Compreender o desempenho da economia é fundamental para diversos investidores em ações. Ao longo dos meses, vários indicadores econômicos são divulgados por órgãos governamentais, instituições financeiras, universidades, institutos de pesquisa e uma série de outras organizações – todas elas relacionadas, de alguma forma, com o setor da economia objeto da divulgação.
Esses indicadores nos ajudam a compreender o andamento das economias ao redor do mundo. Há dados que mostram o andamento da economia brasileira, americana, chinesa, europeia e muitas outras…
Parece besteira para o leigo, mas acompanhar as economias globais é importante para projetarmos os seus impactos no Brasil. O investidor comum pode se ver um pouco confuso entre todos esses indicadores, ou até mesmo, nem saiba que eles existem e seu impacto no mercado acionário.
Pensando nisso, listamos (e explicamos) quais os indicadores econômicos que possuem algum tipo de influência nos preços das ações em bolsa. Com isso, você, investidor, pode entender por que o mercado responde a essas divulgações, e, a partir de agora, acompanhá-las.
Taxa de juros e Curva de juros
O principal número para se observar para compreender os movimentos das bolsas de valores, a taxa básica de juros da economia – aqui no Brasil, a Selic. Que pode ser entendida, de grosso modo, como o preço do dinheiro, pois é o equivalente a ser pago quando se contrai um empréstimo em um banco ou, recebido, quando se compra título de renda fixa.
Utilizando o exemplo do título de renda fixa, quanto maior a taxa de juros, maior será seu rendimento no vencimento, no caso de uma taxa de juros baixa, o seu rendimento também será menor.
Isso gera uma relação inversa com o mercado de renda variável por conta de suas naturezas contrastantes, de forma que, enquanto no primeiro caso o investidor tem a certeza do quanto receberá ao fim do investimento, na bolsa de valores, o montante final é completamente indefinido, o que recebe o nome de risco de mercado.
Portanto, quando estamos passando por um ciclo de alta de juros, como os últimos meses, boa parte dos investidores posicionados na bolsa, vendem suas posições – depreciando as cotações dos papéis, e compram títulos de renda fixa.
Outra interação que é bem notável são os efeitos dos altos juros nos resultados das empresas, onde muitas são alavancadas sendo desfavorecidas por juros maiores, além de, empresas que por natureza dependem de crédito para expandir, como o setor de tecnologia, ou para gerar receitas, como as construtoras, que veem seus volumes de vendas prejudicados devido o encarecimento dos financiamentos dos imóveis.
A curva de juros segue a mesma linha, mas num horizonte diferente, demonstrando qual é a perspectiva do mercado para a trajetória dessa. Existem casos em que a expectativa de juros altos é algo apenas para os próximos meses, existem outros, no qual o cenário se mostra pessimista para anos à frente. Desta forma, é um fator importante para se manter a atenção quando se tem algum tipo de investimento em renda variável.
Inflação
Talvez o indicador econômico mais conhecido pela população brasileira seja a inflação. Ela mede as variações em preços em diversos produtos e serviços. Em níveis altos, a inflação pode ser muito prejudicial para o consumo das famílias e para situação financeira das empresas, e em níveis negativos, conhecido como deflação, é um indicativo que a demanda está muito baixa, o que também é péssimo para economia.
Em ambos os casos, os resultados das companhias listadas em bolsa serão prejudicados, seja por custos e despesas maiores em decorrência da inflação, ou, receitas menores como efeito de uma economia deflacionária.
Por si só, os indicadores de inflação são relevantes para a cotação de preços. Mas, além disso, será uma das bases da decisão de aumento ou diminuição da taxa básica de juros, que como já visto, tem grande impacto sobre a bolsa de valores.
Com relação aos índices, existem diversos focos, os principais são os que capturam as variações para a maioria da população, e uma variante para produtores, com mudanças nos preços de insumos. No Brasil, o mais comum é o IPCA, elaborado pelo IBGE, e aponta a variação do custo médio de famílias com renda mensal de 1 e 40 salários mínimos. No exterior, são chamados de CPIs, Consumer Price Index, e PPIs, Producer Price Index.
PIB
O IBGE define o PIB, Produto Interno Bruto, como: a soma de todos os bens e serviços finais produzidos por um país, estado ou cidade, geralmente em um ano. Em uma forma, simplificada, demonstra a atividade econômica, o que é muito relacionado com a bolsa de valores. Sendo assim, o mercado apresenta uma reação diferente a cada divulgação mensal ou trimestre do PIB.
Apesar de a maioria dos setores se beneficiarem com o crescimento econômico, conhecidos como cíclicos, há também setores que desempenham melhor em períodos de estagnação econômica. Assim, é importante observar qual aspecto é preferível considerando sua posição.
Oficialmente, o PIB é anual, mas durante todo o ano são divulgadas prévias ou indicadores correlacionados que indicam a tendência da atividade econômica no país, e são esses indicadores que geram a maior parte da volatilidade em bolsa, considerando sua frequência. O índice IBC-Br é o principal no Brasil, elaborado pelo Banco Central e publicado mensalmente, possui uma correlação muito próxima com o PIB oficial. Além dos PMIs, Purchasing Manager’s Index, que, a partir de uma escala de 0 a 100, indicam a tendência econômica dos setores, registro abaixo de 50 significa retração, acima, aceleração. Esses são amplamente divulgados no mundo todo, numa frequência mensal.
