Temporada de resultados ruim: custos maiores e retração de consumo prejudicam lucros no 4T22

Tempo de leitura: 7 minutos

imagem mosta logo da B3 e remeta à temporada de balanços do 4T22
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A temporada de resultados do 4T22, que se estendeu por mais de dois meses, chegou ao fim na última semana de março. Com exceção da Oi (OIBR4) e da Americanas (AMER3), que adiaram as publicações de suas demonstrações contábeis em virtude da recuperação judicial, todas as companhias listadas na bolsa já divulgaram seus números ao mercado.

De forma geral, os juros altos continuam penalizando as companhias, tanto pelo aumento dos custos de produção e das despesas financeiras quanto pela retração do consumo, que acerta em cheio principalmente quem atua no mercado interno. Com a divulgação das regras do novo arcabouço fiscal, volta-se a falar sobre a possibilidade de antecipação do corte de juros, embora ainda haja incertezas sobre a proposta.

Por aqui, a Terra Investimentos destacou alguns nomes que, na opinião de nossos analistas, tiveram resultados melhores e não tão satisfatórios em relação à média. Confira a seguir a avaliação de nosso analista Luis Novaes sobre os resultados do último trimestre de 2022.

O que foi destaque na temporada de resultados do 4T22?

Primeiramente, apresentaremos as performances que se destacaram positivamente no último trimestre. Acompanhe:

Destaques positivos

BB Seguridade (BBSE3)

Segundo Luis Novaes, a BB Seguridade apresentou mais um bom resultado, com influência positiva de todos os segmentos da seguradora. Seu principal negócio, a Brasilseg, foi o maior fator contribuinte para o desempenho no ano, contando com um índice de sinistralidade ainda melhor em relação aos últimos trimestres.

“O patamar elevado dos juros básicos possibilitou um excelente resultado financeiro, além do crescimento expressivo de receitas da BB Corretora. Isso ocasionou um resultado consolidado acima das altas expectativas do mercado”, observa Luis.

Banco do Brasil (BBAS3)

Superando as expectativas mais uma vez, o Banco do Brasil fecha um ano significativamente positivo. O atual momento de altos juros teve um impacto positivo sobre os ganhos relacionados ao mercado, permitindo que uma rentabilidade maior no período.

A carteira de clientes também apresentou expansão, contribuindo positivamente para a rentabilidade. Nesse sentido, Novaes destaca a deterioração na qualidade do crédito notável, mas com menor expressão em relação ao setor.

Outro ponto a observar é o fato de o banco ter optado pelo provisionamento parcial das operações com a Americanas. Isso limitou o impacto do caso sobre os resultados do último trimestre de 2022.

Itaú Unibanco (ITUB4)

Apesar do resultado abaixo do esperado pelo mercado no 4T22, o Itaú comprovou sua solidez mesmo em momentos de instabilidade. De acordo com Novaes, apesar dos efeitos negativos relacionados ao provisionamento total de sua exposição ao episódio Americanas, o banco pôde manter sua rentabilidade em um patamar satisfatório.

“A inadimplência crescente na economia brasileira teve um efeito limitado sobre o banco, considerando sua exposição menor às classes baixas e pequenas empresas, que mais sofrem nesse momento de instabilidade. Dessa forma, conseguiu manter sua carteira em expansão, o que contribuiu positivamente para os resultados do 4T22. Além disso, destacamos também os números positivos em tesouraria, mesmo diante das desconformidades dos mercados”, diz o analista.

BTG Pactual (BPAC11)

O maior banco de investimentos da América Latina entrega mais um resultado positivo, demonstrando o sucesso de sua estratégia no mercado financeiro.

Mesmo com o impacto negativo do caso Americanas, o resultado do BTG no 4° trimestre de 2022 pode ser considerado histórico. Nesse sentido, Novaes destaca os resultados nos segmentos asset e wealth managment, que foram responsáveis por contribuir positivamente. Já o investiment banking e sales & trading tiveram uma desaceleração ante o último trimestre, em decorrência da instabilidade do mercado.

