Quando tomamos decisões, desde as mais simples até as mais importantes, todos nós sofremos a influência de alguns aspectos nem sempre racionais. A psicologia chama isso de viés de comportamento, presente em várias áreas da vida, inclusive nos investimentos.
Deixar-se levar por vieses comportamentais pode ser bastante perigoso para as finanças pois, muitas vezes, eles induzem a erros simplesmente pelo hábito de determinada forma de pensar e agir. Mas quando eles aparecem, como funcionam e como conseguimos reconhecê-los? É justamente sobre isso que falaremos no conteúdo a seguir!
O que é um viés de comportamento?
Um viés de comportamento (também chamado de viés cognitivo) ocorre quando tomamos uma decisão por questões puramente emocionais, ou porque “sempre fizemos dessa ou daquela forma”. Basicamente, funciona como um atalho mental que o nosso cérebro toma, em vez de avaliar racionalmente as opções e o contexto envolvidos.
Nos vieses comportamentais, o cérebro busca a forma mais rápida e fácil de lidar com determinado desafio, apoiando-se em julgamentos e experiências próprias. É claro que isso é válido, afinal todos temos alguma bagagem que pode ajudar na tomada de uma decisão. O problema é ficarmos presos a essas vivências e não considerarmos aspectos externos em nossas avaliações, ou por não conhecê-los, ou simplesmente por não concordarmos com eles.
Como todo mundo está sujeito a vieses comportamentais, é importante saber quais são eles e em que momentos surgem, para que possamos evitar a cilada. Veja agora alguns dos mais frequentes (e perigosos) que acontecem nos investimentos.
Aversão à perda
Sabe quando preferimos deixar de ganhar do que arriscar perder alguma coisa em troca de um bom rendimento? Esse é o viés comportamental da aversão à perda (também conhecido como “efeito disposição“), tão comum entre os investidores que chegou a ganhar um indicador em sua alusão: o índice VIX, que mede a aversão ao risco.
Pessoas com essa tendência reagem de forma muito mais negativa quanto às perdas do que positiva frente a alguma possibilidade de ganhos. Dessa forma, as suas decisões acabam sendo sempre motivadas pelo medo de perder.
Aqui, é importante não confundir a aversão à perda com conservadorismo, pois o perfil conservador, de fato, busca majoritariamente a segurança nos investimentos. Esse viés comportamental vai bem além disso, pois pode induzir a dois erros graves por parte do investidor. O primeiro deles é não se desfazer de um ativo que vem se desvalorizando há tempos e sem perspectivas de recuperação. Nesse caso, por não aceitar realizar o prejuízo, a pessoa carrega o ativo indeterminadamente, mesmo que haja indícios de que ele tenha “virado pó”.
O segundo erro é se desfazer de uma posição assim que o ativo gerou lucro, mesmo que a tendência seja de que ele continuará se valorizando. Ao fazer isso, o investidor acaba não aproveitando todo o potencial do título, o que também é prejudicial para a carteira.
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Ancoragem
O viés da ancoragem acontece quando o investidor se apoia em determinada informação passada para tomar uma decisão e desconsidera outras mais relevantes ou atualizadas.
Por exemplo, imagine que você tenha comprado ações da empresa “X” a R$ 30 cada, e que os fundamentos da companhia comecem a se deteriorar. Com o passar do tempo, os problemas pioram, pois a empresa passa a ter sucessivos prejuízos e entra em uma crise financeira. Mesmo que tudo aponte para uma situação irreversível, você continua “ancorado” ao valor de R$ 30 que pagou pela ação e não consegue enxergar que o contexto mudou. Por isso, não se desfaz do título, e o prejuízo com essas ações começa a afetar o resto de seus investimentos.
A ancoragem prejudica não só a avaliação de determinado ativo, mas também a do cenário de forma geral. Isso porque, quando a pessoa forma referenciais somente em eventos passados, acaba não percebendo a evolução dos ciclos de mercado.
Confirmação
Outro viés comportamental muito comum é o de confirmação. Nesse caso, a pessoa está tão convicta sobre suas crenças que, ao invés de analisar os cenários de forma imparcial, busca indícios que confirmem as suas certezas.
