Para quem investe em criptoativos ou, simplesmente, acompanha esse universo, um dos eventos mais esperados é o halving do bitcoin (BTC). Embora outras criptomoedas também passem pelo processo de halving, o mais famoso é o do BTC, pois é o que mexe mais com o mercado, em virtude da representatividade da pioneira.
Basicamente, a escassez de bitcoin promovida pelo halving influencia sua cotação, mas isso não ocorre de forma linear. Quem tem BTC na carteira, sempre espera que a cripto turbine depois do processo, porém o comportamento dos ativos virtuais nunca é previsível. Mesmo assim, é importante que o investidor (ou quem quer aprender sobre criptomoedas) entenda como funciona o halving, conheça os efeitos dos ciclos passados e tire dúvidas sobre o processo, e é isso o que veremos a seguir.
O que é o processo de halving?
A forma de um novo bitcoin entrar em circulação é por meio da mineração – equações matemáticas complexas resolvidas por computadores – e quem faz isso são mineradores que estão em várias partes do mundo. A cada novo bloco descoberto na blockchain (tecnologia que viabiliza as transações de criptoativos), os mineradores recebem BTCs como recompensa pelo seu trabalho, que depende de computadores potentes e caros.
O protocolo do bitcoin determina que, ao todo, haverá 21 milhões de unidades da criptomoeda em circulação. Para garantir esse limite, atualmente a cada quatro anos (aproximadamente) a recompensa por bloco minerado cai pela metade.
Para se ter uma ideia, o primeiro halving do BTC, que foi em novembro de 2014, reduziu a recompensa por bloco minerado de 50 para 25 unidades. No segundo evento, em julho de 2016, a quantidade de BTC que remunerava cada bloco passou para 12,5 unidades. Por fim, desde maio de 2020 – quando ocorreu o último evento – os mineradores recebem 6,25 unidades do criptoativo a cada bloco minerado.
Por que os mineradores recebem recompensas?
A recompensa é fundamental para a segurança da rede, pois quem valida as transações de BTC são os mineradores. Sem essa validação, dois grandes problemas podem acontecer: as transações podem ser interrompidas, e uma mesma criptomoeda pode ser gasta duas vezes.
Imaginando um cenário caótico, se não fossem pagas recompensas robustas, os mineradores poderiam se unir e direcionar um grande poder de computação para atacar a rede. Mas, como o prêmio pelos blocos é alto, teoricamente isso mantém a rede protegida, pois todos trabalham em defesa do BTC.
Por que existe o halving do bitcoin?
No white paper do BTC – documento que traz as diretrizes de funcionamento do criptoativo – não há uma referência direta sobre os motivos que levaram à criação do halving. Porém, alguns e-mails de Satoshi Nakamoto (figura a quem se atribui a origem do BTC) mostram a preocupação com o controle da circulação da criptomoeda.
De acordo com o momento econômico, os bancos centrais podem adotar uma política monetária mais contracionista ou expansionista. Se a atividade precisa de um impulso, os governos utilizam ferramentas para injetar dinheiro na economia, seja emitindo moeda por meio de títulos públicos ou reduzindo os juros, por exemplo. E quando é necessário controlar a inflação, é feito o movimento inverso: retira-se liquidez do mercado com o aumento dos juros.
No caso dos criptoativos, não há um banco central que enxugue ou fomente a quantidade de moeda conforme critérios macroeconômicos. E também não se consegue prever quantas pessoas irão procurar uma criptomoeda quando ela é criada. Nesse contexto, o halving surge como uma forma de regular a circulação de BTC, para manter sua escassez e, com isso, tentar impulsionar a sua valorização.
Quando é o próximo halving do bitcoin?
Na verdade, não há como prever exatamente a data, pois, em regra, o evento ocorre a cada 210 mil blocos minerados.
O próximo halving do bitcoin estava previsto para maio de 2024, mas acabou sendo antecipado. Até o momento, a expectativa é de que aconteça entre 20 e 21 de abril, quando os mineradores passarão a receber 3,125 unidades da criptomoeda por bloco minerado.
A previsão é de que o último halving do BTC ocorra no ano de 2140.
O que acontece após o halving?