Raia Drogasil (RADL3)

Para o analista da Terra, a Raia Drogasil demonstrou novamente sua resiliência frente a um ambiente econômico adverso.

“As receitas da empresa cresceram significativamente em relação ao ano anterior e acima do projetado pelo mercado, com maior volume de vendas na rede de lojas e com o canal digital ganhando ainda mais tração. Mesmo com a alta inflação, a companhia conseguiu reduzir suas despesas, evitando uma restrição maior das margens após expressiva expansão no início do ano. Assim, a lucratividade ainda se mostra como um grande destaque, explicando a preferência pelo ativo nos últimos trimestres”, avalia Novaes.

Weg (WEGE3)

O resultado da Weg no 4T22 veio acima das projeções do mercado, e consolida a companhia como uma das melhores escolhas defensivas em momentos de instabilidade econômica.

Mesmo diante da retração da atividade industrial em todo o mundo, a empresa segue com um volume de vendas positivo. Segundo Novaes, isso pode ser creditado ao sólido desenvolvimento de sua participação no mercado internacional nos últimos trimestres.

“As instabilidades dos cenários econômicos interno e externo tiveram efeitos persistentes nos resultados das empresas durante todo o ano de 2022. Mesmo assim, as margens da Weg permaneceram estáveis, fruto do processo de maior controle de custos”, analisa Novaes.

Boa Safra (SOJA3)

Na análise da Terra Investimentos, a Boa Safra teve um excelente resultado no último trimestre de 2022.

Nesse sentido, Novaes explica que o resultado operacional foi significativamente maior do que o esperado pelo mercado, demonstrando também uma evolução em relação ao último ano. Por sua vez, as receitas foram impulsionados pelo maior volume de vendas e maiores preços realizados.

“Ao longo do ano, a Boa Safra também demonstrou uma expressiva melhora em sua capacidade de gerar caixa. Isso permitiu uma redução em sua alavancagem no período em que permanece realizando investimentos”, pontua o analista.

Assaí (ASSAI3)

No último trimeste de 2022, o Assaí conseguiu manter sua tendência de bons resultados. A receita da companhia seguiu evoluindo nos últimos meses, mesmo com o efeito negativo da desaceleração da inflação.

Apesar das maiores despesas em razão da conversão de lojas e marketing, com o objetivo de impulsionar seu crescimento, a margem operacional se manteve. Como resultado, o Assaí apresentou lucro maior no período, enquanto a alavancagem permaneceu em um patamar saudável, ainda que maior em relação ao ano anterior.

Destaques negativos

Hapvida (HAPV3)

De acordo com Novaes, o fraco resultado da Hapvida do 4T22 agravaram ainda mais a sua situação desfavorável. Para o analista, um dos pontos que contribuem para a tímida performance é o índice de sinistralidade médica, que permanece em um patamar elevado e acima da média histórica para o setor, afetando negativamente a perspectiva de ganhos futuros.

Além disso, a queima de caixa no período foi relevante e acima do esperado, impulsionada pelas despesas financeiras em virtude do ambiente de altos juros básicos e alavancagem da empresa. “Esses fatores tornaram os investidores receosos sobre a sua capacidade de pagamento de dívidas”, explica.

Bradesco (BBDC4)

Sob o efeito Americanas, o Bradesco viu o lucro despencar no 4T22, e teve mais um trimestre marcado pela deterioração do crédito, entregando resultados abaixo ao esperado pelo mercado.

“A exemplo do que ocorreu nos resultados anteriores, é notável uma deterioração significativa da qualidade do crédito, principalmente em carteiras de pessoas físicas e pequenas empresas. O caso Americanas também deixou sua contribuição negativa, mas o provisionamento total para a exposição do banco retira maiores impactos em decorrência a esse evento do horizonte”, observa Novaes.

