Estagflação: o que é e por que o mercado financeiro tem medo

Tempo de leitura: 5 minutos

Imagem mostra dinheiro perdido com a estagflação
Imagem mostra dinheiro perdido com a estagflação

Se você acompanha notícias sobre o mercado financeiro e já ouviu falar sobre o risco de estagflação, saiba que isso é muito preocupante para a economia de um país.

Esse fenômeno acontece quando a atividade econômica desaquece a ponto de o país entrar em recessão. Ao mesmo tempo, os preços disparam fortemente, o que contribui ainda mais para o agravamento de uma crise financeira.

Neste conteúdo, você vai entender o que é estagflação, por que ela ocorre e se é possível proteger o dinheiro quando ela surge. Continue a leitura e confira a seguir!

O que é estado de estagflação?

Quem utilizou esse termo pela primeira vez foi Ian Macleod, em 1965. Ian foi um político britânico que cunhou a expressão quando falava sobre a economia do Reino Unido na época.

A palavra vem da junção de “estagnação” e “inflação”. Em termos econômicos, podemos definir estagflação como um aumento simultâneo da inflação e do desemprego, o que causa uma desaceleração no PIB (Produto Interno Bruto) do país.

Quando esses três fatores acontecem ao mesmo tempo – inflação alta, queda na atividade econômica e aumento do desemprego – os prejuízos para um país são imensos. Isso porque o governo passa a ter muito mais trabalho para reencontrar o equilíbrio da economia. Por exemplo, se ele elevar os juros para conter a inflação, poderá desacelerar ainda mais a atividade e gerar mais desemprego. Em contrapartida, se o Banco Central reduzir os juros para fomentar o consumo e ajudar as empresas, pode ser que fique mais difícil controlar a inflação.

Ou seja, a estagflação atinge as pessoas principalmente sob dois aspectos. O primeiro deles é o desemprego, por causa da desaceleração ou estagnação da economia. O segundo é a perda de poder aquisitivo, devido à alta descontrolada dos preços.

Quando ocorre a estagflação?

A estagflação pode acontecer tanto por eventos que afetam o cenário internacional quanto por fatores internos que influenciam na economia.

Nesse sentido, conflitos internacionais ou calamidades imprevistas como a pandemia afetam diretamente a quantidade de produtos disponíveis no mundo inteiro. Na economia, isso se chama choque de oferta, e tem reflexos nos preços das principais commodities mundiais (petróleo, gás natural, grãos, e assim por diante). Isso porque, quando as commodities essenciais sobem, elas acabam afetando toda a cadeia de produção do mundo.

Por exemplo, quando o petróleo sobe, não é só na bomba de combustível que você sente esse aumento no bolso. Existem diversos outros produtos que dependem desse item para serem produzidos ou transportados. Ou seja, várias indústrias ao redor do mundo sofrem os efeitos dessa alta.

Em relação aos eventos locais, fatores climáticos também podem afetar o equilíbrio entre oferta e demanda de produtos. Um exemplo recente é a seca que atingiu o Brasil em 2021, considerada a pior dos últimos 90 anos. Com reservatórios em níveis baixos, a geração de energia elétrica ficou mais cara para as pessoas e também para as indústrias.

Além disso, más decisões econômicas também podem contribuir para um cenário de estagflação. Dependendo do quão expansionista seja a política monetária do governo, isso pode gerar excesso de recursos circulando na economia. Como vimos, isso contribui para a alta dos preços, e torna ainda mais difícil o controle da inflação.

Em que momentos teve estagflação no mundo?

Há registros de estagflação em diversos momentos da história, sendo que alguns deles ocorreram até antes de o termo ser conhecido. A seguir, conheça alguns dos principais:

Alemanha no pós Primeira Guerra Mundial

Assim que terminou a Primeira Guerra Mundial, a economia da Alemanha mergulhou em uma fortíssima recessão, que resultou em estagflação.

Durante a guerra, o país direcionou praticamente todo o dinheiro público para o financiamento do conflito. Além disso, o governo se endividou para financiar todo o arsenal bélico. Dessa forma, a combinação entre gastos e endividamento deu início aos graves problemas financeiros da época.