Taxa de Desemprego e Geração de Empregos
Para que gerem resultados, as empresas precisam de receitas, originadas no consumo das famílias, assim é importante que essas possuam uma fonte de renda. A taxa de desemprego irá apontar qual a porcentagem de pessoas dispostas a trabalhar, mas não estão empregadas. Dados ruins, nesse sentido, podem afetar principalmente os setores ligados ao consumo, como o varejo.
Como um suplemento à taxa de desemprego, existem os relatórios de geração de empregos, visando demonstrar as variações do mercado de trabalho. Podem servir como atenuantes ou agravantes aos dados de desemprego.
Índice da Bolsa
Considerando que os índices de bolsas são médias, ponderadas ou aritméticas, das empresas listadas em bolsa, podemos utilizá-los como indicadores econômicos, de forma que, uma bolsa subindo pode indicar uma economia em crescimento, enquanto, movimentos recorrentes de queda indicam a economia indo mal. Desta modo, o índice pode servir para traçar uma projeção para o próprio índice, mas tomando o devido cuidado para não entrar num otimismo retroalimentado, ou seja, acreditando que quanto mais sobe, mais irá subir.
Vendas do varejo
Esse dado consiste na variação do volume de vendas no varejo de um mês ao outro e divulgado a partir da Pesquisa Mensal de Comércio, pelo IBGE. Além de um ótimo indicador específico para o setor de varejo, pois possibilita traçar uma projeção de receitas de empresas que dependem do consumo, é um demonstrativo da atividade econômica de um país ou estado.
A bolsa, em sua maioria, se beneficia de expansão econômica, proporcionado pelo consumo, de forma que, esse indicador acaba impulsionando valorizações quando os outros aspectos da economia estão em equilíbrio.
Balança Comercial
A balança comercial possui a sua principal interação com a bolsa de valores indiretamente através do câmbio, mas, além disso, serve como indicador relevante para alguns setores da economia local e economia mundial, quando observamos os equilíbrios comerciais das grandes potências como a China.
No caso do Brasil, sendo um país sobretudo exportador, espera-se sempre uma balança comercial positiva, demonstrando força nos volumes de vendas dos setores de mineração, frigoríficos e outros. Conforme a característica do nosso país, a expectativa é que ocorra o oposto em outros países, indicando a entrada de produtos brasileiros nesses mercados.
Para uma análise mais precisa da lucratividade de empresas exportadoras, é necessário se atentar aos preços de commodities no mercado internacional, pois o montante total pode não indicar a real tendência do um produto em específico.
Câmbio
Numa situação normal, o câmbio está positivamente correlacionado com o desempenho do mercado acionário, pois os dois são indicadores do desempenho da economia de um país. Mas isso não indica que o câmbio forte irá favorecer todo tipo de investimentos em ações.
Os setores que têm receitas dependentes de exportações ou de operações do exterior, podem se valorizar muito, simplesmente, por uma pequena mudança positiva nas moedas estrangeiras, como o dólar, em relação ao real, considerando que o mesmo produto poderia ser vendido pelo mesmo preço em mercado internacional e representaria um valor maior pela conversão, isso ocorre muito com os setores ligados ao agronegócio. Todavia, o efeito oposto pode ocorrer em empresas que tenham, parcial ou totalmente, seu custo dolarizado, caso das companhias aéreas, onde o câmbio é suficiente para tornar uma receita bilionária irrelevante frente aos gastos com combustíveis, em um cenário de moeda local desvalorizada.
Rating
Uma parte considerável do volume dos investimentos em bolsa são provenientes de investidores estrangeiros e uma das informações mais importantes para esse tipo de investidor é a classificação do país de acordo com uma agência de avaliação de risco. Existem diversas agências que realizam esse trabalho pelo mundo. Mas, as que possuem maior credibilidade no mercado são a Moody’s, a Fitch e a Standard & Poor’s, detentoras de mais de 95% do mercado global de análise de risco.
Apesar dessas classificações serem focadas na capacidade pagadora do país ou de empresas específicas, diversos estudos já demonstraram que a avaliação ruim também gera impacto negativo na bolsa, classificação positiva, porém, não apresenta variação significativa.
Dívida do Governo
Assim como o rating, o tamanho do débito governamental impacta a bolsa de valores pelo simples fato de investidores internacionais não quererem seu capital investido em um país endividado, pois esse fato pode acarretar uma série de decisões péssimas para o mercado. Começando com o aumento dos juros para que se mantenha a atratividade dos títulos públicos federais para compensação ao risco de crédito, e como já visto, os juros possuem uma relação inversa à maior parte dos setores presentes na bolsa.
Países com grandes dívidas tendem a expandir a base monetária para se financiarem, causando inflação, com impacto direto nos resultados das companhias listadas. Enfim, o nível de dívida do governo é de extrema relevância para o investimento em mercado acionário por suas consequências.
Por fim, os indicadores econômicos possuem diversas interações com a bolsa de valores, e essas podem ser similares entre si ou completamente opostas. Assim, é exigido do investidor o cuidado para a análise de cada indicador separadamente, a fim de compreender sua real relevância. Além disso, um olhar sobre a atual conjuntura, pois os resultados podem assumir significados totalmente diferente consoante o contexto. Podemos usar como exemplo a situação atual dos Estados Unidos, onde o recente relatório de empregos, conhecido como payroll, indicando novos empregos sendo gerados e salário maiores dos trabalhadores fez a bolsa americana desabar, tudo porque a inflação no país está bem acima do projetado e a estabilidade econômica vista a partir dos novos empregos permitiria o aumento da taxa de juros sem grandes impactos, o que é chamado de “pouso suave da economia” pelos jornalistas e economistas americanos. Assim, a publicação foi vista como negativa, apesar do sentido estrito ser o oposto.