Entre tantas alternativas de investimentos, é normal que muitas pessoas se perguntem se a previdência privada vale a pena quando pensam nas reservas para o longo prazo.
Na maioria das vezes, só lembramos de fazer um plano de previdência para complementar a aposentadoria. Porém, a modalidade pode ser utilizada para financiar outros objetivos ou proporcionar vantagens fiscais, conforme veremos mais adiante.
Se você está pensando em diversificar os seus investimentos e tem dúvidas sobre como funciona e se vale a pena ter uma previdência privada, continue a leitura a seguir.
Afinal, previdência privada vale a pena?
Se o objetivo for investir para o longo (ou médio) prazo, a previdência privada vale a pena sim.
Porém, é preciso entender como funciona o investimento para saber qual tipo de previdência é o mais adequado para cada contexto. Além disso, os custos de um plano de previdência podem variar significativamente, de acordo com cada instituição financeira.
Na sequência, explicaremos os tópicos mais importantes desse investimento. Acompanhe.
O que é e como funciona a previdência privada?
A previdência privada é um tipo de investimento que nasceu com o objetivo de ser um complemento para a aposentadoria do INSS. No Brasil, existem dois formatos de previdência privada: a previdência fechada e a aberta.
A previdência fechada (ou “fundo de pensão”) atende a um determinado grupo de pessoas – como funcionários de uma empresa ou profissionais de determinada categoria. Já a previdência aberta é acessível a qualquer pessoa, inclusive a menores de idade, pois não se vincula a uma empresa o categoria profissional. Essa é a previdência que você encontra nos bancos e corretoras de investimentos.
Todo plano de previdência prevê duas fases: a de acumulação e a de fruição. Na fase de acumulação, ocorrem os aportes no investimento, normalmente mensais. Na fase de fruição, o investidor recebe o dinheiro de volta acrescido dos juros referentes a todo o período. Quando contrata uma previdência privada, ele pode escolher o tipo de renda que deseja receber no futuro – se vitalícia, temporária, reversível ao cônjuge ou dependentes, e assim por diante.
Tipos de previdência privada: PGBL e VGBL
Os planos de previdência privada que você encontra nas instituições financeiras podem ser de dois tipos: PGBL e VGBL. A principal diferença entre ambos é a forma de incidência do Imposto de Renda, e é muito importante entender como funcionam para que se possa aproveitar vantagens fiscais.
PGBL
Se você faz a declaração completa do Imposto de Renda, o PGBL (Plano Gerador de Benefício Livre) é a melhor alternativa para a sua previdência privada. Isso porque ele permite que até 12% do que se investiu no ano entre como despesas dedutíveis do IR, reduzindo a base de cálculo do imposto.
Imagine que, em determinado ano, os rendimentos tributáveis de uma pessoa tenham somado R$ 200.000, e que ela tenha investido R$ 28.000 em um PGBL nesse mesmo ano. Nessa situação, ela poderá lançar R$ 24.000 como despesas dedutíveis no IR (12% de R$ 200.000).
Agora compare base de cálculo do IR com e sem PGBL:
Com PGBL | Sem PGBL | |
Renda tributável no ano | R$ 200.000 | R$ 200.000 |
PGBL a deduzir no ano | (R$ 24.000) | – |
Base de cálculo do IR | R$ 176..000 | R$ 200.000 |
Perceba que, com a dedução das contribuições ao PGBL, a base de cálculo do IR ficou R$ 24.000 menor no ano.
Nos planos de previdência privada, o Imposto de Renda incide somente no momento do resgate. No caso do PGBL, todo o valor será tributado (principal + juros), diferentemente do que ocorre no VGBL, conforme veremos a seguir.
VGBL
Já o VGBL (Vida Gerador de Benefício Livre) é a melhor escolha em duas situações. A primeira é quando o contribuinte não tem despesas dedutíveis e faz a declaração simplificada do IR. Esse tipo de previdência privada não possui o benefício da dedução de contribuições, mas somente os rendimentos do investimento serão tributados, e não o total como acontece no PGBL.
A segunda situação é quando o contribuinte faz a declaração completa e o total das contribuições do PGBL extrapolam o limite de dedução. No exemplo que vimos antes, se o contribuinte tivesse investido os R$ 4.000 excedentes em um VGBL, teria aproveitado melhor a vantagem fiscal da previdência.
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Tributação da previdência privada
Outro aspecto que precisa ser considerado para saber quando a previdência privada vale a pena é a forma de tributação do investimento. A incidência do IR sobre os planos de previdência pode seguir a tabela progressiva ou a tabela regressiva. Veja como funciona em cada um dos casos.
Tabela progressiva do IR
A tabela progressiva do IR é a mesma que se utiliza para os salários, com quatro faixas de tributação e uma de isenção.