Isso tudo foi agravado pelas sanções internacionais impostas pelo Tratado de Versalhes com o fim da guerra. Nesse sentido, uma das penalidades do país foi indenizar os aliados por todos os prejuízos que o conflito trouxe. Com a economia arrasada e sem condições de pagar por isso, o governo se endividou ainda mais. Isso fez com que disparasse o desemprego e a inflação, e jogou a Alemanha em uma crise sem precedentes na história recente. Com a estagflação, veio a pobreza extrema, o que deu origem a movimentos nacionalistas que culminariam na Segunda Grande Guerra.

Reino Unido e o “Barber Boom” nos anos 70

Anthony Barber era o secretário do Tesouro do Reino Unido nos anos 70. Nesse período, a política fortemente expansionista que o governo praticava ficou conhecida como “Barber Boom”.

Isso porque o país recebeu a injeção de milhões de libras entre 1971 e 1973. Por meio de estímulos fiscais, a quantidade de dinheiro em circulação no Reino Unido na época chegou a crescer 25%.

Primeiramente, esses recursos impulsionaram a economia britânica, o que gerou inflação. Porém, esse quadro foi agravado devido ao encarecimento do petróleo em 1973 (veremos no próximo item), que afetou todo o mercado mundial. Com isso, a inflação e o desemprego dispararam no país, e o PIB ficou negativo naquele ano.

EUA e o primeiro choque do petróleo nos anos 70

Em 1973, os países árabes suspenderam as exportações de petróleo para os EUA, devido ao apoio que o país dava a Israel na época. No entanto, essa alta afetou não só a economia norte-americana, mas diversos países do mundo ocidental.

Para agravar o quadro, os Estados Unidos enfrentavam um sério quadro de desemprego na época. Isso fez com que o Fed (Banco Central dos EUA) alternasse posturas hawkish e dovish para tentar reequilibrar a economia. No entanto, o mercado viu essas oscilações na política monetária com desconfiança. Dessa forma, o clima de incerteza aumentou no país, e, com isso houve o agravamento da estagflação, que foi superada somente em 1979.

Brasil nos anos 80

Os anos 80 foram marcados por altíssima inflação, não só no Brasil, mas em diversos outros países da América Latina. Além disso, o baixo crescimento do PIB e o forte aumento da desigualdade social agravaram ainda mais a crise econômica por aqui.

Enquanto isso, os juros no cenário internacional aumentavam, o que encareceu a nossa dívida externa na época. Todo esse efeito combinado fez o PIB despencar para uma média de 2% ao ano, cinco pontos percentuais abaixo da média da década anterior.

Isso tudo gerou estagflação no Brasil, e a instabilidade econômica só foi controlada em 1994, com o Plano Real.

Como prever ou resolver esse problema?

Na verdade, não existe um consenso entre economistas sobre como prever ou solucionar um cenário de estagflação. Isso porque a questão passa por aspectos de política econômica e também pela influência de variáveis externas.

Em outras palavras, é preciso atuar em várias frentes de maneira simultânea, sendo que, em cada situação, o governo precisa adotar uma postura diferente. Por exemplo, para conter a alta dos preços, o Banco Central aumenta os juros. Porém, quando a economia está frágil, isso pode prejudicá-la ainda mais. Por isso, deve haver parcimônia na adoção de uma política monetária mais restritiva.

Além disso, o controle de gastos por parte do governo também é muito importante em momentos de estagflação. Ou seja, a solução para esse problema não é simples nem rápida, assim como não é da noite para o dia que a estagflação surgem em um país. Por isso, é muito importante que o governo fique atento aos primeiros sinais de desaceleração na economia.

Onde investir na estagflação?

Em momentos de instabilidade na economia, ocorre uma natural aversão ao risco por parte dos investidores. Nesse sentido, a preferência acaba sendo ativos de renda fixa de baixo risco, como CDBs, LCIs, LCAs ou Tesouro Direto. Além disso, em um cenário de estagflação, há uma procura ainda maior por investimentos que protejam o dinheiro da inflação, como os indexados a índices inflacionários.

Porém, se a ideia é permanecer na renda variável, o melhor é optar por ativos menos suscetíveis às oscilações da economia. De acordo com especialistas, ações defensivas e alguns ETFs podem ser uma boa opção para essa situação.

Independentemente de qual seja a sua escolha, o importante é entender que a diversificação se torna ainda mais importante em momentos de turbulências econômicas. E o motivo é simples: quando você investe em ativos de diferentes classes, consegue diluir melhor os riscos e aumentar o potencial de rentabilidade de sua carteira de investimentos.

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