de reaver as perdas) e, ao mesmo tempo, vender rapidamente um ativo assim que começa a sua alta.
Esse comportamento é explicado pela teoria da perspectiva, desenvolvida por Daniel Kahneman (ganhador do Nobel de Economia) e Amos Tversky no final dos anos 70. Segundo esse conceito, a aversão à perda costuma ter mais influência sobre as decisões dos investidores do que as perspectivas de ganhos.
Por exemplo, quando uma ação começa a subir, é comum que o investidor realize a sua venda rapidamente, sem avaliar se ela pode continuar a se valorizar. É a velha máxima de “dinheiro bom é dinheiro no bolso”, não importando se a venda da ação possa ter sacrificado as chances de rentabilidade da carteira ali na frente.
Em contrapartida, quando uma ação se desvaloriza, o investidor fica paralisado e se recusa a vendê-la, ao menos no curto prazo. Nessa situação, mesmo que o ativo continue caindo, resta sempre a esperança de que ele volte a subir, seja por medo de encarar o prejuízo ou mesmo por teimosia em admitir uma perda na carteira.
Como o efeito disposição impacta os investimentos?
Suponha que você tenha na carteira uma ação que começou a se valorizar recentemente. Na pressa de realizar o lucro, você não avalia os motivos pelos quais o papel pode ter subido – se o mercado está favorável para o setor, se algo aconteceu que tenha melhorado os fundamentos, se houve uma fusão e a empresa pode se valorizar mais ainda, e assim por diante. Se alguma dessas hipóteses fizer sentido (ou todas elas), você provavelmente perdeu uma boa chance de ver o seu patrimônio crescer.
Agora imagine a situação contrária: uma ação da sua carteira começa a cair de forma regular durante semanas seguidas. Quando a perda alcança 10%, você continua segurando o papel, pois acredita em uma reversão mesmo sem ter avaliado o contexto da desvalorização. No entanto, as perdas continuam e batem 20%, 30% ou mais.
Em casos extremos, há quem continue se recusando a enxergar que algo muito ruim pode ter acontecido com a ação, a ponto de comprá-la novamente, para “aproveitar a oportunidade”.
“Não há nada mais irracional do que se apegar a investimentos perdedores e se livrar dos vencedores quando eles têm apenas um pequeno lucro”, alerta o professor de Finanças André Massaro. Segundo ele, a queda de uma ação pode ser utilizada para planejar como pagar menos impostos nos investimentos.
“Quando você vende as ações perdedoras, consegue realizar o prejuízo e acumular créditos fiscais. Então, quando já tiver explorado todo o potencial de valorização das vencedoras e for vendê-las, poderá utilizar esses créditos fiscais para pagar menos imposto”, explica Massaro.
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O que fazer para não cair em armadilhas comportamentais?
Como vimos, o viés comportamental acontece quando não guiamos nossas decisões por fatores racionais. Em vez disso, nos deixamos levar por sentimentos de euforia, medo, aversão, repetição, e tudo isso pode vir a causar prejuízos quando agimos assim em relação aos investimentos e às finanças de maneira geral.
Por ser algo intrínseco ao comportamento humano, não há uma fórmula exata para evitar um viés comportamental. Mas existem alguns aspectos que podem ajudar a não cair nessa armadilha, em especial quando falamos de efeito disposição, como veremos a seguir.
Analisar o ativo e as condições de mercado
Logo, para evitar o efeito disposição nos investimentos, o fundamental é tentar entender o que causa a movimentação dos ativos.
Quando uma ação cai, isso pode ser reflexo de realização de lucros ou qualquer outro movimento de mercado que não tenha a ver com os fundamentos da empresa ou com as perspectivas do negócio. Mas se o motivo for piora nos indicadores financeiros, problemas de gestão ou condições desfavoráveis de mercado, por exemplo, pode ser interessante vender o título o quanto antes, para que as perdas não aumentem.
Comprar na baixa para esperar a alta nem sempre funciona
Uma das estratégias mais utilizadas por quem investe em ações para o longo prazo é o value investing. Basicamente, quem adota essa prática busca investir em ações descontadas, ou seja, abaixo do seu valor intrínseco.
Muitos investidores famosos fizeram suas fortunas crescer com o value investing – inclusive, Warren Buffett é um dos seus principais expoentes até hoje. Porém, o fato de uma ação estar barata não significa, necessariamente, que ela tenha potencial de valorização. Voltando ao item anterior, o importante é saber avaliar aspectos como fundamentos da empresa, posicionamento frente à concorrência, perspectivas de mercado, entre outros, para saber se o título pode trazer uma boa rentabilidade. Caso contrário, as chances de estarmos diante de um mico na bolsa podem ser grandes.