Short squeeze: por que esse movimento acontece na bolsa?

Tempo de leitura: 5 minutos

Gráfico mostra ações subindo e investidores fazendo short squeeze
Gráfico mostra ações subindo e investidores fazendo short squeeze

Imagine uma empresa com sucessivos prejuízos e com o preço de suas ações despencando na bolsa durante algum tempo. Depois de uma reestruturação e com a melhora da economia, essa empresa vira o jogo e começa a ter bons resultados. Rapidamente, os seus papeis voltam a se valorizar e vão às alturas, para alegria de quem acreditava no seu futuro e para tristeza de quem apostou contra sua recuperação e sofreu um short squeeze.

Porém, nem sempre as ações de uma empresa sobem por causa de sua boa performance, e é aí que entra o movimento especulativo desse fenômeno que acontece na bolsa de tempos em tempos. No passado recente, um dos casos de short squeeze mais famosos foi o da empresa de videogames GameStop, em janeiro de 2021.

As vendas andavam fracas há tempos, por causa da preferência do público pelas mídias digitais. Inclusive, em 2019 a empresa chegou a anunciar um prejuízo de US$ 470 milhões. No entanto, em poucos meses e sem justificativa, as suas ações subiram de maneira estratosférica, passando de US$ 19,26 no final de dezembro de 2020 para US$ 380 um mês depois no pregão da NYSE, a Bolsa de Nova York.

Se você não acompanhou o caso, ou se não conhece o short squeeze, certamente está se perguntando o por que dessa alta absurda e repentina. É justamente isso o que explicaremos neste conteúdo. Acompanhe a leitura e entenda como acontece esse fenômeno no mercado acionário.

Afinal, o que é short squeeze?

No mercado financeiro, o short squeeze acontece quando ocorre um forte e repentino movimento de compra de uma ação que começa a se valorizar e que obriga investidores vendidos a se desfazerem de suas posições.

Embora possa parecer complicado, a lógica desse fenômeno é bem simples. Porém, para entendê-lo, precisamos antes saber o que significa operar comprado e vendido na bolsa, conforme veremos agora.

A forma mais conhecida de lucrar com um investimento – seja ele uma ação, um fundo imobiliário ou qualquer outro ativo financeiro – é quando ele se valoriza, certo? Porém, também dá para ganhar dinheiro quando o preço de alguns títulos cai, e existem termos técnicos que caracterizam as duas situações, ou seja, a expectativa de alta ou de queda do ativo.

Se um investidor compra ações esperando que elas se valorizem, dizemos que ele está operando comprado (ou em long). Por outro lado, se o que motiva o investimento é a expectativa de queda do preço do título, isso se chama operar vendido (ou em short).

Entendendo a lógica da operação

Em outras palavras, o short é uma aposta contra o ativo que acontece por diversos motivos. Como vimos no início, pode ser que uma empresa venha tendo problemas constantes que comecem a deteriorar os seus fundamentos. Por exemplo, suas vendas caem, está muito endividada, tem problemas de gestão ou sucessão, e assim por diante. Tudo isso impacta negativamente na forma como os investidores e o mercado passam a percebê-la, e a consequência natural disso é a queda das suas ações na bolsa.

É nesse momento que entra em cena quem deseja lucrar com essa desvalorização. Na prática, isso acontece por meio de uma operação conhecida como aluguel de ações, na qual o investidor que opera em short faz basicamente o seguinte:

  • 1 – Identifica ações que ele acredita que possam se desvalorizar em um determinado espaço de tempo, e encontra investidores que possuem essas ações;
  • 2 – Aluga as ações desses investidores pelo período durante o qual ele acredita que estarão desvalorizadas e imediatamente vende esses títulos.
  • 3 – Pouco tempo antes de vender o aluguel das ações, ele compra os títulos que vendeu para devolvê-los aos donos. Se a sua expectativa tiver se confirmado, ele vai lucrar com a diferença entre o preço de venda (mais alto) e o preço de compra (mais baixo). Por outro lado, se o oposto acontecer e as ações se valorizarem, quem operou em short terá prejuízo pois precisará gastar mais para comprar os títulos, e é justamente esse o grande risco da estratégia vendida.