Por outro lado, apesar de ainda negativos, os resultados em tesouraria demonstram evolução, assim como o segmento de seguros, beneficiado pelo atual patamar das taxas de juros.

Multilaser (MLAS3)

A Multilaser teve um trimestre de resultados negativos em todos os segmentos, reflexo do ambiente desafiador para a indústria de tecnologia nacional. Nesse sentido, Novaes destaca que todos os segmentos da companhia retraíram, desde o de telefones móveis (principal) a outros menos expressivos.

Por sua vez, as margens foram expressivamente pressionadas pela liquidação dos estoques, que tiveram aumento durante a pandemia, com altos preços de produtos e de frete. “Todos esses fatores provocaram o prejuízo no período, enquanto o mercado esperava por um potencial ponto de inflexão”, avalia o analista.

Natura (NTCO3)

A Natura apresentou resultados abaixo do esperado pelo mercado, o que elevou a preocupação dos investidores quanto à sua situação financeira. Enquanto a sua operação na América Latina, seu principal mercado, permanece exibindo um ritmo satisfatório de crescimento de receitas, as vendas no exterior seguem em tendência negativa.

Apesar do crescimento parcial das receitas, a pressão sobre as margens foi ampla, afetando as diferentes divisões e ampliando o receio sobre a perenidade da empresa, considerando seu alto grau de alavancagem.” O resultado de última linha teve um significativo efeito negativo devido a eventos não-recorrentes, tornando certa a venda de um dos seus ativos como correção, o que de fato aconteceu semanas depois”, destaca Novaes.

Braskem (BRKM5)

O resultado da Braskem foi fraco e veio abaixo do esperado pelo mercado no 4T22. O seu resultado operacional sofreu com o efeito negativo da baixa demanda por químicos no mercado interno, preços maiores de importação e menores de exportação. Além disso, tivemos a valorização do real no último ano, o que também contribuiu para tornar as receitas menores de modo geral.

A companhia também apresentou piora no endividamento, que aumentou em relação ao último trimestre, mas ainda se mantém concentrado no longo prazo.

Grupo Pão de Açúcar (PCAR3)

O 4° trimestre de 2022 foi um período de ajustes para o Grupo Pão de Açúcar, que confirmou as baixas expectativas do mercado em relação ao seu resultado.

Nesse sentido, Novaes explica que as receitas apresentaram um moderado crescimento em relação ao último ano, mas abaixo do esperado pelo mercado. “As margens, além de sofrerem os efeitos negativos de eventos não-recorrentes, foram pressionas pelos menores preços praticados, justificados pelo ambiente macroeconômico atual. Parte desses eventos se referem a uma reestruturação que a empresa está realizando, com o objetivo de recuperação sua lucratividade, arcando com o prejuízo maior durante esse trimestre”.

Alpargatas (ALPA4)

De forma geral, a performance da Alpargatas decepcionou no último trimestre, o que levou o mercado a revisar as suas expectativas para o papel.

O volume de vendas no mercado interno foi negativamente impactado pelos maiores preços praticados e por condições climáticas adversas para o verão. Já no exterior, apesar de as vendas consolidadas terem crescido em relação ao ano anterior, houve novamente uma significativa queda no mercado americano, o que coloca em dúvidas a estratégia de internacionalização da marca. Com menor volume de vendas e crescimento de despesas , as margens foram sacrificadas, o que gerou um resultado abaixo do esperado.

Locaweb (LWSA3)

Mesmo que, historicamente, o período seja positivo para o setor, a Locaweb não atendeu às expectativas de crescimento e lucratividade para o último trimestre do ano.

Apesar de suas receitas terem crescido no comparativo anual, demonstraram estabilidade na comparação com o trimestre anterior e vieram abaixo do consenso de mercado, parcialmente impactadas por mudanças estratégicas. Além disso, as margens também não mostraram a recuperação aguardada pelos investidores.

Como aspecto positivo, Novaes destaca que as empresas adquiridas se mantiveram em crescimento, apesar de alguns casos com pouca tração.

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