Em todos os halvings anteriores, o BTC alcançou expressiva valorização depois do evento, pois a escassez da moeda tende a fazer os preços decolarem.
Um ano depois do primeiro halving, que foi em 28 de novembro de 2012, a cotação da criptomoeda havia subido quase 8.000%. No evento de 2016, o bitcoin chegou a avançar 270% depois de 12 meses. E depois do terceiro, a criptomoeda renovou sua máxima histórica, batendo US$ 69 mil em 2021.
Então é certo que o bitcoin vai se valorizar depois do evento?
Apesar do histórico de valorização pós-halving, não há como ter certeza de que o mesmo acontecerá depois do evento de abril de 2024, e nem qual a magnitude da mexida no preço (se, de fato, acontecer).
De forma geral, especialistas se mostram otimistas. O surgimento de novos ETFs de bitcoin tem ajudado a impulsionar as cotações, que bateram máximas históricas nos últimos tempos. Para muitos gestores, isso é um sinal de que o mercado de criptoativos caminha para a maturidade, e isso pode trazer cada vez mais investidores para esse universo.
Há também outros aspectos mais técnicos que podem favorecer o halving deste ano. Em entrevista à Exame, o vice-presidente da Binance para América Latina, Min Lin, explicou:
“O halving de 2024 é único, pois ocorre em meio a uma série de outros eventos significativos no ecosisstema bitcoin e cripto em geral. Além do avanço dos ETFs, que despertou o interesse de investidores institucionais, outra grande tendência desse mercado hoje é o boom na atividade de camada 2 e DeFi na rede bitcoin, impulsionado pela popularidade do protocolo Ordinals e inscrições de BTC”, disse Lin ao portal.
Na mesma entrevista, o CEO da Dinasty Global AG, Eduardo Carvalho, disse acreditar que, com a redução da oferta de BTC, o mercado cripto pode se tornar mais previsível. Dessa forma, segundo ele, novos investidores seriam atraídos, o que fortaleceria ainda mais a confiança no ecossistema.
“O halving estimulará a inovação do mercado, impulsionando o desenvolvimento de novas soluções e serviços relacionados ao BTC”, disse o executivo. Por outro lado, recomenda que se invista em criptoativos sempre a longo prazo e com cautela, devido à volatilidade desse mercado, e reitera a importância de acompanhar de perto notícias e tendências, para que se tome decisões com mais segurança.
O halving do BTC afeta outras criptomoedas?
Tudo o que acontece com o bitcoin afeta outras criptomoedas, em maior ou menor intensidade. Se a valorização esperada para o BTC se confirmar, os investidores poderão se mostrar mais confiantes nesse mercado e apostar em altcoins para diversificação.
Outro ponto a considerar é a possibilidade de mineradores migrarem para altcoins atrás de recompensas maiores, uma vez que receberão menos bitcoin por cada bloco. Isso também pode fortalecer outros criptoativos.
Se a remuneração diminui, como ficam os mineradores?
Esse é outro ponto importante a ser avaliado, e sobre o qual também não há como fazer previsões assertivas.
A mineração é um processo caro, pois a estrutura computacional para encontrar blocos de BTC na rede deve ser muito potente. Além disso, muita energia é gasta no processo (as máquinas ficam ligadas 24 horas, sete dias por semana), o que aumenta ainda mais os gastos dos mineradores.
Com o corte da remuneração pela metade, é possível que o trabalho deixe de valer a pena para muitos deles. Isso não significa que deixarão de existir mineradores na rede, mas é certo que a redução da recompensa levará a um ajuste para que o mercado encontre um novo ponto de equilíbrio.
Quem tem bitcoin precisa se preocupar com o halving?
Como o halving é previsto pelo protocolo do BTC para que ocorra de tempos em tempos, o evento em sim não é motivo de preocupação. Porém, na sua véspera, é esperado um movimento especulativo maior do que o normal, assim como acontece com as ações de uma empresa prestes a fazer um IPO, por exemplo.
Nesse período, é importante que o investidor esteja ciente da volatilidade (principalmente de curto prazo ) e acompanhe o mercado. O que se recomenda é que cada um avalie a sua tolerância ao risco e os objetivos ao investir em criptoativos, para determinar qual proporção da carteira deseja expor a esses ativos.