A expectativa de que a Selic permaneça em dois dígitos por algum tempo ainda tem aumentado a procura por investimentos mais estáveis e previsíveis no mercado nacional. Nesse sentido, alguns fundos de renda fixa surgem como uma alternativa interessante para quem deseja segurança com rentabilidade acima da poupança.
Mas atenção: nem todos os fundos de renda fixa possuem o mesmo grau de risco, conforme veremos mais adiante. Embora sejam relativamente simples, esses fundos possuem particularidades e diferenças entre si que o investidor precisa conhecer para optar pela modalidade que melhor lhe atenda.
Pensando nisso, preparamos este conteúdo com os pontos mais importantes desse investimento. Portanto, se você está em busca de diversificação para a sua carteira e deseja entender como funcionam os fundos de renda fixa, continue a leitura a seguir.
O que são fundos de renda fixa?
Como o próprio nome sugere, um fundo de renda fixa é aquele que investe a maior parte ou a totalidade do seu patrimônio em títulos de renda fixa. Por definição legal, esses fundos devem ter, pelo menos, 80% da carteira investida em ativos atrelados à Selic ou CDI, a índices de inflação (como IPCA ou IGP-M) ou a todos esses indicadores simultaneamente. Dependendo da estratégia do gestor, os 20% restantes podem ser alocados em ativos de maior risco, para aumentar as chances de ganhos.
Em outras palavras, investir em um fundo de renda fixa é como colocar dinheiro em uma cesta de ativos formada por títulos do Tesouro Direto, CBDs, LCIs e LCAs, debêntures, e assim por diante. Além disso, o gestor também pode colocar ativos de maior risco na cesta, e contrabalançar com derivativos para proteger as suas posições.
Funcionamento dos fundos de renda fixa
Um fundo de renda fixa possui a mesma estrutura dos fundos de investimento de forma geral. Ou seja, existe um administrador, que constitui o fundo, e um gestor, responsável pela alocação dos ativos que formarão o patrimônio. Com o patrimônio constituído, tem início a venda das cotas aos investidores, que representam pequenas frações da cesta de ativos do fundo.
A exemplo de outros fundos de investimentos, os de renda fixa também possuem um regulamento, no qual consta toda a política de investimentos. Esse documento dá transparência ao investidor sobre a estratégia do fundo, pois descreve quais ativos formam o fundo. Dependendo da política de investimento do fundo e dos ativos que formam o seu patrimônio, um fundo de renda fixa recebe diferentes classificações, conforme veremos a seguir.
Tipos de fundos de renda fixa
A classificação dos fundos de renda fixa leva em conta fatores como prazo e ativos que compõem o seu patrimônio. De forma geral, os principais e mais conhecidos são os seguintes:
Curto prazo
Essa denominação faz referência aos vencimentos dos títulos que compõe a carteira do fundo. Nesse sentido, o prazo máximo desses títulos deve ser de 375 dias, e a carteira não pode ter prazo médio superior a 60 dias.
Além disso, esses fundos só podem investir em títulos públicos ou privados prefixados ou pós-fixados (no caso dos privados, devem obrigatoriamente ser de baixo risco). A regra também permite aplicação em cotas de fundos de índices que invistam nesses títulos.
Referenciados
Já os fundos referenciados visam acompanhar determinado benchmark, que pode ser um índice ou uma taxa de juros. Nesse caso, ao menos 95% do patrimônio deve ser composto por ativos que acompanhem o indicador e, no mínimo, 80% por papéis de baixo risco ou cotas de fundos que invistam nesses ativos.
O mais conhecido dessa subcategoria é o fundo DI, que busca acompanhar o CDI (variação diária dos juros praticados pelos bancos entre si). Assim como os fundos de curto prazo, os referenciados também são considerados de baixo risco, e, pela sua liquidez diária, são uma das alternativas para compor a reserva de emergência.
