Se você investe no Tesouro Direto, em CDB, ou em algum outro título de renda fixa de longo prazo, já deve ter observado que as taxas desses ativos variam de acordo com o prazo da aplicação. Isso acontece por causa da curva de juros, e entender o que ela significa faz toda a diferença na hora de escolher as melhores opções para a carteira.
E a curva de juros não influencia somente o patrimônio dos investidores. Além disso, ela impacta também o custo de empréstimos e financiamentos no longo prazo. Portanto, para entender o que esse conceito representa para o seu dinheiro, continue a leitura a seguir.
O que é a curva de juros?
De forma simplificada, a curva de juros representa a expectativa que o mercado tem para as taxas de juros de um período específico, que pode ser de meses, anos ou décadas.
Se você acompanha a economia e o mercado financeiro, pode estar se perguntando: mas por que expectativa de juros? Afinal, não é o Banco Central quem determina a taxa de juros na economia? Se você pensou isso, está correto, mas em parte, e já explicaremos por quê.
A cada 45 dias, o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) se reúne para decidir sobre os rumos da taxa Selic, a nossa taxa básica de juros. Dependendo da evolução das variáveis macroeconômicas – em especial, da inflação – o colegiado decide pela manutenção, aumento ou redução da Selic.
No entanto, essa decisão só influencia os juros dos investimentos e o custo do dinheiro no curto prazo. Isso porque, para que possamos precificar o longo prazo, há diversas variáveis a serem consideradas. E, dependendo de quão longo for o prazo analisado, essas variáveis exercerão diferentes graus de risco sobre os investimentos.
Em outras palavras: quem manda nos juros de curto prazo é de fato o Banco Central. Por outro lado, os juros de longo prazo são definidos pela expectativa que o mercado tem sobre tudo o que influencia a economia.
Teoricamente, quando maior o prazo, mais exposto a riscos estará o dinheiro. Por isso, para que um investidor deixe o dinheiro aplicado por mais tempo, o prêmio que ele receberá por isso deve ser maior do que o de uma aplicação de curto prazo.
Considerando esses aspectos, temos o seguinte formato para uma curva de juros normal:
Ou seja: a curvatura aumenta com o passar do tempo, o que representa juros maiores em prazos mais longos.
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Como funciona a curva de juros
Até aqui, já entendemos que a curva de juros reflete as projeções do mercado em relação à economia. Agora, precisamos conhecer quais são os fatores que mexem com essa expectativa de juros.
Como vimos, os juros futuros projetam o risco esperado para determinado período. Por exemplo, se o governo acha que, daqui a dois anos, a inflação estará mais alta do que hoje, os juros para esse período serão maiores dos que os atuais. Isso porque uma das formas de o BC controlar a inflação é aumentando a taxa básica de juros.
Outro exemplo é quando se tem a expectativa de ocorra alguma turbulência na economia, como aumento de gastos, crises, ou mesmo a troca de um governo. Nesses casos, a incerteza também pode puxar os juros futuros para cima, o que impactará nos investimentos e no custo do crédito de prazo mais longo.
Na linguagem do mercado, essa expectativa de aumento nas taxas de juros de longo prazo também é conhecida como abertura da curva de juros. Esse acaba sendo o movimento normal dos juros, pois, conforme o tempo passa, mais difícil fica prever o que acontecerá no futuro. No entanto, existe uma exceção a essa tendência, que provoca justamente o fechamento da curva de juros, e é isso o que veremos a seguir.
Curva de juros invertida
Quando os juros estão mais altos no longo prazo, isso significa que o mercado está prevendo mais risco para a economia no futuro. Porém, em algumas ocasiões, o risco mais elevado pode estar no curto prazo, ou mesmo, no presente. Isso acontece em momentos de crises econômicas que, em última instância, podem preceder uma recessão.
Ou seja, a curva de juros invertida ocorre quando o cenário atual está ruim a ponto de o mercado acreditar mais no futuro, mesmo com as incertezas do longo prazo. No Brasil, tivemos uma inversão da curva de juros no final de 2021, quando o mercado ficou preocupado com ações que provocariam o estouro do teto de gastos do governo. Isso fez com que títulos de curto prazo passassem a pagar mais do que os com vencimento mais longo.
Dessa forma, temos a seguinte representação da curva de juros invertida:
Graduações da curva de juros
A curva de juros também pode apresentar graduações entre a normal e a invertida. Por exemplo, em ambos os casos a inclinação pode ser bastante acentuada. Se o movimento for ascendente, isso indica um período de forte crescimento. Já se a curva for invertida, isso pode sinalizar dificuldade do governo no sentido de financiar suas dívidas de longo prazo.
Outra possibilidade é a curva de juros se manter flat (ou plana). Isso significa que as taxas de curto prazo estão muito próximas às de longo prazo. Isso demostra que o mercado não sabe exatamente o que esperar da economia no futuro. Por isso, a curva flat normalmente marca um período de incerteza econômica.
Impacto da curva de juros nos investimentos
Com a abertura da curva de juros, os rendimentos dos títulos de renda fixa se tornam mais atraentes. No entanto, quem comprou um título de longo prazo antes da alta dos juros e deseja vendê-lo antes do vencimento, pode sofrer perdas com a marcação a mercado. Ou seja, os títulos lançados com juros maiores terão a preferência dos investidores.
A renda variável também acaba sofrendo o impacto dos juros futuros mais altos. Nesse sentido, o investidor pode ter maior remuneração sem se expor ao risco da bolsa. Teoricamente, isso faz com que ações e outros ativos de renda variável possam ser preteridos nesses momentos.
Deu para entender como funciona a curva de juros e qual o seu impacto nos investimentos? Para ficar por dentro de mais conteúdos como esse, acompanhe nosso blog e siga o canal da Terra Investimentos no YouTube!