Análise fundamentalista: o que é e como utilizar para escolher suas ações

Tempo de leitura: 6 minutos

Mulher utilizando a análise fundamentalista para escolher ações.
Mulher utilizando a análise fundamentalista para escolher ações.

Se você já investe em ações, ou pensa em dar os primeiros passos na bolsa, já deve ter ouvido falar na importância da análise fundamentalista, uma das formas mais utilizadas para escolher quais papéis comprar na B3.

A análise fundamentalista é uma excelente ferramenta para você escolher as melhores ações para a sua carteira. Basicamente, ela reúne informações sobre as empresas, mercados de atuação e cenário macroeconômico, e tudo isso é analisado conjuntamente para se tomar a melhor decisão de investimento.

À primeira vista, pode parecer complicado, não é mesmo? De fato, a análise fundamentalista é complexa, pois abrange diversos componentes. Mas isso não significa que seja difícil, e é isso o que mostraremos para você a seguir!

O que é análise fundamentalista de ações?

Basicamente, a análise fundamentalista busca entender a saúde de uma empresa a partir de aspectos internos e externos.

Quando falamos em aspectos internos, estamos nos referindo à empresa em si – saúde financeira, geração de resultados, governança, e assim por diante. Já os aspectos externos estão ligados ao setor de atuação e fatores macroeconômicos, como PIB, taxa de juros, inflação, câmbio, economia internacional, entre outros.

Quais são os pontos básicos para análise fundamentalista?

Para analisar e entender os aspectos relacionados acima, essa metodologia utiliza dados econômicos, índices e projeções do mercado financeiro e demonstrações contábeis das empresas. Inclusive, a análise fundamentalista pode ter diferentes abordagens, dependendo dos aspectos enfatizados.

Por exemplo, na abordagem top down (de cima para baixo), a análise parte de aspectos macroeconômicos e vai descendo até chegar em pontos específicos das empresas. Já na bottom up (de baixo para cima), inicia-se pelas peculiaridades do negócio até se alcançar o cenário macroeconômico.

Como fazer análise fundamentalista?

Uma forma prática de fazer análise fundamentalista é dividi-la em duas etapas. Na primeira, avaliamos indicadores financeiros da empresa; na segunda, damos ênfase a aspectos de mercado e da economia, conforme veremos a seguir. Por fim, com essas duas etapas concluídas, podemos então fazer uma projeção do valor-justo daquela ação em uma janela de tempo.

O que são indicadores fundamentalistas?

Os indicadores fundamentalistas são métricas que possibilitam a análise da performance econômico-financeira das empresas. A fonte de boa parte desses indicadores financeiros são as demonstrações contábeis da empresa, em especial o balanço patrimonial e a DRE (Demonstração de Resultado do Exercício).

É importante saber que os indicadores que veremos a seguir devem ser utilizados em conjunto para analisar uma ação. Isso porque cada um deles avalia um aspecto específico da empresa. Logo, se os considerarmos isoladamente, as chances de distorções em nossa análise serão grandes.

Confira agora alguns dos indicadores fundamentalistas mais utilizados:

Receita Líquida

A receita líquida de vendas representa todos os valores que a empresa recebe que sejam provenientes de sua atividade fim. Dessa forma, o indicador permite avaliar a evolução do negócio durante os anos e comparar o desempenho da organização com o da concorrência.

Para encontrarmos a receita líquida, precisamos deduzir da receita bruta os impostos, abatimentos e devoluções. Isso é expresso na Demonstração do Resultado do Exercício, da seguinte forma:

Receita Bruta de Vendas

(-) devoluções de vendas

(-) abatimentos sobre vendas

(-) impostos e contribuições sobre vendas

= Receita Líquida de Vendas

EBITDA

Esse é um dos principais indicadores de resultados de uma empresa. A sigla EBITDA vem de earnings before interest, taxes, depreciation and amortization (ou lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização).

Traduzindo: o EBITDA mostra o quanto a empresa gera de dinheiro somente com a sua atividade. Esse é um indicador muito importante para escolher uma boa ação, pois quanto maior for essa geração de recursos, mais eficiente tende a ser a operação da companhia.

Dívida Líquida/EBITDA

Na análise fundamentalista, outro ponto muito importante é avaliar o grau de endividamento das empresas. Nesse sentido, um indicador muito utilizado é a Dívida Líquida/EBITDA, que mostra a relação entre o total da dívida e o quanto a companhia gera de caixa operacional. Em outras palavras, o indicador dá uma ideia de quanto tempo a empresa precisaria para pagar toda a sua dívida somente com os recursos gerados pela própria operação.

Dívida Líquida/PL

Outro indicador de endividamento, mas dessa vez relacionado ao capital próprio (ou patrimônio líquido) da empresa. Quanto menor for a relação entre a dívida líquida e o PL, mais saudável será a situação financeira, pois menos endividada estará a companhia.

ROE (return on equity)

ROE significa retorno sobre o patrimônio líquido, e é um importante indicador de eficiência de gestão. Nesse sentido, ele mede o quanto rendeu os recursos investidos pelos acionistas na empresa.

Em outras palavras, o ROE mede a capacidade de um negócio de agregar valor utilizando somente os seus recursos. Ele é calculado da seguinte forma:

ROE = Lucro Líquido / Patrimônio Líquido

ROIC (return over invested capital)

Da mesma forma que o ROI, o ROIC serve para mostrar o retorno do investimento em uma empresa. No entanto, ele considera em seu cálculo também os recursos de terceiros, e não somente o somente o capital próprio da organização.

ROA (return on assets)

Mais um indicador de retorno da análise fundamentalista, agora relacionado aos ativos da empresa. Literalmente, ROA significa retorno sobre ativos, e também é utilizado para avaliar o quanto um negócio gera de valor, ou o quanto de dinheiro voltou para o acionista sob a forma de lucro.

O ROA é expresso em percentual, e o encontramos ao dividir o lucro líquido pelo ativo total da empresa:

ROA = (Lucro Líquido / Ativo Total) x 100

Teoricamente, quanto mais alto for o indicador, maior será a eficiência da empresa. Nesse caso, ela é capaz de gerar mais resultado com menor investimento em ativos.

Preço/Lucro (P/L)

O P/L indica a relação entre o preço atual de uma ação e o lucro acumulado pelo título nos últimos 12 meses. Dessa forma, temos:

P/L = Preço atual da ação / Lucro por ação nos últimos 12 meses

Esse indicador serve para mostrar em quantos anos se recupera o valor investido na ação considerando somente o recebimento de lucros da companhia. Em tese, quanto mais alto o P/L, maior será a disposição dos investidores de pagar pelos lucros da empresa.

Dividend Yield (DY)

Se um dos seus objetivos como investidor é ter renda passiva, é muito importante que conheça o dividend yield (ou DY). Esse indicador da análise fundamentalista mostra o quanto uma ação paga de dividendos a um investidor, de forma proporcional à quantidade de títulos que ele possui.

A fórmula do dividend yield é a seguinte:

DY = (dividendo por ação / preço da ação) x 100

Quanto maior for o indicador, mais dividendos a empresa paga aos seus acionistas. De fato, isso é muito bom para o investidor, porém uma ação que paga pouco ou nenhum dividendo não é, necessariamente, um mau investimento.

De forma geral, companhias já consolidadas e que atuam em setores tradicionais são melhores pagadoras de dividendos. No entanto, existem excelentes oportunidades entre empresas que estão iniciando suas atividades e em segmentos da nova economia. Por exemplo, startups das áreas de tecnologia e finanças demoram para gerar resultados. Porém, quando esses projetos maturam e dão certo, quem adquire cedo esses títulos pode lucrar muito com a sua valorização.

Aqui, novamente o alerta que fizemos anteriormente: nunca escolha uma ação com base em um único indicador.

Aspectos da macroeconomia

Até agora, com os indicadores financeiros, olhamos a empresa somente por dentro. Porém, a análise fundamentalista considera aspectos externos ao contexto empresarial que impactam fortemente o seu desempenho.

A seguir, falaremos sobre alguns dos principais.

Inflação

A alta dos preços mexe não só com o nosso bolso, mas com toda a atividade econômica. Em um cenário de inflação alta, o dinheiro perde valor e o consumo de bens e serviços retrai de forma geral. Com menos pessoas consumindo, as empresas também reduzem a atividade, o que impacta negativamente suas receitas e resultados.

Além disso, há setores mais afetados pela alta dos preços, como o varejo e a construção civil, por exemplo. Logo, empresas que atuam nesses segmentos podem sofrer mais com a inflação alta.

Taxa de juros

Uma das principais armas que os governos têm para controlar a inflação é a taxa de juros. No Brasil, essa taxa é a Selic. Quando a alta dos preços se torna preocupante, os bancos centrais elevam os juros, para conter a inflação de demanda.

Em outras palavras, com juros mais altos o dinheiro fica mais caro, e a demanda por consumo acaba arrefecendo. Teoricamente, isso tende a trazer os preços para patamares mais baixos. Já quando a economia precisa de um empurrão, o governo reduz os juros para estimular o consumo.

Em momentos de juros altos, o crédito fica mais caro, o que não é bom para a saúde financeira das empresas. Por isso, essa variável também é muito importante na análise fundamentalista.

Câmbio

A taxa de câmbio está diretamente relacionada ao mercado de atuação da empresa. Nesse sentido, empresas exportadoras se beneficiam com o dólar em alta, pois isso aumenta as suas receitas. Por outro lado, quem importa tem um aumento dos custos quando o dólar sobe, e vice-versa.

A análise fundamentalista sempre funciona?

Sem dúvida, essa metodologia é muito importante para quem analisa uma ação. Como vimos, ela contempla diversos aspectos que permitem fazer projeções sobre os resultados das empresas. Nesse sentido, quanto mais indicadores financeiros e dados macroeconômicos forem avaliados, mais assertiva tende a ser a análise.

No entanto, a análise fundamentalista exige tempo e conhecimento sobre todas essas variáveis. Sem isso, o investidor poderá não chegar ao resultado desejado, o que comprometeria o desempenho de sua carteira.

Além disso, é importante lembrar que essa metodologia é ideal para investimentos com foco no longo prazo. Assim como a economia, as empresas passam por diversos ciclos. Por isso, é necessário entender o tempo de cada um deles.

 

Compartilhe:

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on pinterest
Share on telegram
Share on whatsapp
Share on email
Blog Terra Investimentos

Posts Relacionados