Os valores e alíquotas da tabela progressiva do IR válidos para 2024 são os seguintes:
Base de cálculo | Alíquota IR | Parcela a deduzir |
Até R$ 2.259,20 | – | – |
De R$ 2.259,21 a R$ 2.828,65 | 7,5% | R$ 169,44 |
De R$ 2.828,66 a R$ 3.751,05 | 15% | R$ 381,44 |
De R$ 3.751,06 a R$ 4.664,68 | 22,5% | R$ 662,77 |
Acima de R$ 4.664,68 | 27,5% | R$ 896,00 |
Exemplo de cálculo do IR na tabela progressiva:
Suponha que uma pessoa receba mensalmente R$ 7.000 (aposentadoria do INSS + previdência privada), o que a coloca na alíquota de IR de 27,5%. Para chegar ao valor líquido da renda mensal, é preciso calcular o IR e deduzir o valor permitido para a faixa:
R$ 7.000 x 27,5% de IR = R$ 1.925
R$ 7.000 – (IR R$ 1.925 – parcela a deduzir R$ 896) = renda líquida mensal R$ 5.971
Tabela regressiva do IR
Já a tabela regressiva do IR considera o tempo de permanência no investimento. Quanto mais longo for o prazo, menos o investidor pagará de Imposto de Renda na hora do resgate.
Na previdência privada, as alíquotas do imposto começam em 35% e reduzem 5 pontos percentuais a cada dois anos, até atingir a mínima de 10%:
Prazo do investimento | Alíquota IR |
Até 2 anos | 35% |
De 2 a 4 anos | 30% |
De 4 a 6 anos | 25% |
De 6 a 8 anos | 20% |
De 8 a 10 anos | 15% |
Acima de 10 anos | 10% |
Na tabela regressiva, há uma alíquota diferente sobre cada parte do total acumulado, pois o percentual é aplicado conforme as datas dos depósitos. Por isso, essa forma de tributação vale mais a pena quando o resgate ocorre somente no longo prazo, pois no vencimento do plano a tributação será de 10%.
De forma geral, recomenda-se a tabela progressiva quando a renda mensal projetada fica na primeira faixa de tributação (7,5%) ou quando não se tem certeza sobre o prazo do resgate. De acordo com os valores atuais, isso corresponde ao limite de R$ 2.826,65 mensal.
Dá para perder dinheiro na previdência privada?
Todo investimento possui algum risco, em maior ou menor grau, e não é diferente com a previdência privada. No caso dos planos de previdência, existem riscos inerentes ao próprio investimento, e outros que você pode evitar se tomar a decisão correta.
Quanto ao investimento em si, existe a chance de que não se alcance a rentabilidade esperada. Isso pode acontecer, por exemplo, quando a performance dos ativos que formam o fundo for ruim, ou em momentos mais instáveis da economia.
Outro ponto a considerar é que os fundos de previdência não contam com a proteção do Fundo Garantidor de Crédito (FGC). Isso significa que, se a instituição financeira que gerencia o plano falir, o investidor pode perder o dinheiro aplicado.
Embora esse seja um risco, atualmente a maioria dos planos de previdência está nas mãos de grandes bancos e corretoras experientes e confiáveis. Além disso, a Superintendência de Seguros Privados (Susep) controla e fiscaliza esses investimentos, e as instituições que comercializam planos de previdência possuem volumes significativos lastreados com a entidade.
Quanto aos riscos que se pode evitar para não perder dinheiro, um deles é a escolha correta da forma de tributação – se progressiva ou regressiva. Isso ficou mais fácil com as novas regras da previdência privada, vigentes desde o início de 2024, que permitem escolher a tabela no momento do resgate.
Outro fator importante é o tipo de previdência mais adequado ao contexto do investidor. Como vimos, o PGBL permite dedução na base de cálculo do IR, ao passo que o VGBL é indicado para quem faz a declaração simplificada do tributo.
Todos esses aspectos precisam ser avaliados em conjunto na hora de contratar uma previdência privada.
5 motivos pelos quais a previdência privada vale a pena (além da aposentadoria)
Agora que você já sabe como funciona a previdência privada, é hora de conhecer outras vantagens desse investimento que vão além do complemento para aposentadoria.
1 – Planejamento financeiro
Você pode contatar uma previdência privada para objetivos de médio prazo, como viagens, festas ou qualquer outro evento que necessite de um planejamento financeiro mais longo.
2 – Benefícios fiscais
Como vimos, as contribuições ao PGBL entram como despesas dedutíveis no IR até o limite de 12% da renda bruta tributável. Logo, é uma forma de pagar menos imposto no ajuste de contas anual com o Leão.
3 – Flexibilidade do investimento
Você pode escolher o valor das contribuições mensais e a forma como deseja receber os recursos no futuro. Por exemplo,
No caso de uma viagem, por exemplo, você define uma data para o resgate do investimento. Já se o seu objetivo for complementar a renda na aposentadoria, pode contratar um plano com renda mensal vitalícia.
E os seus dependentes ou cônjuge também podem ficar amparados se você vier a falecer. Para isso, basta optar por uma renda reversível aos beneficiários que serão definidos em contrato.
4 – Planejamento sucessório
A previdência privada também é uma ferramenta eficiente de planejamento sucessório, pois os recursos investidos em PGBL e VGBL não precisam passar por inventário. Isso pode aliviar bastante as finanças da família, que precisam gastar quando existe uma partilha de bens a ser feita.
5 – Portabilidade
Digamos que você tenha encontrado um plano de previdência com condições melhores em outro banco ou corretora. Nesse caso, você pode fazer gratuitamente a portabilidade do seu investimento sem ter que resgatá-lo para contratar um novo plano.
Você já tem uma previdência privada?
Se você chegou até aqui e ainda tem dúvidas sobre investir em uma previdência privada, saiba que a Terra possui uma equipe especializada em previdência e seguros que pode lhe dar toda a assessoria para escolher o melhor plano.