Mico na bolsa: como identificar e fugir em tempo?

Tempo de leitura: 5 minutos

Imagem de macaco faz alusão a mico na bolsa
Imagem de macaco faz alusão a mico na bolsa

Quem costuma acompanhar o mercado financeiro, sabe que não faltam touros, ursos, tubarões, e alguns micos na bolsa para completar a “selva”. Esses últimos aparecem de tempos em tempos, e podem causar um bom estrago no patrimônio de quem é desatento ou está mal informado sobre o que acontece no mercado.

É claro que não se pode controlar eventos como crises financeiras ou problemas pontuais em determinados setores ou empresas. Porém, há como treinar o olhar na hora de analisar os investimentos, para minimizar a exposição a riscos desnecessários, e é sobre isso que falaremos a seguir.

O que é um mico na bolsa?

O “mico” no mercado financeiro nada mais é do que uma ação ou algum outro ativo cujas expectativas são demasiadamente baixas, geralmente ancoradas em uma decepção na performance esperada. Isso pode acontecer quando o investidor adquire o título por um valor baixo, à espera de uma valorização que nunca vem, ou quando o ativo está no auge e despenca devido a algum fato ligado aos seus fundamentos, às condições de mercado, ou a ambos.

Não existe uma regra clara, mas muitos usam o termo mico como um sinônimo de “penny stock”, uma ação que vale abaixo de R$ 1. A B3, porém, encoraja grupamentos de ações que estão próximos desse valor, o que faz com que, muitas vezes, a ação de um mico passe a ter um valor mais alto – abrindo espaço para mais quedas. Outra definição, menos comum no mercado, associa “micos” às micro caps – empresas de baíxissimo valor de merado.

Seja como for, quando uma ação é considerada um mico na bolsa, é sinal de que, dificilmente, irá ocorrer alguma reversão positiva no seu desempenho. Logo, investir em micos não é, nem de longe, uma boa alternativa para quem adota o value investing, pois, nesse caso, a velha máxima de “comprar na baixa e vender na alta” se torna muito arriscada.

Alguns micos famosos

O que torna um mico mais ou menos impactante no mercado é, logicamente, a sua dimensão em termos de valores e investidores envolvidos. Veja a seguir alguns do que mais causaram prejuízos nos últimos tempos.

Americanas (AMER3)

Em janeiro de 2023, veio à tona um rombo no balanço da varejista por conta de operações de risco sacado que não vinham sendo corretamente contabilizadas. A descoberta da fraude contábil – inicialmente estimada em R$ 20 bilhões mas que, de fato, somavam quase o dobro – ocasionou o pedido de demissão do então CEO Sergio Rial, que havia assumido o cargo poucos dias antes do escândalo.

Um dia depois do estouro, as ações da Americanas despencaram quase 80%, o que fez a companhia perder cerca de US$ 8 bilhões em valor de mercado. De lá para cá, as coisas só pioraram, pois enquanto a empresa se mobilizava internamente para apurar responsabilidades, os investidores acionavam a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) para que tomasse providências que pudessem reverter ou atenuar as perdas.

Resultado: a empresa entrou em recuperação judicial, e as suas ações, que chegaram a alcançar R$ 125 na máxima, valem hoje R$ 0,70. Ao que tudo indica, o mico é irreversível, ainda mais depois do término da CPI que investigou o caso e não apontou oficialmente nenhum responsável pela fraude.

IRB (IRBR3)

O IRB – Instituto de Resseguros do Brasil – era uma estatal federal até a sua estreia na bolsa, em 2017. A empresa havia sido criada no governo de Getúlio Vargas, em 1939, quando havia o monopólio estatal do segmento de resseguros.

O IPO foi a fase final da desestatização do IRB, que ocorreu por meio de uma oferta secundária de ações na qual Banco do Brasil, Caixa, Bradesco e Itaú levantaram R$ 2 bilhões. Já nos primeiros anos de negociações no pregão, a companhia chamava atenção pelos resultados acima da média que apresentava. Em 2018, enquanto o ROE (retorno sobre o patrimônio líquido) da concorrência era de 5% em média, o do IRB bateu 34%.

