O Bradesco (BBDC4) reportou lucro líquido recorrente de R$ 2,87 bilhões no 4° trimestre de 2023 (4T23), alta de 80,4% em comparação ao mesmo período de 2022 mas bem abaixo das expectativas do mercado. O consenso Bloomberg apontava para lucro líquido de R$ 4,79 no último trimestre do ano passado.
No acumulado de 2023, o lucro líquido recorrente atingiu R$ 16,29 bilhões, queda de 21,2% em relação ao exercício anterior.
A piora do resultado em 2023 se deve ao aumento da PDD (provisão para devedores duvidosos), que somou R$ 39,54 bilhões no ano contra R$ 32,29 bilhões em 2022 (alta de 14,5%) e à queda da margem financeira com clientes, que fechou 2023 em R$ 64,88 bilhões contra R$ 67,77 bilhões um ano antes (-2,6%). Na divulgação dos resultados desta quarta-feira (7), o banco informou que a contração da margem financeira se deve à menor concessão de crédito e mudança de mix.
Para conter a inadimplência, o Bradesco segurou algumas contratações de crédito, em especial, as linhas de maior risco. Segundo a instituição, a originação de crédito voltou a acelerar no segundo semestre de 2023, mas seus efeitos sobre a receita só serão sentidos a partir do segundo semestre deste ano.
“As novas safras vêm apresentando qualidade alta de crédito, mesmo quando aceleramos a originação. Destaque para a aceleração do crédito no varejo massificado e MPME, segmentos nos quais somos líderes e possuem rentabilidade potencial mais elevada. Considerando a qualidade das novas safras, vemos espaço para continuar expandindo a originação”, declarou o Bradesco.
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O que esperar da temporada de balanços do 4T23?
Outro fator que contribuiu para a queda do resultado do Bradesco (BBDC4) no 4T23 foram eventos não recorrentes que totalizaram R$ 1,17 bilhão. Deste valore, R$ 570 milhões se referem a gastos com reestruturação de agências, R$ 547 a passivos contingentes e R$ 58 a impairment de ativos para prestação de serviços financeiros e softwares.
Já a margem com mercado (operações de tesouraria) fechou o 4T23 positiva em R$ 696 milhões, revertendo o prejuízo de R$ 803 milhões do último trimestre de 2022.
A margem financeira líquida do banco no 4T23 foi de R$ 5,60 bilhões. No acumulado do ano, a rubrica totalizou R$ 25,65 bilhões, ante R$ 34,08 bilhões em 2022, queda de 24,7%.
Novo plano estratégico
Desde novembro do ano passado, o Bradesco está sob a gestão de Marcelo Noronha. Em coletiva realizada logo após a divulgação dos números do 4T23, o CEO apresentou o novo plano estratégico para a instituição para os próximos cinco anos. O objetivo das novas diretrizes, segundo ele, é reverter os problemas dos três últimos exercícios.
A ideia do principal executivo do banco é atuar simultaneamente nos pontos mais críticos. “Não vamos escolher um único foco, e sim fazer tudo ao mesmo tempo”, afirmou Noronha na coletiva de imprensa.
Os problemas do Bradesco (BBDC4) se agravaram durante a pandemia. Com juros mais baixos, o banco abriu as torneiras a partir de 2020 e a concessão de crédito disparou. Logo depois a inadimplência também saltou, crescendo a cada trimestre, até culminar no balanço do 3° trimestre de 2022, um dos piores do banco e que assustou o mercado a ponto de as ações caírem 17% em um único dia. No trimestre seguinte, veio o golpe final: o com o calote da Americanas, o que piorou ainda mais os números da instituição.
“Estamos acelerando a transformação do banco, com a execução de um plano estratégico que parte de diagnóstico profundo e realista e tem ambições claras. A implementação desse plano se estenderá pelos próximos anos. Já colheremos os frutos em 2024, mas os benefícios crescerão a partir de 2025”, declarou o Bradesco.
Para a carteira de crédito expandida, o banco prevê crescimento entre 7% e 11% em 2024. Já a evolução da margem financeira total deverá ficar entre 2% e 6%.