O caso GameStop

No caso da GameStop, havia muitos especuladores operando em short por causa dos seus resultados, que só pioravam com o passar do tempo. Por isso, era cada vez maior a quantidade de pessoas acreditando que a situação da empresa iria se deteriorar ainda mais.

No entanto, o cenário começou a mudar quando um grupo de usuários da plataforma Reddit (na época, o 7° site visualizado nos EUA) se juntou e, literalmente, começou a jogar contra quem fez short com as ações da empresa.

Para isso, esse grupo começou a comprar grandes volumes de ações da GameStop, o que fez o preço dos títulos subir rapidamente. Isso acabou dificultando as operações de grandes investidores e o trabalho de analistas, que continuavam projetando resultados ruins para a empresa. Dessa forma, quem estava apostando na desvalorização começou a correr para tentar zerar rapidamente a posição vendida e devolver as ações alugadas, antes que ficassem ainda mais caras.

Porém, a corrida ao mercado fez com que as ações subissem ainda mais, devido à alta demanda pelo papel. Para completar o caos, as bolsas norte-americanas começaram a executar as margens de garantia, uma caução exigida do investidor que opera alavancado, ou seja, movimentando valores acima do seu patrimônio.

 Na época, as perdas estimadas por causa do short squeeze da GameStop foram algo em torno de US$ 9,3 bilhões.

Short squeeze é crime?

Logo após o salto de 1600% das ações da GameStop, investidores brasileiros tentaram fazer algo semelhante por aqui com as ações da IRB Brasil (IRBR3). Em 29 de janeiro de 2021 os papéis subiram quase 18%, a maior alta do Ibovespa do dia. Supostamente, isso foi fruto de uma ação coordenada em grupos de mensagens do Telegram e Facebook, e fez com que a CVM divulgasse um alerta ao mercado.

“A atuação com o objetivo deliberado de influir no regular funcionamento do mercado pode caracterizar ilícitos administrativos e penais”, declarou a entidade em comunicado. Por si só, o short squeeze não é crime, pois se trata de um movimento de investidores na bolsa. Porém, se ele acontece por atuação deliberada de pessoas que queiram manipular o mercado, daí sim a prática é ilegal e passível de punições.

“O chamado squeeze, que pode se configurar em situações nas quais um ou mais investidores provocam artificialmente a alta do preço de valores mobiliários, de maneira a causar prejuízos a terceiros ou auferir benefícios indevidos para si ou outros participantes do mercado, é uma das modalidades de manipulação”, complementou a CVM no comunicado.

Dá para saber quando um short squeeze vai acontecer?

Quem conhece um pouco o mercado financeiro, sabe que nada é totalmente previsível, mas existem alguns sinais que podem ser indicativos desse fenômeno.

Um dos mais fáceis de perceber é a reação positiva das ações quando a empresa divulga boas notícias inesperadas. Por exemplo, quando os resultados trimestrais vêm acima das expectativas do mercado, ou quando a companhia passa por alguma reestruturação societária que venha a lhe trazer vantagens.

Outro aspecto a observar é quando as ações estão em queda há bastante tempo, o que naturalmente atrai investidores vendidos. Dessa forma, começa a aumentar a proporção entre as ações que estão alugadas e as disponíveis no mercado. No caso da GameStop, a posição total em short alcançou 150% dos títulos em circulação nas bolsas norte-americanas.

Por fim, o aumento das compras de ações sem justificativa aparente também pode ser um forte indício de short squeeze. Nesse sentido, conhecer os fundamentos da empresa e acompanhar gráficos e indicadores da análise técnica para acompanhar histórico e tendências também ajuda a perceber se o fenômeno pode ocorrer.

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