Mesmo para quem já tem alguma experiência no mercado de capitais, escolher uma ação não é uma tarefa tão simples. Para realizar o sonho de comprar da baixa e vender na alta, é preciso conhecer as empresas e saber analisar o mercado, e o stock picking é uma das ferramentas que se pode utilizar para isso.
Em linhas gerais, a tarefa do stock picker (quem pratica a estratégia) é escolher ativos que estão abaixo do preço justo para vendê-los quando se valorizarem, e isso não é feito de forma aleatória. Portanto, se você quiser saber como funciona essa estratégia, continue a leitura e confira!
O que é stock picking?
Em inglês, stock é a forma como o mercado se refere às ações de empresas norte-americanas, e picking pode ser traduzido como “escolhendo”. Ou seja, fazer stock picking nada mais é do que escolher ações com para lucrar com a sua valorização.
Logo, o stock picker é aquele que está sempre atendo às melhores oportunidades do mercado. Para isso, ele precisa conhecer as empresas, entender os seus fundamentos e acompanhar a volatilidade da bolsa. Dessa forma, conseguirá avaliar a relação entre risco e retorno do investimento, e, assim, determinar as possibilidades de ganhos.
Com o passar do tempo, a carteira de quem adota essa estratégia pode sofrer diversas variações, pois o objetivo é superar a rentabilidade média do mercado. Nesse caso, estamos falando de uma gestão ativa dos investimentos, conforme veremos a seguir.
Gestão ativa e passiva: o que isso significa?
Na gestão ativa de uma carteira, o objetivo é buscar superar determinado índice de referência (benchmark). No caso das ações, esse referencial pode ser o Ibovespa, o S&P 500, os índices MSCI, e assim por diante.
Como o objetivo da estratégia é superar o benchmark, o investidor acompanha frequentemente o desempenho das ações que formam a carteira. Dependendo da performance de cada uma delas, poderá mantê-las ou substituí-las por outras mais rentáveis, se for o caso.
Por outro lado, na gestão passiva de uma carteira de ações não se busca superar algum referencial, mas sim acompanhar o seu desempenho. Um dos exemplos mais conhecidos desse tipo de estratégia são os ETFs (Exchange Traded Funds), que replicam determinado índice ou ativo financeiro.
Como vimos, o stock picking busca sempre a maior valorização possível da carteira. Para isso, é preciso monitorar constantemente o rendimento dos ativos, ou seja, realizar uma gestão ativa do investimento.
Como o stock picking funciona e como fazer?
Como vimos, o objetivo da estratégia é comprar o ativo no melhor preço para obter o melhor resultado na venda. Para isso, é preciso entender se a ação ainda tem potencial de valorização ou se já chegou no seu máximo, e esse é o desafio do stock picker. A seguir, acompanhe algumas dicas.
Escolher boas ações
As ações representam partes de uma empresa. Logo, para que possamos escolher as melhores, é preciso conhecer as emissoras dos títulos, e o primeiro passo para isso é saber analisar os indicadores financeiros de uma empresa. Por exemplo, evolução das vendas, resultados, geração de caixa, grau de endividamento, e assim por diante.
Todas as companhias de capital aberto divulgam essas informações a cada três meses, nas temporadas de balanços. Inclusive, esses relatórios também trazem dados referentes à governança corporativa, outro ponto importante para a avaliação de uma empresa.
Além disso, há também aspectos macroeconômicos que o investidor precisa conhecer para entender quais as perspectivas para o negócio. Aqui, entram taxa de juros, inflação, PIB, cenários interno e externo, e por aí vai.
De forma geral, as empresas com indicadores financeiros saudáveis tendem a ganhar valor no longo prazo.
Avaliar preços atrativos
Depois de identificar as empresas com bons fundamentos, o próximo passo é entender se os preços de suas ações estão atrativos ou não.
Uma das formas mais eficientes de saber se uma ação está cara ou barata é fazer o valuation da empresa. Com base em indicadores financeiros, macroeconômicos, projeções de crescimento e outros aspectos, essa metodologia busca analisar tudo o que pode influenciar a performance do investimento.
O valuation ajuda a conhecer o real valor de uma empresa, e evita que se caia na armadilha de entrar em uma ação em momentos de especulação do mercado. Por isso, investidores de todo o mundo utilizam a metodologia para selecionar ações, especialmente na estratégia buy and hold.
Entre os métodos de valuation mais utilizados, estão o fluxo de caixa descontado e a avaliação por múltiplos.
No fluxo de caixa descontado, o foco da análise é no valor intrínseco da empresa. Em outras palavras, o investidor procura entender quanto ela pode ganhar de valor no futuro. Para isso, analisa projeções de resultado utilizando uma taxa de desconto por um determinado período.
Já a avaliação por múltiplos requer a análise de indicadores financeiros da empresa. Entre os diversos múltiplos que podem ser utilizados, alguns dos mais conhecidos são os seguintes:
- – EBITDA: mostra o quanto a empresa gera de caixa considerando apenas a sua operação.
