No dia 15 de agosto, as ações da Americanas (AMER3) voltaram a assustar o mercado, fechando a R$ 0,14, um tombo de quase 60% em relação ao fechamento anterior – a maior queda intradia da série histórica. Desde então, o papel começou a derreter, chegando ao menor valor histórico de R$ 0,07 em 21 de agosto.
Por que as ações da Americanas derreteram ainda mais nos últimos dias ?
O movimento refletiu principalmente a divulgação dos números do primeiro semestre de 2024. Segundo analistas, o que preocupou mais do que o prejuízo de R$ 1,4 bilhão foi a queima de caixa operacional ocorrida de janeiro a junho deste ano, no valor de R$ 2 bilhões.
Em mensagem ao mercado, a Americanas afirmou que os ajustes de curto e médio prazo promovidos fizeram com que a fase crítica fosse superada, mas que ainda havia muito trabalho pela frente. No entanto, o último balanço mostrou que o atual patamar de vendas no varejo não é suficiente para que a companhia faça caixa com a sua principal atividade.
Outro fato que demonstra a frágil situação operacional é a progressiva redução das vendas nas lojas físicas e online, medida pelo GMV (volume bruto de mercadorias), que vem caindo sistematicamente. Em 2022, no acumulado do ano, o GVM bateu R$ 42 bilhões, despencando para R$ 22 bilhões ao final de 2023. E tornou a cair no primeiro semestre deste ano, somando R$ 10 bilhões contra R$ 11 bilhões na comparação anual.
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O término do período de lock-up, em 15 de agosto, também contribuiu para afundar as ações da Americanas no pregão. Desde então, os credores que receberam ações como pagamento das dívidas relativas à recuperação judicial estão livres para vender os títulos.
Um dos credores que exerceu esse direito foi o Santander, que reduziu sua participação na Americanas para 4,87% logo após o fim do lock-up. Apesar de não confirmar quantas ações tinha antes da venda, o mercado especula que a participação do banco no capital da empresa era de 7%.
Para completar as más notícias e aumentar os temores, a companhia informou que não divulgará mais o guidance – suas projeções financeiras para os próximos meses.
Aumento de capital e grupamento de ações
Em 25 de julho, a empresa homologou um aumento de capital na ordem de R$ 24,5 bilhões. Desse valor, R$ 12 bilhões foram subscritos pelos três acionistas de referência – Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira.
O aumento de capital é parte do plano de recuperação judicial, e contemplou a emissão de 18 bilhões de novas ações ao preço unitário de R$ 1,30. Conforme fato relevante, a operação contou também com a emissão de bônus de um título para cada três subscritos.
Na mesma data, a Americanas anunciou a realização de um grupamento de ações, previsto para o dia 26 de agosto, na proporção de 100 para um. O objetivo é tentar se livrar da condição de penny stock (papéis que custam menos de um real), para reduzir a volatilidade dos títulos.
Incertezas daqui para frente
Segundo Enrico Cozziolino, head de análises da Levante Investimentos, não há como prever os próximos passos deste momento difícil. Ao portal InfoMoney, ele declarou acreditar que o movimento vendedor continue, e que a retirada do guidance teria contribuído para aumentar as dúvidas do mercado, que já estava inseguro frente a tantos adiamentos de publicações de resultados. Para o head, isso torna o cenário mais complexo ainda, e demonstra falta de governança.