Nesta quarta-feira (2), o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) decidiu, depois de mais de dois anos, cortar a Selic, em 0,5 ponto percentual. Essa é a primeira redução da taxa básica de juros desde março de 2021. A maioria dos membros do comitê entendeu que a queda se justifica em função da melhora do quadro inflacionário do país.
Nos últimos dias, o foco das discussões sobre a Selic foi a magnitude do corte, pois a queda já era dada como certa, por conta da reação dos indicadores macroeconômicos. Foi o que mostrou o Indicador de Incerteza da Economia (IIE-Br), que recuou para 103,5 pontos em julho – queda de 4,1 pontos – chegando ao menor nível desde novembro de 2017. Em entrevista ao Valor Econômico, a economista Ana Carolina Gouveia, responsável pelo índice na Fundação Getúlio Vargas (FGV), destacou que a maior clareza sobre a condução da política econômica nos últimos meses também contribuiu para reduzir as incertezas domésticas.
Se já era consenso o início do ciclo de queda da Selic, o mesmo não ocorre em relação ao ritmo da trajetória de recuperação econômica. Isso porque não sabemos qual será a postura do Copom daqui para frente, e ainda há névoas no cenário internacional que afetam o Brasil em maior ou menor escala.
Afinal, o que esperar daqui para frente? O que está acontecendo nas grandes economias ao redor do mundo, e quais as perspectivas? Sobre isso, conversamos com Luis Novaes, analista de research da Terra Investimentos. A seguir, confira a avaliação que ele fez do cenário atual, e como isso se reflete na economia e no mercado financeiro brasileiro.
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O momento é diferente nos EUA e Europa
Em relação a América Latina, os Estados Unidos e os países europeus começaram tarde o ciclo de alta dos juros. Na última semana, o Fed (banco central americano) e o Banco Central Europeu elevaram suas taxas em 25 pontos-base. Mesmo que ambas as decisões já fossem esperadas, Novaes ressalta que as economias vivem momentos distintos entre si.
“Nos EUA, a atividade econômica permanece alta e o mercado de trabalho robusto. Isso coloca em dúvida a efetividade da postura hawkish adotada pelo FED, e se realmente se atingiu o fim do ciclo de alta dos juros. Já na Europa, o BCE observa com cautela os dados fracos da atividade econômica do continente, apesar de ter dado sinalização do fim do ciclo de juros em alta”, pontua o analista.
Ásia também enfrenta incertezas
Novaes observa que as principais economias da Ásia também vivem momentos de incerteza quanto à política monetária. Nesse sentido, a China – atualmente o grande expoente do crescimento global – tem enfrentado dificuldades em sua retomada econômica após anos de política de extensivo combate ao coronavírus, enquanto seus dados de inflação seguem saudáveis para os padrões internacionais.
“Na China, a conjuntura atual abre espaço para uma política monetária expansionista. Porém, até o momento, há poucas sinalizações por parte do governo de que isso de fato ocorrerá no futuro breve, apesar das elevadas expectativas do mercado”, avalia.
Por sua vez, o Japão vem contrariando seu histórico de baixa inflação, com os indicadores acima da meta, o que parece não estar preocupando a autoridade monetária local. Nesse sentido, Novaes observa que o país continua defendendo a manutenção de sua postura de acomodação, alegando que “os preços devem arrefecer ao longo do ano, não sendo necessária nenhum tipo de interferência na economia”. Segundo o analista, essa atitude das autoridades monetárias japonesas divide opiniões no mercado.
E como tudo isso impacta o Brasil?
Podemos observar que as economias vivem momentos diferentes ao redor do mundo. Enquanto os países latino-americanos estão deixando as políticas contracionistas, o Hemisfério Norte ainda discute o fim do aperto monetário, ao passo que as potências da Ásia analisam seus casos específicos.
Segundo Novaes, a queda dos juros no Brasil tem potencial impacto positivo sobre a bolsa, pois isso dá uma vantagem aos ativos de risco em comparação aos menores rendimentos na renda fixa. Além disso, a Selic mais baixa favorece o crédito, o que também é vantajoso para as empresas.
Por outro lado, juros mais altos nos EUA e mais baixos por aqui favorecem os títulos soberanos americanos, tendo em vista a qualidade do risco do país. O mesmo acontece com os juros altos na Europa, porém de forma menos significativa em relação à alta da taxa norte-americana. Mas, como a perspectiva é de que os juros reais continuem altos no Brasil por um bom tempo ainda, isso não deverá trazer reflexos negativos, ao menos no curto prazo.
Para o analista, outro ponto que irá merecer atenção nos próximos tempos são os efeitos que a política contracionista nos EUA e Europa pode vir a causar na economia local.
“Os dados recentes americanos serviram para afastar a hipótese de uma recessão já esse ano nos EUA. Mas a perspectiva ainda é negativa para o próximo ano no Hemisfério Norte, tendo em vista a curva invertida dos juros ao longo dos últimos meses. Esse cenário gera preocupações com relação ao investimento local, pois uma desaceleração em âmbito global deve trazer prejuízos para diversas empresas, como exportadores agrícolas ou bens de capital, o que pode atingir o Brasil”, alerta Novaes.
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