- – Preço/Lucro (P/L): indica a relação entre o preço atual da ação e o lucro acumulado pelo título nos últimos 12 meses.
- – Preço/Valor Patrimonial (P/VPA): mostra a relação entre o preço da ação e o seu valor patrimonial, para entender o quanto o mercado está disposto a pagar pelo patrimônio líquido da empresa.
- – Return on Equity (ROE): indica mostrar o quando a empresa consegue gerar de lucro líquido a partir do seu capital próprio. Ou seja, o quanto renderam os recursos que os sócios investiram no negócio.
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Quais as formas de fazer stock picking?
Não há uma fórmula única para utilizar a estratégia, pois o investidor pode combinar diversas ferramentas de análise para escolher suas ações. Entre as abordagens mais utilizadas, estão a análise fundamentalista e o value investing.
Análise fundamentalista
A análise fundamentalista busca entender a empresa a partir de aspectos internos e externos. Quanto aos primeiro, são avaliados saúde financeira, geração de resultado, nível de endividamento, governança, entre outros. Já os aspectos externos se referem ao setor de atuação e fatores macroeconômicos, conforme vimos anteriormente.
Essa metodologia reúne todos esses aspectos e os analisa em conjunto. Dessa forma, consegue-se realizar projeções para o desempenho da empresa, o que ajuda a tomar a melhor decisão de investimento.
É importante ressaltar que, quanto mais informações e indicadores fundamentalistas forem utilizados, mais completa será a análise. Logo, mais assertiva tende a ser a decisão sobre a carteira.
Value investing
Na tradução literal, a expressão significa “investimento em valor”. Basicamente, quem utiliza o value investing busca encontrar ações descontadas, ou seja, abaixo do que realmente valem.
Essa estratégia ganhou fama ao ser adotada por megainvestidores do mercado financeiro, sendo Warren Buffett o seu expoente mais famoso. Nesse sentido, foco no longo prazo e preços acessíveis são os principais pilares de quem adota o value investing nos investimentos.
Quando uma ação está abaixo do preço, não significa necessariamente que ela seja um mau negócio. Por exemplo, pode ser que o mercado ainda não conheça bem a empresa, como acontece com muitas small caps durante anos. Ou pode ser que o seu preço tenha sido afetado por algum movimento do mercado, o que é bastante comum na renda variável.
Não existe uma fórmula única para adotar o value investing. No entanto, podemos identificar três pontos principais dessa estratégia. O primeiro deles é ter um horizonte de longo prazo para o investimento, o que significa paciência em momentos de turbulência. Caso contrário, o investidor pode tomar más decisões no sentido de comprar ou vender uma ação na hora errada.
O segundo ponto é encontrar boas empresas e saber analisá-las. Por isso, a análise fundamentalista é uma importante base para o value investing.
Confiar no negócio da empresa também é muito importante quanto se utiliza o value investing. Para isso, é preciso conhecer o segmento, a experiência da gestão, o histórico e as perspectivas de resultado, entre outros aspectos.
Stock picking na prática
Agora que já entendemos o que é e como funciona a estratégia, é hora de colocá-la em prática.
Para ser um stock picker, o primeiro passo é acompanhar a economia. Dessa forma, você conseguirá identificar as melhores oportunidades e os desafios que enfrentam as empresas listadas na bolsa. Entender como fatores macroeconômicos podem atuar no resultado do negócio lhe ajudará a ter uma melhor visão de longo prazo.
Outro ponto importante é entender como funciona o mercado acionário. Aqui, não estamos falando somente sobre operar no home broker ou conhecer estratégias como buy and hold ou day trade, por exemplo. Além disso, é necessário conhecer e acompanhar os principais nomes do mercado interno e das bolsas internacionais, pois dependendo das empresas, os seus resultados podem exercer impactos sobre diferentes mercados de capitais.
Por fim, acompanhar os indicadores financeiros das empresas é fundamental para o sucesso do stock picking. No site das companhias de capital aberto, você encontra demonstrações contábeis e diversas informações relevantes sobre suas atividades. Além disso, há corretoras e casas de análises que disponibilizam informações atualizadas com pareceres de especialistas.
Stock picking X ETFs e fundos: o que é melhor?
Essa resposta não é tão simples, pois existem diversos fatores a serem avaliados na hora de escolher a melhor estratégia.
No stock picking, a seleção das ações é feita pelo próprio investidor. Logo, existe mais liberdade para escolher os ativos e determinar quanto tempo eles ficarão na carteira.
Mas, para isso, é preciso ter um bom conhecimento sobre as empresas e saber analisar os seus indicadores financeiros, além, é claro, de certa experiência no mercado acionário.
Outro aspecto a considerar são as taxas de corretagem e outros custos de transações na bolsa. Dependendo da frequência com que o investidor opera, ele poderá gastar mais do que se tivesse comprado cotas de fundos ou ETFs.
De qualquer forma, uma estratégia não exclui a outra. Ou seja, para diversificar a carteira, é perfeitamente válido fazer stock picking e investir em fundos e ETFs ao mesmo tempo, especialmente quando se pode contar com uma boa assessoria de investimentos.