Um dos pontos mais importantes para quem procura ações para investir é descobrir o real valor de uma empresa. Aqui, não estamos falando do valor de mercado – que é a capitalização de mercado da companhia em determinado momento – mas sim de outro indicador: o Enterprise Value (EV), ou “valor da firma”.
O EV também considera o market cap em seu cálculo, mas agrega outras variáveis que não só o preço das ações e a quantidade de títulos em circulação. Por isso, os dois indicadores são complementares quando desejamos conhecer o quanto uma empresa realmente vale, e é isso o que veremos no conteúdo a seguir.
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O que é Enterprise Value (EV)?
O Enterprise Value mostra o quanto seria preciso desembolsar para adquirir uma empresa. Para isso, sua fórmula reúne outros três aspectos além do market cap, que são:
- – endividamento total: aqui, entram as dívidas de curto e longo prazo;
- – caixa e equivalentes: tudo o que a empresa possui em caixa depois de subtrair as despesas;
- – ativos não operacionais: ativos que não interferem no funcionamento da atividade, como participações societárias, investimentos, imóveis não ligados à operação, e assim por diante.
Com esses elementos, chegamos à formula do Enterprise Value:
EV = capitalização de mercado + (dívida total – caixa e equivalentes – ativos não operacionais)
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Exemplo de cálculo do EV
Suponha que a empresa “X” tenha 5 milhões de ações em negociação no pregão, e que o preço de cada ação hoje é R$ 20.
Essa mesma empresa possui R$ 10 milhões em caixa, dívidas totais de R$ 30 milhões e ativos não operacionais que somam R$ 5 milhões. Para calcular o EV, o primeiro passo é encontrar a capitalização de mercado:
Market cap = 5.000.000 de ações x R$ 20 = R$ 100.000.000
Agora, já temos todas as informações para determinar o valor da firma da empresa “X”:
EV = R$ 100.000.000 + (R$ 30.000.000 – R$ 10.000.000 – R$ 5.000.000)
EV = R$ 100.000.000 + R$ 15.000.000
EV = R$ 115.000.000
O EV é uma forma mais completa de avaliar uma empresa, pois ele considera o total de suas dívidas além do valor de mercado em determinado momento. Isso é muito importante, afinal quando alguém se torna sócio de uma companhia, também responde por suas obrigações.
Imagine agora que você estivesse analisando a empresa “Y”, e que as variáveis market cap, caixa e ativos não operacionais fossem idênticas às da “X”, mas que a dívida totalizasse R$ 50 milhões. Nesse caso, o valor da firma de “Y” seria:
EV = R$ 100.000.000 (R$ 50.000.000 – R$ 10.000.000 – R$ 5.000.000)
EV = R$ 100.000.000 + R$ 35.000.000
EV = R$ 135.000.000
Perceba que, embora ambas tenham o mesmo valor de mercado, caixa e ativos não operacionais, seria preciso gastar mais para adquirir a empresa “Y”, pois as suas dívidas são maiores do que as da “X”. Ou seja, considerando somente o EV, chegaríamos à conclusão de que “X” é mais vantajosa para o investidor do que “Y”.
Formas de utilizar o EV nas análises
Como vimos, o EV mostra o que deveria ser pago de fato pelas ações de uma empresa, considerando não somente o seu valor de mercado, mas outros aspectos que influenciam no desembolso do investidor. Por isso, ele é um indicador bastante utilizado nos processos de valuation de um empreendimento.
O Enterprise Value serve como base para outros importantes indicadores financeiros, e um deles é o EV/EBITDA, que mostra a relação entre o valor da firma e a geração de caixa operacional da empresa. Basicamente, quando maior for esse indicador, mais cara a companhia está sendo negociada no mercado.
O EV/EBITDA serve tanto para o investidor comparar diferentes empresas quanto para a própria companhia avaliar como o seu endividamento e a sua geração de caixa operacional evoluíram ao longo dos anos. Além disso, ele também auxilia análises nos processos de fusões e aquisições. Se as empresas envolvidas tiverem níveis de dívidas diferentes, o EV/EBITDA permite estimar qual o impacto do endividamento total sobre o novo quadro societário.
Limitações do indicador
Como a fórmula do EV necessita do valor da capitalização de mercado, a sua utilização fica restrita às companhias que possuem capital aberto na bolsa. Outra limitação do indicador é o fato de não conseguirmos atualizá-lo a qualquer tempo, pois a sua fórmula depende de algumas informações do balanço patrimonial, como caixa, dívidas e outros ativos.
Por isso, da mesma forma que acontece com outros indicadores fundamentalistas, o valor da firma nunca deve ser utilizado isoladamente para avaliar uma empresa. Quanto mais indicadores pudermos agregar em uma análise, melhor será nosso conhecimento sobre a situação financeira de uma companhia, e mais assertivas tenderão a ser as nossas decisões de investimentos.
Nos links abaixo, relacionamos alguns indicadores que você pode utilizar para complementar a sua análise. Confira!