Isso acontece o tempo inteiro, não só no mundo das finanças, mas em todos os aspectos da vida. Quando encontramos informações familiares, é mais confortável e seguro nos agarrarmos a elas do que partir para uma análise do desconhecido.
Em relação aos investimentos, um exemplo do viés de confirmação pode ser repetir uma estratégia que deu certo no passado, sem considerar as atuais condições do mercado. Ou adquirir ações de determinado setor olhando somente para um indicador financeiro que trouxe ganhos para a carteira no passado (dividend yield, por exemplo) e não olhar para outros indicadores da empresa ou para o novo contexto do segmento.
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Manada
O comportamento de “manada” explica alguns movimentos irracionais do mercado acionário. Mesmo quem já tem certa experiência e conhecimento pode, muitas vezes, ficar tentado a vender ações que despencaram sem motivo aparente. Ou comprar títulos que, da noite para o dia, se valorizaram também sem nenhuma explicação racional.
Esse viés comportamental se acentua em períodos mais turbulentos. Novamente, procurando uma zona de conforto, é como se o cérebro delegasse para outras pessoas as decisões que precisa tomar. Ou seja, sob pressão, passa a ser mais fácil seguir o rebanho do que assumir sozinho os riscos de uma escolha.
FOMO (Fear Of Missing Out)
Semelhante ao efeito manada, o “medo de ficar de fora” (tradução da expressão que dá origem à sigla) representa a ansiedade que alguns investidores têm de perder alguma boa oportunidade. Os IPOs (ofertas iniciais de ações) podem ilustrar esse viés comportamental.
Imagine que todo o mercado esteja esperando pelo momento em que determinada empresa comece a vender suas ações no pregão. Para não serem deixados para trás, certos investidores podem se sentir pressionados a adquirir os títulos, mesmo que eles estejam caros no dia da venda ou não tenham a ver com a estratégia de investimento. É o velho “bolão da Mega-Sena” aplicado aos investimentos, só que com potencial de perda bem maior.
Ilusão de controle
Em outro extremo, está o excesso de confiança no próprio taco, o que também pode vir a ser um problema, pois ele pode levar a uma ilusão de controle nos investimentos.
Muitas vezes, o excesso de informações acaba sendo prejudicial para a tomada de decisões. É claro que o investidor deve ter conhecimento para se pautar por suas próprias análises. Mas quando todo o mercado, com justificativas racionais, se mostra contrário a determinado ativo, o ideal é rever a estratégia para ter certeza de que nenhuma avaliação ficou de fora. Essa análise permite corrigir a rota, se for o caso, e pode prevenir contra possíveis prejuízos.
Estratégia de Martingale
Na verdade, o conceito de Martingale é uma estratégia, mas também pode ser considerado um viés comportamental em determinados casos.
Essa estratégia, adotada por alguns traders, faz com que se dobre a aposta em momentos de perdas sucessivas. Dessa forma, teoricamente, seria possível que um movimento a favor do ativo, que rompesse o ciclo de queda, revertesse rapidamente os prejuízos anteriores.
Ou seja, é basicamente o que acontece nos cassinos, quando um jogador decide apostar todas as fichas em um movimento único, para que possa reaver o dinheiro perdido. Quando há uma reversão do ciclo, essa estratégia até pode funcionar, porém é bastante arriscada.
E como evitar um viés de comportamento nos investimentos?
Para não cair em ciladas comportamentais, o primeiro passo é identificar quando algum viés está presente em uma decisão, e não confundi-lo com atitudes espontâneas do investidor.
Por que essa ação subiu (ou caiu) da noite para o dia? Será que os fundamentos da empresa mudaram, ou a variação do preço tem a ver com alguma correção do mercado? Qual é o preço-alvo para o título, de acordo com especialistas? Como o cenário econômico está impactando os investimentos?
Essas são algumas das perguntas que todo investidor precisa fazer quando estiver olhando para a sua carteira. Dependendo do caso, poderá ser necessário rebalancear os investimentos, para garantir que continuem aderentes à estratégia. Mas isso deve ser feito sempre com base em decisões racionais, apoiadas em indicadores financeiros, informações sobre o mercado e, não menos importante, opiniões de uma assessoria especializada, como a da Terra Investimentos!