Quando o assunto é começar a investir, uma das dúvidas mais frequentes é sobre escolher entre CDB ou poupança.
Apesar de ambas as aplicações serem seguras e bastante simples, a poupança ainda lidera com folga a preferência dos brasileiros. Segundo o último Raio X do Investidor, pesquisa elaborada anualmente pela ANBIMA em parceria com o Datafolha, a velha caderneta conta com a adesão de 25% dos investidores, contra somente 5% que preferem o CDB.
De certa forma, dá para entender esse comportamento, afinal, durante muito tempo, a poupança foi a única opção mais acessível de investimento. Porém, de tempos para cá, o mercado financeiro vem se tornando cada vez mais acessível, seja pela digitalização dos bancos ou pela oferta de novos produtos que cabem no bolso de grande parte dos brasileiros.
De antemão, já podemos responder à pergunta inicial: há tempos, o CDB é melhor do que poupança, e essa vantagem se acentua em cenários de juros mais altos. Na sequência do conteúdo, mostraremos os aspectos que comprovam nossa afirmação. Portanto, se você ainda tem dúvidas ou receio de tirar o seu dinheiro da poupança para investir em novas alternativas, continue a leitura!
CDB ou poupança: como decidir o que é melhor?
Primeiramente, é preciso entender como funcionam cada um dos investimentos.
Na poupança, você abre uma conta em um banco (diferente da sua conta corrente) e realiza depósitos de acordo com os valores e datas que você mesmo estipula. Por exemplo, se você fez um depósito de R$ 100 no dia 5 e de R$ 50 no dia 15, no próximo mês receberá o rendimento do depósito de R$ 100 no dia 5, e o de R$ 50 no dia 15.
Em relação à rentabilidade, não importa em que banco você tenha poupança, pois ela sempre será a mesma. Mais adiante, explicaremos com detalhes como funciona o rendimento da poupança.
Já o CDB (Certificado de Depósito Bancário) é um título emitido por instituições financeiras com o objetivo de captar recursos para as suas atividades. Na prática, você empresta dinheiro ao banco quando investe em CDB, e recebe esse dinheiro de volta acrescido de uma taxa de juros.
Diferentemente da poupança, é possível encontrar CDBs com rentabilidades diferentes, dependendo da instituição emissora, valor ou prazo do investimento. Também falaremos sobre isso com mais detalhes na sequência.
Dito isso, vejamos agora as características do CDB e poupança em relação a quatro aspectos: segurança, rentabilidade, liquidez e tributação. Acompanhe.
Segurança
Na hora de escolher entre CDB ou poupança, a segurança é um dos argumentos de quem ainda está na caderneta. Porém, ambos são investimentos igualmente seguros, pois contam com a proteção do Fundo Garantidor de Crédito (FGC).
Por exigência do Banco Central, as instituições financeiras que oferecem alguns produtos de renda fixa – entre eles poupança e CDB – realizem depósitos mensais nesse fundo como forma de proteção ao investidor. No caso de falência, o FGC cobre até R$ 250 mil em cada instituição financeira, até o limite de R$ 1 milhão por CPF.
Ou seja, no quesito segurança, temos um empate entre CDB e poupança.
Rentabilidade
Como falamos anteriormente, a poupança sempre terá o mesmo rendimento em qualquer instituição financeira. Agora veja como isso funciona.
O cálculo dos rendimentos da poupança considera dois períodos diferentes: um antes e um a partir de 4 de maio de 2012.
Para os depósitos realizados antes de 4 de maio de 2012, a poupança rende 0,5% ao ano + TR (Taxa Referencial). Já para as aplicações posteriores a 4 de maio de 2012, a rentabilidade da caderneta é calculada da seguinte forma:
- – Selic abaixo de 8,5% ao ano: 70% da Selic + TR
- – Selic acima de 8,5% ao ano: 0,5% ao mês + TR
Quem é mais jovem, possivelmente não saiba o que é a Taxa Referencial. Durante alguns anos, ela chegou a ser a principal referência de financiamentos imobiliários e de algumas aplicações financeiras. Com o tempo e depois de vários planos econômicos, foi deixando de ser relevante, tendo inclusive zerado entre 2018 a 2020. Desde então, a TR tem se mantido abaixo de 2% ao ano, inclusive encerrou 2023 em 1,77%.