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Simples
Como o nome sugere, o objetivo desse fundo é oferecer às pessoas uma alternativa de investimento acessível e de baixo risco. Nesse sentido, a principal característica dos fundos de renda fixa simples é terem, no mínimo, 95% do patrimônio alocado em títulos públicos federais. Além disso, são aceitos também títulos de instituições financeiras de risco de crédito equivalente ao risco-país. Por fim, esse tipo de fundo não admite concentração em crédito privado ou investimentos no exterior.
Para tornar esses fundos mais acessíveis, todos os documentos relativos ao seu funcionamento devem estar disponíveis em meios eletrônicos. E o investidor também não precisa passar pelo suitability ou assinar termo de adesão e ciência de risco.
Crédito privado
Os fundos de crédito privado são aqueles que investem mais da metade do seu patrimônio em títulos de renda fixa emitidos por empresas – como debêntures, CRIs e CRAs, por exemplo.
Em comparação às categorias anteriores, esse tipo de fundo é mais arrojado, pois, no mínimo, 50% do seu patrimônio é formado por ativos sem a proteção do FGC (Fundo Garantidor de Crédito). Isso significa que o resultado desses ativos está totalmente ligada à capacidade de pagamento do emissor, que tanto pode trazer ganhos bem acima da Selic e do CDI quanto perdas expressivas em determinados momentos.
Como nem toda a renda fixa é igual e livre de riscos, é muito importante prestar atenção na composição dos fundos dessa categoria antes de investir.
Dívida externa
A principal peculiaridade desses fundos em relação aos anteriores é que eles precisam manter, ao menos, 80% do patrimônio investido em títulos da dívida externa brasileira. Além disso, não podem manter recursos no país, salvo algumas exceções autorizadas pela legislação. Por exemplo, aplicar recursos remanescentes em derivativos para proteção da carteira é uma dessas exceções.
Vantagens e desvantagens desses fundos
Uma vantagem dos fundos de investimento é a possibilidade de diversificação da carteira que essa alternativa proporciona. No caso de um fundo de renda fixa, mesmo que ele só invista em títulos públicos, por exemplo, ele terá papéis com vencimentos e indexadores no patrimônio.
Além disso, os fundos de investimento têm uma gestão responsável pela escolha e acompanhamento dos títulos. Isso facilita a vida de quem não tem tempo ou conhecimento suficiente para escolher os ativos da carteira.
Para quem já entendeu que precisa fugir da poupança, os fundos de renda fixa mais conservadores também são uma boa opção. Inclusive, como vimos, existem diversos que possuem liquidez diária (ou imediata), o que os torna uma opção interessante também para a reserva de emergência.
Em relação às desvantagens, as principais estão relacionadas aos custos desse investimento. Por exemplo, ao investir em um fundo de renda fixa, você pagará uma taxa de administração, algo que não haveria se você adquirisse diretamente um CDB ou algum outro título de renda fixa. Esses fundos também possuem o come-cotas, uma antecipação do IR sobre os rendimentos que ocorre duas vezes por ano, em maio e novembro.
Como escolher um fundo de renda fixa?
Agora que já entendemos como funcionam esses fundos e para quem são indicados, é hora de sabermos o que observar na hora de escolhê-los.
Como vimos, uma das desvantagens desse investimento são a taxa de administração e a incidência do come-cotas. Portanto, é muito importante fazer análises e simulações para entender se esses custos não poderão comprometer o rendimento da aplicação.
Outro ponto a observar é o benchmark do fundo. Nesse sentido, fundos predominantemente atrelados ao CDI acabam sendo mais interessantes em momentos de juros altos. Já os que possuem boa parte dos títulos indexados ao IPCA podem ser uma boa alternativa para proteger o dinheiro da inflação.
É preciso também considerar a estratégia de investimento na hora de escolher o fundo. Por exemplo, você já pensou na alocação dos seus ativos? Qual o seu planejamento financeiro? De que forma deseja distribuir os seus investimentos ao longo do tempo? Essas são algumas das perguntas a responder para escolher os investimentos adequados.
Por fim, observe qual o aporte inicial mínimo que o fundo exige. Isso é importante para saber qual a representatividade que o investimento terá sobre o volume da sua carteira como um todo.