Fundo de renda fixa para reserva de emergência: afinal, pode?

Tempo de leitura: 5 minutos

Imagem mostra investimento em fundo de renda fixa para a reserva de emergência
Imagem mostra investimento em fundo de renda fixa para a reserva de emergência

O escândalo Americanas – possivelmente o maior já ocorrido na bolsa brasileira – não prejudicou somente quem tinha ações ou debêntures da companhia. Logo depois da bomba contábil estourar e abalar o mercado, sobrou também para fundos de investimento que tinham papéis da companhia no patrimônio. Entre eles, está o fundo de renda fixa “Nu Reserva Imediata” do Nubank, o maior da categoria no Brasil, com cerca de 1,3 milhão de cotistas.

O banco indicava esse fundo para a reserva de emergência dos clientes, com os argumentos de que era seguro, tinha liquidez imediata e rendia mais do que a poupança. De fato, alguns fundos dessa categoria podem formar o colchão de emergência, mas nem toda a renda fixa é segura. E foi aí que o Nubank errou feio nas suas indicações, conforme veremos a seguir.

Para começar, o que é um fundo de renda fixa?

Como o próprio nome diz, os fundos de renda fixa são aqueles que captam recursos dos investidores e aplicam em ativos de renda fixa. Esses títulos tanto podem ser mais conservadores, como Tesouro Direto, CDBs, LCIs, LCAs e outros de emissão bancária, quanto mais arrojados, como os que investem também em crédito privado (debêntures ou bonds, por exemplo).

Para que se possa considerar um fundo como de renda fixa, ele deve investir, no mínimo, 80% de seu patrimônio em ativos que acompanhem a Selic, índices de preços (como IPCA ou IGP-M) ou ambos. No entanto, essa é a definição genérica dos fundos de renda fixa. Isso porque eles ainda possuem subcategorias que levam em conta o risco dos títulos, conforme veremos a seguir.

Diferenciação dos fundos de renda fixa em relação ao risco

Quando se fala em renda fixa, normalmente o que vem em mente é a segurança do investimento, certo? Porém, nem toda essa categoria é igual, e aqui no blog já alertamos para o fato de que existe sim risco na renda fixa.

Nesse sentido, são considerados mais seguros os títulos emitidos pelo governo federal (como os tipos de Tesouro Direto) e por instituições financeiras, que possuem a proteção do Fundo Garantidor de Crédito (FGC). Por outro lado, papéis como CRIs, CRAs, debêntures, bonds e outros chamados de crédito privado não têm a garantia do FGC. Logo, sua exposição ao risco é maior do que a da renda fixa mais conservadora.

Essa diferenciação se aplica também aos tipos de fundos de renda fixa. Por exemplo, os chamados fundos de renda fixa simples precisam manter, no mínimo, 95% do patrimônio aplicado em títulos públicos federais. Os outros 5%, o gesto pode investir em operações compromissadas de títulos públicos federais, ou em papéis de instituições financeiras com risco equivalente ao do governo federal. Por isso, esse tipo de fundo de renda fixa é o mais conservador. Dessa forma, é uma das opções adequadas para a reserva de emergência.

Já os fundos de crédito privado investem a maior parte do patrimônio em títulos de renda fixa emitidos por empresas. Como não há um FGC por trás desses títulos, o risco desses fundos está diretamente ligado à capacidade de pagamento das empresas. Ou seja, essa é a renda fixa mais arrojada, que tanto pode trazer resultados acima da Selic e do CDI quanto perdas para os investidores.

E qual foi o problema do fundo do Nubank?

O Nu Reserva Imediata tinha debêntures da Americanas na composição do patrimônio. Assim como as ações, as debêntures são títulos emitidos por empresas para captação de recursos. No entanto, quem tem debêntures se torna um credor da empresa, e não um sócio, como no caso das ações.

Toda empresa que emite debêntures tem um rating de crédito, que é concedido por uma agência de classificação de risco. Isso é necessário justamente para que o investidor tenha noção do risco ao qual estará exposto caso decida adquirir esses títulos.

Logo depois da divulgação do rombo contábil, a agência de classificação de risco Fitch rebaixou o rating da Americanas de “AA+” para “CC”. Isso acentuou ainda mais a desvalorização dos títulos da empresa, que vinham em queda livre desde o fatídico anúncio das inconsistências nos balanços. Para se ter uma ideia, um dia depois do escândalo, as debêntures da Americanas estavam sendo negociadas no mercado secundário pela metade do valor que tinham na véspera. Foi exatamente isso o que afetou negativamente a rentabilidade do fundo do Nubank.

Fundo de renda fixa para reserva de emergência: o que dizem os especialistas?

Não só pode, como é uma das alternativas indicadas para a formação dessa reserva. Mas desde que seja conservador, com títulos de baixíssimo risco emitidos pelo governo ou por instituições financeiras de risco equivalente, conforme vimos anteriormente.

“Um fundo para reserva de emergência, nunca, jamais, em hipótese nenhuma, deve ter crédito privado na carteira.”

A afirmação é de Ricardo Brasil, fundador da Gava Investimentos, feita ao portal E-Investidor. “Se o fundo do  Nubank (Reserva Imediata) foi vendido como opção para reserva de emergência, chega ao absurdo. Me parece um tanto imprudente”, complementou o especialista.

Levantamentos do mercado mostram que o Nu Reserva Imediata tinha, até setembro de 2022 (último dado disponível), quase 1% do seu patrimônio líquido em debêntures da Americanas e de sua controladora, a B2W. Segundo dados de dezembro, cerca de 22,9% desse fundo estava aplicado em debêntures, ou seja, em títulos considerados como médio a alto risco de crédito.

“O risco do crédito privado é de se descobrir uma inconsistência nas demonstrações financeira e da empresa não pagar o título. Nesse sentido, já houve casos como o da Enron, que chegou a ser a maior empresa em valor de mercado nos EUA, IRB Brasil, e agora Americanas. Não há segurança para o investidor”, disse o gestor ao portal.

Na mesma entrevista, Luiz Felippo, sócio e analista da Nord Research, reiterou o fato de que um fundo para reserva de emergência precisa ser mais restritivo e vedar exposição a ativos de maior risco. “É por isso que recomendo que as pessoas utilizem fundos ditos ‘Selic Simples’, em que o regulamento especifica somente investimentos em compromissadas do Banco Central, e Tesouro Selic”, explicou o gestor.

“Reserva de emergência que perde dinheiro não faz sentido”

Rodrigo Knudsen, gestor de renda fixa da Empiricus Gestão, também compartilha da mesma opinião. “O problema aqui não está no fato de o fundo de renda fixa conservador ter debêntures da Americanas. O problema está no quanto ele tem em debêntures, como ele está diversificado e como foi vendido”, alerta. “Fundo para reserva de emergência é aquele que só investe em título público pós-fixado, com risco do governo. Reserva de emergência que perde dinheiro não faz sentido, enfatiza Knudsen.

Para o gestor, se a exposição de um fundo de renda fixa é alta a ponto de poder causar perdas ao investidor, não pode ser indicado para reserva de emergência. Nesse caso, o ideal é contar com ele para a parcela de longo prazo da carteira.

“Se o fundo tem 10% ou 20% em crédito privado e exposição de 0,1% por emissor, não tem problema, pois não fará tanta diferença em situações como a da Americanas. Porém, no caso do fundo do Nubank, a exposição era muito grande”, complementa o gestor da Empiricus.

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