Já a taxa de um CDB pode ser prefixada, pós-fixada ou híbrida – parte fixa e parte indexada a um índice, normalmente o IPCA, principal índice de inflação do Brasil. A taxa prefixada é expressa ao ano, e garante ao investidor um rendimento fixo mesmo que a taxa básica de juros caia ou aumente durante o período da aplicação. No CDB pós-fixado, a rentabilidade acompanha a Selic e, portanto, irá oscilar de acordo com os movimentos da taxa.
Por fim, no CDB híbrido, é possível garantir a variação do IPCA e ainda receber um percentual fixo de rendimentos. É sempre bom contar com esse tipo de remuneração na carteira, principalmente quando pensamos nos investimentos de longo prazo.
Rentabilidade real da poupança
Para ficar ainda mais clara a rentabilidade da poupança, veja abaixo o quanto ela rendeu de fato nos últimos anos, descontada a inflação:
Ano | Rendimento nominal | Inflação | Rendimento real |
2023 | 8,03% | 4,62% | 3,25% |
2022 | 7,90% | 5,78% | 2,08% |
2021 | 2,98% | 10,06% | -6,46% |
2020 | 2,11% | 4,51% | -2,29% |
2019 | 4,26% | 4,30% | 0,04% |
2018 | 4,62% | 3,74% | 0,84% |
2017 | 6,61% | 2,94% | 3,53% |
2016 | 8,30% | 6,29% | 1,89% |
2015 | 8,07% | 10,67% | -2,34% |
Observe que, na série histórica acima, a poupança perdeu para a inflação em três anos: 2015, 2020 e 2021. E mesmo nos outros anos, o seu rendimento real foi bastante baixo, principalmente se considerarmos 2022 e 2023, que refletiram o ciclo de alta da Selic até a máxima de 13,75%.
Nesse período, quem conseguiu um CDB prefixado a partir de 9%, por exemplo, ou um pós-fixado próximo da Selic ganhou consideravelmente mais do que quem aplicou na poupança.
Então, no quesito rentabilidade, o CDB supera a poupança, e já faz algum tempo.
LEIA TAMBÉM:
CDB ou LCI: qual a melhor escolha?
Como escolher um título de renda fixa? Saiba o que avaliar
Liquidez
A poupança possui liquidez diária, pois é possível fazer o resgate da aplicação a qualquer momento. Porém, para não perder o rendimento do mês (ou parte dele), é preciso prestar atenção nas datas de aniversário, conforme falamos anteriormente.
Imagine que os seus aportes mensais na poupança ocorram sempre no dia 5 de cada mês. Nesse caso, se você fizer um resgate no dia 3 ou 4, por exemplo, perderá todo o ganho do mês, pois a rentabilidade da poupança só é creditada no dia do aniversário.
E no caso de existirem várias datas de aniversário com valores diferentes, o controle da rentabilidade fica ainda mais trabalhoso, pois será difícil lembrar quanto rende cada depósito e em que data.
Por outro lado, se você tiver um CDB com liquidez imediata, não corre o risco de sacrificar os ganhos, pois receberá o rendimento de forma proporcional, não importando a data do início da aplicação.
Com isso, no quesito liquidez, a vantagem é do CDB em relação à poupança.
Tributação
A poupança é um dos investimentos que possui isenção de Imposto de Renda nos rendimentos.
No caso do CDB, o IR incide de acordo com o prazo do investimento, e obedece à tabela regressiva do imposto, com alíquotas que iniciam em 22,5% e vão reduzindo até a mínima de 15%, da seguinte forma:
Prazo de resgate | Alíquota IR |
Até 180 dias | 22,5% |
De 181 a 360 dias | 20% |
De 361 a 720 dias | 17,5% |
A partir de 720 dias | 15% |
De todos os quatro aspectos que vimos, a tributação é o único em que a poupança supera o CDB hoje. Mesmo assim, a incidência de IR pode ser compensada por taxas mais atrativas, e quanto mais o dinheiro ficar aplicado, menos imposto você pagará no resgate.