Durante todo o ano de 2022, as projeções de analistas apontavam para um aumento da inadimplência, resultado da combinação entre uma Selic mais alta, desaceleração econômica e instabilidades no cenário pré-eleitoral. Aliado a isso, o efeito Americanas contribuiu para apertar um pouco mais o resultado dos bancos no 4° trimestre de 2022, afetando o provisionamento das instituições mais expostas ao risco da companhia.
Neste conteúdo, preparamos um resumo sobre a performance no 4° tri 2022 dos quatro maiores bancos do mercado brasileiro: Banco do Brasil, Itaú, Bradesco e Santander. Para conferir os principais indicadores e a análise da equipe da Terra Investimentos, continue a leitura a seguir.
Banco do Brasil (BBAS3)
– Lucro líquido: R$ 8,62 bilhões
– Margem financeira: R$ 14,91 bilhões
– Carteira de crédito: R$ 1,0 trilhão
– Patrimônio líquido: R$ 153,54 bilhões
Fechando um ano significativamente positivo, o Banco do Brasil supera as expectativas mais uma vez. Nesse sentido, o resultado se deve, principalmente, ao seu portifólio favorecido pelo ambiente de altos juros básicos.
Luis Novaes, analista da Terra Investimentos, observa que o banco também sofreu o efeito negativo do aumento de provisionamento em razão do caso Americanas. “No entanto, como sua exposição era menor do que a dos concorrentes, o provisionamento foi menor e parcial, o que impactou moderadamente o resultado”, explica o analista.
Outro ponto que Novaes destaca é a deterioração da qualidade do crédito à pessoa física, da mesma fo0rma que podemos observar nos balanços das outras instituições financeiras, não só no 4T22 mas em todo o ano passado. “Isso é compreensível, devido aos juros altos, porém o guidance divulgado sinaliza para mais um ano positivo para o banco. Um dos motivos é a redução da insegurança do mercado sobre intervenção estatal, após a nomeação de um funcionário de carreira do banco para a presidência. Sem dúvida, esse é um fator importante para a análise das perspectivas do Banco do Brasil”, avalia.
Itaú (ITUB4)
– Lucro líquido: R$ 8,07 bilhões
– Margem financeira: R$ 23,90 bilhões
– Carteira de crédito: R$ 1,14 trilhão
– Patrimônio líquido: R$ 177,34 bilhões
Novamente, o Itaú entrega um resultado sólido. A direção do banco decidiu pelo provisionamento total da sua exposição junto à Americanas, mas utilizando também reservas já contabilizados no balanço patrimonial, o que conteve o impacto na lucratividade do trimestre.
“Vemos a decisão como positiva, pois retira os efeitos negativos de provisionamentos futuros ou inadimplência referente ao caso. Apesar do ocorrido, a carteira de crédito segue em expansão, contando com uma rentabilidade maior em um ambiente de altos juros básicos”, observa Novaes.
O analista também destaca o resultado de tesouraria positivo do banco, apesar da instabilidade no mercado. “Em mais um demonstrativo de robustez de sua estrutura, o Itaú termina o ano bem-posicionado diante da perspectiva desafiadora para o setor”, avalia o analista da Terra Investimentos.
Bradesco (BBDC4)
– Lucro líquido: R$ 1,59 bilhão
– Margem financeira: R$ 17,5 bilhões
– Carteira de crédito: R$ 891,9 bilhões
– Patrimônio líquido: R$ 158,74 bilhões
No 4T22, o desempenho do Bradesco ficou bem abaixo do esperado pelo mercado. Nesse sentido, o principal fator negativo para o banco foi a deterioração da qualidade de crédito nas carteiras de pessoas físicas e pequenas empresas.
“Isso já era esperado, por causa da exposição do Bradesco às faixas de renda mais baixas da economia, em um ambiente de juros elevados. Além disso, o caso Americanas também deixou sua contribuição negativa, mas o provisionamento total para a exposição do banco por ser visto como positivo, pois retira esse efeito das próximas divulgações”, avalia Novaes.
O analista ainda aponta que os resultados em tesouraria permanecem negativos, mas com melhora nos números. Além disso, o segmento de seguros apresenta solidez, favorecido pelo ambiente. O Bradesco finaliza um ano fraco, e diante das pressões persistentes, a direção adota uma postura conservadora quanto ao desempenho desse ano.
Santander (SANB11)
– Lucro líquido: R$ 1,68 bilhão
– Margem financeira: R$ 12,71 bilhões
– Carteira de crédito: R$ 572,66 bilhões
– Patrimônio líquido: R$ 81,96 bilhões
Os números do Santander também vieram abaixo do esperado no 4° trimestre de 2022. Segundo Novaes, após sofrer consecutivamente com o efeito da deterioração da qualidade de crédito, o banco mudou a postura quanto à concessão, tornando-se mais conservador.
Outro fator que contribuiu para o desempenho negativo do Santander foi a alta das provisões, com forte impacto da Americanas. Lembrando que, nesse caso, o provisionamento do banco não cobriu integralmente a sua exposição junto à companhia.
Novaes ainda destaca que os resultados em tesouraria foram penalizados pela instabilidade no mercado, ao passo que as tarifas com cartão de crédito e gestão de recursos apresentam crescimento. “A tendência negativa demonstrada pelo Santander resulta em projeções cautelosas do mercado em relação ao próximo ano, que deve ser desafiador para o setor”, observa
Conclusão
A exemplo da divulgação anterior de resultados, Banco do Brasil e Itaú demonstram estar à frente de seus pares. No caso do Itaú, uma grande vantagem é possui menor exposição às classes baixas, mais suscetíveis à inadimplência em momentos de situação econômica adversa. Além disso, Novaes destaca que, historicamente, o banco apresenta resultados sólidos.
Já o Banco do Brasil vem de uma boa sequência de resultados, e o temor de intervenção estatal diminuiu consideravelmente após a nomeação de um funcionário de carreira do banco. Segundo o analista, isso sustenta a perspectiva de que possa manter sua rentabilidade nesse ano.
Na opinião da Terra Investimentos, apesar de o ambiente se mostrar desafiador tanto para o Bradesco quanto para o Santander, há um espaço maior de valorização para o primeiro. Pelo fato de o Bradesco ter perdido mais valor nos últimos meses, teoricamente teria mais espaço para crescer do que o Santander.
Por fim, Novaes observa que ainda há muitas incertezas sobre quando se dará o início do ciclo de baixa da taxa de juros, o que poderia diminuir a pressão sobre o endividamento das famílias e empresas e, consequentemente, dos bancos. Também há dúvidas sobre se a concessão de crédito será impactada pelo caso Americanas, tendo em vista que os bancos podem adotar uma postura mais conservadora em resposta ao provisionamento significativo da último trimestre.