Em maio de 2021, o Banco Central do Brasil (BC) divulgou as diretrizes para a criação do real digital, a moeda virtual do Brasil. De acordo com o próprio BC, a expectativa é de que ela entre em circulação somente entre 2023 e 2024, mas os primeiros testes deverão acontecer ainda nesta semana, na quinta-feira (20).
O real digital faz parte de uma categoria de ativos digitais conhecida como CBDC. A sigla vem da expressão Central Bank Digital Currence, que, na tradução, significa “moeda digital emitida por Banco Central”.
E o Brasil não é o único país que está desenvolvendo a sua moeda digital. De acordo com a Accenture – multinacional de consultoria que acompanha a implementação de CBDCs pelo mundo – os projetos da Suécia, Singapura, Japão e Coreia do Sul já estão com testes adiantados. Lembrando que na China, Bahamas e Nigéria já existe uma moeda digital em plena operação.
Apesar da evolução das CBDCs ao redor do mundo, ainda existem muitas perguntas sobre o real digital. Nesse sentido, muitas pessoas confundem o seu funcionamento com o das criptomoedas, por exemplo. Outras, chegam a pensar que a moeda digital acabará com o dinheiro físico em circulação. Se você também tem essas e outras dúvidas, fique com a gente até o final deste conteúdo!
O que é o real digital
Como vimos, o real digital é uma CBDC que poderá ser utilizada com a mesma finalidade do dinheiro físico. Ou seja, será possível pagar contas, realizar transferências e guardá-lo em carteiras digitais.
Por sua vez, além de serem emitidas por um banco central, as CBDCs também são reguladas por essa autoridade. Isso significa que todas as decisões e normas que se relacionam a ela passam por essa autoridade monetária.
Em países emergentes como o Brasil (especialmente entre as faixas de renda mais baixas), o dinheiro físico ainda tem muita representatividade. No entanto, a utilização das CBDCs vem crescendo, justamente porque boa parte das transações financeiras no mundo já são digitais.
Real digital é criptomoeda?
Confundir o real digital com criptomoedas é algo que ocorre com certa frequência. No entanto, apesar de ambos serem ativos virtuais, existem importantes diferenças entre as CBDCs e Bitcoin, Ethereum e outras altcoins.
A primeira delas diz respeito à centralização da moeda. Como vimos, quem emite e regulamenta as CBDCs são os bancos centrais. Logo, esses ativos se sujeitam sempre às normas e controles das autoridades monetárias. Por outro lado, a maioria das criptomoedas são emitidas e distribuídas de forma descentralizada na rede, por meio de uma tecnologia chamada blockchain. Basicamente, essa tecnologia funciona como um grande banco de dados espalhado pela internet, que armazena as informações de todas as transações de criptomoedas.
Outra diferença entre o real digital e as criptomoedas é em relação ao lastro do ativo. Isso porque, as CBDCs contam com a garantia da autoridade monetária que as emite. Já as criptomoedas, com exceção de algumas stablecoins, não possuem lastro em moedas fiduciárias ou em qualquer outro tipo de ativo financeiro.
Por fim, vale ressaltar que o mercado normalmente trata as criptomoedas como ativos financeiros. No entanto, o principal propósito de uma moeda como o real digital é viabilizar as transações financeiras do dia a dia. Por exemplo, quem conhece criptomoedas sabe que não dá para usar Bitcoin para pagar qualquer coisa, o que é fácil de fazer com uma CBDC.
Qual será o valor da nossa moeda digital?
O Banco Central ainda não se posicionou formalmente sobre o valor que terá uma unidade da nossa moeda digital, muito embora saibamos que ela tenha conversibilidade no real. Com isso, imagina-se que ela tenha a mesma paridade do real, ou seja, a paridade será de um por um.
A moeda digital vai substituir o dinheiro físico?
Quando lançou as diretrizes para o real digital, o Banco Central informou que a ideia é que a moeda virtual seja um complemento do dinheiro físico. Até porque, mesmo com a expansão dos bancos digitais, grande parte da população brasileira ainda não tem acesso a serviços financeiros digitais. Dessa forma, não há como pensar em eliminar a circulação de dinheiro físico por aqui.
O que muda na prática com o real digital?
Um dos objetivos do real digital é tornar o sistema bancário mais inclusivo. Ou seja, qualquer pessoa com um smartphone poderá ter acesso a serviços bancários.
Além disso, a implementação da moeda digital brasileira mudará alguns processos do sistema financeiro e trará novas funcionalidades interessantes. A seguir, confira alguns dos principais pontos destacados por especialistas.
Depósito e circulação da moeda
Para começar, você não precisará de uma instituição financeira para depositar o real digital. Isso porque os próprios usuários poderão custodiar a moeda, o que, teoricamente, dispensaria a necessidade de ter conta em um banco.
Meio de pagamento de alcance global
Outra mudança que o real digital trará é a possibilidade de utilizá-lo não só no Brasil, mas também no exterior. Por exemplo, se você viajar para fora do país, poderá comprar a moeda e armazená-la na sua carteira digital, no próprio celular. Dessa forma, consegue sacar dinheiro no exterior a partir dessa moeda, ou fazer pagamentos e transferências.
Utilização em contratos inteligentes
Uma das grandes inovações que a tecnologia blockchain trouxe foram os contratos inteligentes. Mas o que muitos ainda não sabem é que o real digital oferece a possibilidade de ser utilizado também nesses contratos.
Um exemplo disso é o projeto que a TecBan, empresa de tecnologia bancária, está desenvolvendo com o banco Capitual, antigo parceiro da Binance, exchange de criptomoedas. Esse projeto envolve a liberação de produtos adquiridos no e-commerce mediante pagamento em real digital.
Ou seja, somente depois da retirada do produto é que o contrato inteligente libera o pagamento para o vendedor. Dessa forma, não é preciso nenhum intermediário entre o comércio e os consumidores.
Utilização no combate à lavagem de dinheiro
Outra aplicabilidade do real digital é a utilização como ferramenta no combate à lavagem de dinheiro. Nesse sentido, a tecnologia possibilita que se criem aplicações mais sofisticadas e com mais alcance para monitorar fluxos financeiros. Ao mesmo tempo que fiscalizam, essas aplicações conseguem preservar a privacidade, de acordo com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGDP).