Desde que o título do Tesouro Direto para a aposentadoria chegou no mercado, muitas pessoas têm dúvidas sobre qual a melhor opção para as reservas de longo prazo: Tesouro RendA+ ou previdência privada?
Por um lado, a previdência privada já é uma velha conhecida dos investidores, e oferece vantagens que vão além da aposentadoria – como redução da base de cálculo do IR (no caso do PGBL) e auxílio no planejamento sucessório. Por outro, o Tesouro RendA+ conta com a garantia do governo federal, e assegura a reposição da inflação durante todo o período do investimento.
Se você, assim como a grande maioria dos brasileiros, já pensa em um planejamento financeiro para a aposentadoria, continue a leitura e saiba mais sobre essas duas alternativas.
Tesouro RendA+ ou previdência privada: como escolher?
Na verdade, os dois produtos podem ser complementares para diversificar a carteira de longo prazo. O importante é entender como eles funcionam e em que contexto um ou outro pode ser mais adequado.
A seguir, confira as características de cada um dos investimentos.
Previdência privada
Normalmente, a previdência privada é a opção mais lembrada quando se pensa em complementar a aposentadoria do INSS no futuro.
Esse investimento prevê duas fases: a de acumulação e a de conversão. Durante a fase de acumulação é que ocorrem os aportes, que podem ser mensais (mais usual) ou em outra periodicidade, pois o produto é bastante flexível.
Ao final da acumulação, começa a fase de conversão, que é quando o investidor começa a receber de volta o patrimônio que se formou ao longo dos anos. O recebimento desses recursos pode se dar de diferentes formas, pois é possível escolher o tipo de renda na previdência privada que se deseja receber – vitalícia, temporária, reversível ao cônjuge e dependentes, entre outras alternativas.
No Brasil, existem dois tipos de previdência privada aberta, ou seja, comercializadas pelas instituições financeiras. A principal diferença entre as duas modalidades – PGBL e VGBL – é a forma de incidência do Imposto de Renda.
PGBL e VGBL
Para que se possa ter vantagens fiscais com a previdência privada, é importante entender como funcionam as duas modalidades.
O PGBL (Plano Gerador de Benefício Livre) é indicado para quem tem despesas dedutíveis e faz a declaração completa do IR. Isso porque ele permite que até 12% das contribuições feitas no ano entrem como despesas dedutíveis na declaração, reduzindo a base de cálculo do tributo.
Nos investimentos em previdência privada, o IR incide sempre no resgate. No caso do PGBL, todo o montante será tributado, ou seja, o principal acrescido dos juros.
Já o VGBL (Vida Gerador de Benefício Livre) é a modalidade ideal para as pessoas isentas de IR ou que fazem a declaração simplificada, pois ele não conta com o benefício fiscal da dedução. Nesse caso, o tributo incide somente sobre o rendimento na hora do resgate, e não sobre o total, como acontece com o PGBL.
Tributação da previdência privada
No resgate da previdência privada, o IR pode incidir de forma progressiva ou regressiva.
A tabela regressiva do IR para esse investimento é a mesma aplicada aos salários, que prevê cinco faixas de renda (sendo a primeira isenta) e quatro alíquotas que aumentam de acordo com a renda.
Para 2025, a tabela progressiva do IR é a seguinte:
Renda mensal | Alíquota IR | Parcela a deduzir |
Até R$ 2.259,20 | isento | – |
De R$ 2.259,21 a R$ 2.828,65 | 7,5% | R$ 169,44 |
De R$ 2.828,66 a R$ 3.751,05 | 15% | R$ 381,44 |
De 3.751,06 a R$ 4.664,68 | 22,5% | R$ 662,77 |
Acima de R$ 4.664,68 | 27,5% | R$ 896,00 |
Para fins de incidência do IR, considera-se o somatório de tudo o que o contribuinte recebe no mês. Por exemplo, quem recebe uma aposentadoria de R$ 4 mil do INSS e R$ 2 mil de previdência privada, está na última faixa de tributação (27,5%).
Já a tabela regressiva do IR incide de acordo com o tempo que os recursos ficam investidos. Na previdência privada, há seis faixas de alíquotas, que começam em 35% e reduzem até a mínima de 10%, na seguinte escala:
Resgate | Alíquota IR |
Até 2 anos | 35% |
De 2 a 4 anos | 30% |
De 4 a 6 anos | 25% |
De 6 a 8 anos | 20% |
De 8 a 10 anos | 15% |
Acima de 10 anos | 10% |
Taxas da previdência privada
Todos os fundos de previdência privada possuem uma taxa de administração, e podem também cobrar taxa de performance e taxa de carregamento.
A taxa de administração serve para remunerar a gestão e a administração do fundo, e incide sobre o patrimônio total do investimento. Ela é expressa em percentual ao ano, e descontada todos os dias úteis do ano, de forma diluída.
A taxa de performance é cobrada sobre o desempenho do fundo, servindo como uma recompensa para o gestor que conseguiu superar o índice de referência do investimento.
Por fim, a taxa de carregamento incide sobre as entradas e saídas da aplicação. Atualmente, algumas instituições financeiras não cobram mais essa taxa – é importante verificar isso na hora de investir em previdência privada.
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Tesouro RendA+
O Tesouro RendA+ é o título do Tesouro Direto destinado a quem busca um complemento de renda na aposentadoria.
Na prática, esse título é uma NTN-B (Nota do Tesouro Nacional série B). Ou seja, o seu rendimento acompanha o IPCA, índice que mede a inflação oficial brasileira, acrescido de uma taxa fixa anual – por exemplo, IPCA + 7% ao ano.
A exemplo da previdência privada, esse investimento também prevê as fases de acumulação e de conversão. Porém o RendA+ tem regras mais fixas, como datas de conversão predefinidas, prazo e forma de resgate.
Atualmente, o título oferece oito datas de conversão a cada 5 anos, de 2030 a 2065. O resgate ocorre obrigatoriamente em 240 parcelas mensais (20 anos), que começam a ser pagas a partir da data de vencimento.
Tributação do Tesouro RendA+
A tributação desse título incide somente sobre os rendimentos, e segue a tabela regressiva do IR aplicada aos demais ativos de renda fixa e fundos de investimento. Ou seja, as alíquotas diminuem com o passar do tempo, na seguinte proporção:
Resgate do investimento | Alíquota IR |
Até 180 dias | 22,5% |
De 181 a 360 dias | 20% |
De 361 a 720 dias | 17,5% |
Acima de 720 dias | 15% |
Taxas do Tesouro RendA+
Da mesma forma que ocorre com os outros títulos públicos, o RendA+ possui a taxa de custódia cobrada pela B3. Porém, o investidor pode ficar livre desse custo em duas situações: se não fizer resgate antecipado e se o rendimento mensal que receber no futuro não for superior a 6 salários mínimos. Sobre o valor que exceder a esse limite, será cobrada taxa de custódia de 0,1%.
No caso de venda antecipada do título, a taxa incide de maneira decrescente. Para até 10 anos de permanência na aplicação, o percentual é de 0,5% sobre o valor do resgate. De 10 a 20 anos, a taxa cai para 0,2%, e acima desse prazo, a cobrança é de 0,1%.
Vantagens e desvantagens do Tesouro RendA+ e da previdência privada
Tanto no Tesouro RendA+ quanto na previdência privada, você pode programar aportes mensais para investir. Por isso, eles acabam sendo um bom instrumento de educação financeira para quem deseja formar as reservas para o longo prazo
Como vimos inicialmente, as modalidades não se excluem, pois é sempre importante manter a diversificação nos investimentos. Conhecer os pontos fortes e fracos de cada um servirá para estabelecer uma divisão equalizada na carteira de longo prazo.
Além da garantia do Governo Federal, uma das principais vantagens do Tesouro Direto é a acessibilidade. Atualmente, alguns títulos do programa exigem aportes iniciais inferiores a dez reais – e o RendA+ é um deles.
Por outro lado, a previdência privada oferece mais flexibilidade. Nessa modalidade, o investidor tem mais liberdade para escolher o prazo, a forma de recebimento da renda, ou mesmo mudar de plano se encontrar algum mais interessante, dentro na mesma instituição financeira ou por meio de uma portabilidade.
Outro atrativo da previdência privada é a sua utilização em processos sucessórios, pois esse investimento não fica preso em inventário. E o titular pode definir beneficiários, o que não ocorre no caso do RendA+.
Quanto aos custos, o IR na previdência pode chegar a 10%, sendo que, no Tesouro Direto, a menor alíquota é de 15%. Por outro lado, isso pode ser compensado com as taxas. Na previdência, elas podem ser mais elevadas do que no RendA+, pois a taxa de custódia nem sempre incide sobre esse título.
Por tudo o que vimos até agora, podemos entender que ambos os investimentos possuem prós e contras, e que não são excludentes, pois é sempre importante manter a diversificação nos investimentos. Conhecer os pontos fortes e fracos de cada um servirá para estabelecer uma divisão equalizada na carteira de longo prazo.