Americanas (AMER3): inconsistências de R$ 20 bi e saída do CEO geram queda de até 80%

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Imagem mostra fachada de uma loja Americanas
Imagem mostra fachada de uma loja Americanas

Mais uma notícia mexeu com os ânimos do mercado nesse movimentado início de ano. No final dessa quarta-feira (11), Sergio Rial, CEO da varejista, anunciou seu desligamento da empresa, após encontrar inconsistências contábeis na ordem de R$ 20 bilhões. Com a saída de Rial e a descoberta, as ações passaram por grande instabilidade, em leilão pela manhã inteira e chegando a cair até 80% no intraday desta quinta-feira (11), chegando a R$ 2,40.

No início de 2023, Rial, ex-presidente do Santander Brasil, substituiu Miguel Gutierrez que estava no comando das Americanas há 20 anos. A saída no novo CEO do grupo aconteceu logo após ele e o diretor de relações com investidores, André Covre, terem assinado fato relevante que identificou “inconsistências contábeis na ordem de R$ 20 bilhões” nos números da companhia. Na declaração, não ficou claro se todo esse montante está fora do balanço, ou se parte dele já pode ter sido baixado. Ao que tudo indica, parece que essa inconsistência contábil tem a ver com operações bancárias relacionadas ao financiamento de fornecedores. Se for isso, os juros dessas operações também deveriam ter sido contabilizados como dívidas bancárias.

O comunicado ao mercado cita ainda que haverá ajuste no patrimônio líquido. Se o valor do ajuste for de R$ 20 bilhões, a companhia pode ficar com passivo a descoberto (PL negativo) caso não ocorra aporte por parte dos acionistas. Isso porque, conforme o balanço do terceiro trimestre de 2021, o PL das Americanas era de R$ 14,7 bilhões.

O grupo afirmou que, nesse momento, não dá para determinar todos os impactos do ajuste do balanço. No entanto, segundo comunicado, acredita que “o efeito caixa dessas inconsistências seja imaterial”. Em outras palavras, não deve sair dinheiro do caixa da empresa para cobrir esse rombo, pois o efeito do ajuste é somente contábil.

Atualmente, o valor de mercado da empresa é de, aproximadamente, R$ 11 bilhões.

Afinal, o que aconteceu com o balanço das Americanas?

A primeira coisa que precisamos entender é o que são essas operações com fornecedores – o chamado “risco sacado”, também conhecido como confirming, forfait, entre outros nomes.

Basicamente, trata-se de uma operação na qual o fornecedor recebe antecipadamente o pagamento pelos seus produtos ou serviços. Normalmente, existem três pontas envolvidas nesse processo: o fornecedor (ou sacado), o cliente (ou cedente) e a instituição financeira.

Na prática, funciona da seguinte forma: depois de acertar as condições da negociação com o cliente (valor e prazo de pagamento), o fornecedor emite a nota fiscal. Assim que a mercadoria é entregue ou o serviço é realizado, ele pode solicitar uma antecipação desses recursos à instituição financeira na qual o seu cliente tem limite para essas operações. Ou seja, o cliente (nesse caso, a Americanas) transfere para o banco a gestão dos seus fornecedores.

Como existe uma instituição financeira participando dessa negociação, muitos compradores aproveitam para pedir mais prazo para pagamento. Quando isso acontece, por determinação da CVM, a compradora precisa reconhecer essa dívida como financeira, e parece que foi isso o que a Americanas não fez no seu balanço.

Auditoria dos balanços

A última auditoria completa da empresa, feita pela PwC, foi referente ao fechamento de 2021. Na ocasião, as demonstrações financeiras da companhia foram aprovadas sem ressalvas.

“Em nossa opinião, as demonstrações contábeis acima referidas apresentam adequadamente, em todos os aspectos relevantes, a posição patrimonial e financeira da Americanas S.A. e da Americanas S.A. e suas controladas em 31 de dezembro de 2021, o desempenho de suas operações e os seus respectivos fluxos de caixa consolidados”, afirma a PwC no relatório de 24 de fevereiro de 2022.

Na ocasião, os auditores fizeram cinco observações que necessitavam de atenção: reestruturação societária, avaliação do valor recuperável do ativo intangível, combinação de negócios, contingências fiscais, trabalhistas e cíveis e incidente cibernético. Ou seja, nenhuma delas relacionada aos fatos relevantes divulgados no dia 11 de janeiro.

Saída de Rial e Covre

Depois de pouco mais de uma semana nos respectivos cargos, Sergio Rial e André Covre renunciaram devido à confusão contábil. Com isso, o conselho nomeou João Guerra interinamente para a presidência e relações com investidores. Guerra responde também pelas áreas de recursos humanos e tecnologia, e não tem passagem anterior pela gestão financeira ou contábil da Americanas.

Em comunicado aos colaboradores, Rial tentou arrefecer os ânimos dizendo que a empresa continuará pagando em dia todas as suas obrigações. Segundo ele, há R$ 8 bilhões em caixa para isso. Disse também que os acionistas de referência da empresa – Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles, darão “suporte à companhia”.

Na data de hoje, o book de ofertas aponta o valor de abertura de R$ 3 para os papéis da AMER3.

(Fontes: portais Valor Investe e Terra)

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