Nos últimos meses, fatores internos e externos têm contribuído com a melhora das perspectivas para a economia brasileira. Em junho, a inflação medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) caiu 0,08% em relação ao mês de maio, principalmente puxada pela queda dos preços de alimentos, combustíveis e carro novo. Essa é a primeira deflação de 2023, sendo que, com esse resultado, a inflação acumulada de 12 meses (até junho) fecha em 3,16%, contra 3,94% até maio.
Outro fator positivo no cenário nacional é a reação do PIB (Produto Interno Bruto), cuja projeção foi elevada recentemente pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), de 1,2% para 2,3% em 2023. Soma-se ao otimismo a aprovação da reforma tributária pela Câmara, que torna mais simples e transparente as regras tributárias brasileiras, trazendo mais segurança ao investimento internacional.
Em relação ao mercado internacional, também se espera melhora quanto ao crescimento da economia. Nos Estados Unidos, o mercado de trabalho continua aquecido, bem como o consumo das famílias e o setor de serviços. Já a China, que ainda sofria os efeitos da pandemia sobre a economia em 2022, deve crescer algo em torno de 5% este ano. Os dados são do último relatório “Visão Geral da Conjuntura”, do IPEA (Instituto de Política Econômica Aplicada), divulgado no início de julho.
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E o que mais esperar da economia brasileira em 2023?
A seguir, veja com mais detalhes alguns dos principais aspectos que estão mexendo com o cenário econômico nacional.
Queda da inflação
Em junho, as quedas da gasolina (-1,14%), do etanol (-5,11%) do diesel (-6,68%) e do gás veicular (-2,77%) tiveram forte impacto na deflação registrada no mês. O recuo desses preços refletiram os cortes anunciados pela Petrobras, em linha com a mudança de sua política de preços que ocorreu em maio.
Alguns alimentos também influenciaram no recuo do IPCA de junho, com destaque para a queda dos preços do óleo de soja (8,96%), frutas (-3,38%), leite longa vida (-2,68%) e carnes (-2,10%). Lembrando que o preço da carne já acumula queda de 5,92% em 2023.
Já os preços do automóvel novo caíram 2,76% em junho, fruto de descontos entre R$ 2 mil e R$ 8 mil em 125 mil unidades comercializadas no mês, número fornecido pelo MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços). Os preços dos usados também recuaram 0,93% no período.
Para os próximos meses, economistas esperam oscilações para cima no IPCA. Nesse sentido, alguns dos fatores que deverão impactar o índice são o retorno total do PIS/Cofins para a gasolina e etanol e o fim do “bônus de Itaipu” nas contas de luz – um crédito que a usina tem sobre a venda de energia que é repassado ao cliente. Porém, a expectativa é de que a volatilidade do IPCA seja pequena e não influencie a perspectiva de queda da Selic nos próximos meses.
Crescimento do PIB
No Informe Conjuntural do 2° trimestre de 2023 divulgado pela CNI, a entidade revisou a projeção do PIB brasileiro de 1,2% para 2,1% em 2023. A melhora prevista para o indicador deve-se ao robusto crescimento do agro, impulsionado fortemente pela safra de soja.
Porém, na contramão do agro, os outros setores da economia vêm desacelerando, ou mesmo encolhendo. Nesse sentido, os juros altos seguem penalizando não só as empresas, mas também consumidores, pois o atual nível de endividamento compromete a renda a ponto de dificultar o avanço da atividade industrial. O mesmo acontece com o setor de serviços, que desacelerou depois dos avanços de 2020 para cá.
“Em contraste com a desaceleração da indústria e serviços, o agro foi o destaque do PIB no 1° trimestre de 2023, com crescimento de 21,6% após quatro trimestres consecutivos de queda. A retomada da produção de soja a patamares recordes e os aumentos de área e de produtividade, incentivados pela alta dos preços das commodities em 2022, contribuíram para as contínuas revisões positivas da expectativa da safra brasileira para este ano, o que deve ocasionar um avanço de 13,2% do PIB agropecuário em 2023”, declarou a entidade no relatório.
A boa performance do agro se reflete também no mercado externo, com exportações que bateram recorde de janeiro a maio, ao mesmo tempo que as importações recuaram. Por outro lado, o desempenho da indústria continua deixando a desejar, com nível de atividade abaixo do registrado antes da pandemia. Além da restrição de crédito e inadimplência da população, fatores associados à infraestrutura e sistema tributário também contribuem para esse cenário restritivo.
Mercado internacional
Apesar do aperto monetário dos últimos anos, o mercado de trabalho norte-americano permanece aquecido, o que se reflete positivamente no consumo das famílias e no setor de serviços. Por outro lado, segundo dados do IPEA, a Zona do Euro enfrenta cenário mais desafiador, embora com pequena melhora na perspectiva de crescimento para 2023, que passou de -0,1% em março para 0,6% em junho.
Já a China, que cresceu somente 3% em 2022 (número abaixo do histórico do país, que ainda sofria com problemas relacionados à pandemia), deverá crescer mais de 5% neste ano, segundo projeções atualizadas. Com a reabertura da economia chinesa e redução da oferta internacional – problemas climáticos na Argentina e EUA contribuíram para isso – espera-se uma melhora na demanda externa por commodities brasileiras.
Quanto ao petróleo, o volume de óleo bruto exportado cresceu 22,4% no primeiro trimestre de 2023 em comparação com o mesmo período do ano passado, segundo dados do MDIC. A performance positiva se manteve em abril e maio, meses que acumularam alta de 43,2% na mesma base de comparação.
O minério de ferro também teve desempenho positivo, com aumento de 10,7% no volume exportado de janeiro a maio deste ano, em comparação com o mesmo período de 2022. De acordo com o IPEA, entre os destaques no aumento de quantidades exportadas nos primeiros cinco meses de 2023 também estão: minério de alumínio, aeronaves, arroz, milho, carne suína e açúcar. Em contrapartida, a indústria automotiva brasileira continua com dificuldades para vender veículos de passageiros ao exterior. Nesse sentido, o crescimento das exportações foi de apenas 2,3% de janeiro a maio, depois de ter experimentado aumentos significativos em 2022 (17,4%) e 2021 (60,8%).