Os problemas começaram no início de 2020, quando a gestora Squadra anunciou que mantinha uma posição short (vendida) na empresa. Ou seja, ela apostava na desvalorização das ações, e o motivo foi a falta de confiança nas demonstrações contábeis que o IRB divulgava.

“Em nossa opinião, existem indícios que apontam para lucros recorrentes significativamente inferiores aos lucros contábeis reportados nas demonstrações financeiras da companhia. Essa disparidade entre lucro contábil e lucro normalizado foi crescente durante o período, e atingiu suas maior diferença nos resultados trimestrais mais recentes”, declarou a gestora em carta publicada em 2 de fevereiro de 2020.

Nos dias seguintes, o IRB tentou rebater as acusações de fraude contábil, mas uma segunda carta da gestora contrapôs todos os pontos contestados. Logo depois, as ações caíram quase 30% e ocorreu a renúncia do presidente do conselho na ocasião, que alegou motivos pessoais para deixar o cargo.

Com o passar do tempo, foram aparecendo outros problemas e fraudes administrativas. A ação do IRB, que chegou a ser negociada na faixa de R$ 1.200, beira hoje os R$ 40.

Oi (OIBR3; OIBR4)

O imbróglio da Oi já se arrasta por quase sete anos. Em março de 2023, a companhia entrou oficialmente com a segunda recuperação judicial (dessa vez, com passivo de R$ 43,7 bilhões), apenas três meses depois de encerrado o primeiro processo.

Ao longo dos anos, a companhia adquiriu diversos negócios para continuar crescendo, e esse foi um dos principais problemas que comprometeram os seus resultados. Muitas dessas empresas tinham resultados fraquíssimos e estavam atoladas em dívidas, como a Brasil Telecom, por exemplo. Para completar, a Oi não recebeu os R$ 3,2 bilhões que esperava quando da fusão com a Portugal Telecom. Isso porque o dinheiro da negociação estava aplicado em títulos podres do banco português Espírito Santo, que faliu pouco tempo depois da fusão.

A história vai longe, pois vários outros erros vieram acontecendo desde então, como a participação em empresas fora do foco do negócio. Tudo isso fez a Oi acumular uma dívida bilionária e impagável, se não fosse pela nova recuperação judicial, que lhe trouxe um pouco mais de fôlego. Mas isso não foi suficiente para reverter a queda estrondosa de suas ações, que atingiram máxima de R$ 2.580 e hoje são negociadas a menos de um real.

Afinal, como fugir de um mico na bolsa?

Existem vários indícios que podem apontar para um mico na bolsa, como endividamento excessivo, histórico de resultados fracos, informações pouco transparentes, escândalos ou atritos constantes na gestão, e por aí vai. Portanto, para não embarcar em uma furada, o primeiro passo é conhecer os fundamentos da empresa e acompanhar o mercado, para entender a evolução do negócio e compará-lo à concorrência.

Luis Novaes, analista da Terra Investimentos, chama atenção também para outros aspectos. “Além de prestar atenção nos fundamentos da empresa antes de investir, o que a gente costuma dizer para os clientes é que, em determinados momentos, a perspectiva que se tinha sobre um ativo pode ter mudado. Nessas horas, é necessário rever o investimento”, alerta.

Segundo ele, mesmo vendo um cenário de perda com poucas chances de reversão, alguns investidores resistem a desmontar a posição e realizar o prejuízo. “No entanto, quando uma empresa passa por um choque muito grande, pode levar anos até se que se recupere, e isso pode vir a não acontecer de fato., Por isso, vale sempre a pena rever um investimento realizado, observar se não seria melhor recuperar as perdas em outro ativou ou apenas tentar evitar mais prejuízo em uma ação que pode se tornar ainda mais estressada”.

Como boa prática, Novaes alerta para a importância de que se faça o rebalanceamento da carteira de tempos em tempos. Veja no link abaixo como manter o portfólio equilibrado:

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