Green bonds: o que são os “títulos verdes” do mercado financeiro?

Tempo de leitura: 4 minutos

Imagem mostra sustentabilidade - investimento em green bonds
Imagem mostra sustentabilidade - investimento em green bonds

Cada vez mais, os investimentos sustentáveis estão no radar do mercado financeiro, pois é crescente a preferência por investimentos alinhados a boas práticas sociais, ambientais e de governança no mundo todo. Entre as alternativas desse mercado, estão os green bonds – ou “títulos verdes” – instrumentos que visam financiar projetos comprometidos com a sustentabilidade.

Neste conteúdo, você saberá mais sobre esses investimentos, e entenderá quais as perspectivas para o Brasil em relação a esse mercado. Continue a leitura e confira a seguir!

O que são green bonds?

Aqui no blog, nós já falamos sobre os bonds, que são títulos de dívida que governos e empresas emitem com o objetivo de captar recursos. No caso dos green bonds, a diferença é que o destino desses recursos deve obrigatoriamente ser o financiamento de algo ligado à sustentabilidade ambiental. Por exemplo, projetos de controle de poluição, energia renovável, tratamento de águas e outros relacionados à preservação dos recursos naturais.

Com o passar do tempo, o escopo dos títulos verdes tem aumentado significativamente. Nesse sentido, sistemas de aquecimento e edificações sustentáveis são alguns dos exemplos mais recentes de projetos que recebem esses investimentos.

Quem primeiro emitiu green bonds foi o Banco Europeu de Investimento, em 2007. Naquele ano, os títulos verdes tinham o objetivo de financiar projetos inicialmente ligados à redução de gases de efeito-estufa. Um ano depois, foi a vez do Banco Mundial lançá-los no mercado.

Em 2015, tivemos o lançamento dos primeiros green bonds brasileiros. A empresa pioneira na modalidade foi a Brasil Food (BRF), que captou 500 milhões de euros por meio desses títulos. Além da BRF, companhias como Taesa, Tietê e AES também já estruturaram esse tipo de operação.

Quanto aos tipos de títulos, os green bonds assumem diferentes formas de renda fixa. Nesse sentido, alguns dos que podem fazer parte dessa categoria são as debêntures, debêntures incentivadas, Certificados de Recebíveis Imobiliários e do Agronegócio (CRIs e CRAs), e cotas de Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FDICs).

O que são fundos ESG?

Não há como falar em green bonds sem lembrar dos fundos ESG. A sigla vem de Environmental, Social and Governance (ambiental, social e governança), fazendo alusão aos critérios aos princípios que determinam o perfil desses investimentos.

Da mesma forma que os green bonds, os fundos ESG alocam os recursos dos cotistas em ações de companhias que obedecem aos três critérios, conforme veremos a seguir:

Ambientais

Esses aspectos avaliam os impactos da atividade os impactos da atividade empresarial sobre o meio ambiente. Nesse sentido, abrangem como a empresa lida com o descarte e reciclagem do lixo, tratamento e consumo de água, redução do uso de recursos naturais não renováveis, entre outros.

Sociais

Já os critérios sociais observam o perfil da empresa em relação à responsabilidade social. Ou seja, como ela se relaciona com seus funcionários, clientes, fornecedores e todos que fazem parte de seu ecossistema de forma geral.

Olhando para dentro da organização, esses aspectos avaliam bem-estar profissional, segurança no trabalho, respeito às leis trabalhistas, diversidade de gênero, raça, credo (etc), remuneração adequada, entre outros. Por sua vez, sob a ótica externa, alguns dos itens mais importantes são a preocupação com a experiência dos clientes, o engajamento com causas sociais e beneficentes e o aprimoramento das relações com a sociedade.

Governança

Por fim, os aspectos de governança se relacionam às estratégias do negócio, processos e tudo o que se refere à administração da empresa. Por exemplo, informações transparentes para os investidores e sociedade, ética e qualificação da gestão são fazem parte desse quesito.

Os critérios de governança são os que orientam e fiscalizam as práticas sustentáveis. Por isso, estão intimamente ligados aos aspectos social e ambiental.

Quem pode emitir títulos verdes?

Tanto empresas públicas quanto privadas e de capital misto podem emitir os green bonds. Além disso, esses títulos também podem ser emitidos via crédito privado, como os exemplos que vimos anteriormente (debêntures, certificados de recebíveis ou cotas de FIDCs).

Um título só é classificado como verde se o emissor comprovar que destinou os recursos a projetos sustentáveis. Além disso, é preciso demonstrar também que o projeto impactou positivamente o meio ambiente. Ainda não existe um órgão que fiscalize se os recursos captados, de fato, foram utilizados para esses fins. Em vez disso, há padrões que o mercado determina e que são autorregulados.

Por exemplo, quando uma empresa emite títulos verdes, um órgão de “second opinion” avalia se ele é apto a receber o selo verde. Nesse sentido, o principal órgão que delibera sobre isso é uma organização internacional de autorregulação dos mercados de capitais – a International Capital Markets Association (ICMA). No Brasil, a Sitawi atua na emissão dos green bonds e monitora o cumprimento dos padrões exigidos.

E quais as perspectivas para esse mercado no Brasil?

No mercado internacional, acredita-se que o Brasil tenha boas perspectivas em relação a títulos verdes nos próximos tempos. Em novembro, a Nordea Asset Management, empresa do maior grupo financeiro do norte da Europa e referência em investimentos sustentáveis, retirou o país da lista de restrições no qual havia sido incluído em 2019.

De acordo com entrevista concedida à Folha pelo gestor da Nordea, Thede Rüst, títulos brasileiros que vierem acompanhados de projetos de sustentabilidade terão uma boa receptividade no mercado internacional. Para o executivo, títulos verdes poderiam ajudar o novo governo a financiar programas sociais.

“Esse é um mercado que agora está bastante aberto para o Brasil, em um contexto no qual os títulos verdes são um tipo de ativo bastante procurado pelos investidores globais”, disse Rüst à Folha.

Questionado sobre se a gestora pretende investir no Brasil nos próximos meses, ele disse que a Nordea sempre manteve investimentos em títulos de dívida de empresas por aqui. “Tomamos a decisão de deixar de investir em títulos do governo brasileiro no passado, e voltamos nossa atenção para empresas que avaliamos que adotam boas práticas ambientais”.

Entre elas, estão companhias como a Klabin, do setor de papel e celulose. Para o gestor, a companhia é um exemplo de equilíbrio entre sustentabilidade e utilização de recursos naturais. “Também investimos na Rumo, do setor de infraestrutura, que emitiu títulos verdes com o compromisso de reduzir as emissões de CO2″.

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