Para investir em novos projetos, ou mesmo para conduzir o dia a dia da operação, é natural que as empresas utilizem fontes de terceiros além do capital próprio. Porém, dívidas em excesso são prejudiciais, pois podem vir a prejudicar os resultados no futuro. Por isso, é preciso acompanhar a evolução do endividamento, e é justamente esse o papel dos indicadores de endividamento.
Ao lado de outros indicadores da análise fundamentalista, eles auxiliam gestores financeiros, analistas e investidores a avaliar a saúde financeira das empresas. Neste conteúdo, mostraremos quais são os principais índices, e de que forma você pode utilizá-los em conjunto com outros indicadores para uma análise mais completa. Confira a seguir!
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O que são e para que servem indicadores de endividamento?
Basicamente, esses indicadores são métricas utilizadas para demonstrar o quanto a operação de uma empresa é dependente de capital de terceiros.
Como vimos, para financiar as suas atividades, as empresas costumam recorrer a diferentes fontes, como fornecedores, bancos, empréstimos de sócios, e assim por diante. Se essas dívidas são proporcionais à capacidade de pagamento da empresa e possuem um custo adequado, não há problema algum. Por outro lado, se não estão bem equalizadas, haverá um desequilíbrio entre a sua geração de caixa e os seus desembolsos. Quando isso acontece, a saúde financeira da organização fica comprometida, e isso prejudica os seus resultados com o passar do tempo.
Pela análise dos indicadores de endividamento, os gestores identificam se as obrigações da empresa estão em um patamar saudável, ou se podem representar riscos. Dessa forma, podem tomar medidas como cortar gastos ou renegociar dívidas, se for o caso. Já o investidor consegue avaliar melhor a relação risco/retorno do investimento quando compreende o endividamento da empresa.
Quais são os indicadores de endividamento?
Agora que já sabemos o que são e para que servem esses indicadores, conheceremos alguns dos mais utilizados. Acompanhe a seguir.
Participação de capitais de terceiros (PCT)
Esse indicador mostra o quanto das fontes de financiamento da empresa vem de capitais de terceiros. Em outras palavras, o PCT representa o nível de endividamento da organização.
O seu cálculo é dado pela seguinte fórmula:
PCT = (Passivo Circulante + Exigível LP) / (Passivo Circulante + Exigível LP + Patrimônio Líquido)
O passivo circulante e o exigível LP representam, respectivamente, as obrigações que a empresa tem a pagar no curto e longo prazo. Já o patrimônio líquido é o capital próprio da organização, formado por recursos dos sócios e por lucros auferidos durante os anos.
Quando mais elevado for o PCT, maior é o endividamento, sendo que, quando o indicador fica acima de 1, significa que a empresa já não tem mais capital próprio. Ou seja, ela está insolvente.
Composição do endividamento (CE)
O indicador de composição do endividamento mostra o valor da dívida da empresa que está concentrado no curto prazo. A sua fórmula é a seguinte:
CE = Passivo Circulante / (Passivo Circulante + Exigível de Longo Prazo)
De forma geral, um grande volume de obrigações vencendo no curto prazo pode ser prejudicial, pois ela precisará de muito dinheiro para saldar os seus compromissos em dia. Nessa situação, o risco de um problema financeiro acaba sendo maior.
Por outro lado, com uma concentração menor de dívidas no curto prazo, mais fôlego de caixa terá a empresa. Isso lhe dá mais conforto para enfrentar eventuais emergências financeiras ou turbulências no mercado.
Imobilização do patrimônio líquido (IPL)
O IPL é um indicador ligado à estrutura patrimonial da empresa, pois mostra de que forma ela está financiando o seu ativo imobilizado, e é calculado da seguinte forma:
IPL = Imobilizado / Patrimônio Líquido
Teoricamente, quanto mais recursos próprios ela imobiliza, menos sobra para o capital de giro e para outras necessidades ligadas ao dia a dia da operação. Dessa forma, é possível que ela precise tomar recursos de terceiros para suprir suas demandas financeiras.
É preciso ter cuidado ao analisar esse índice de endividamento, pois há setores que realmente demandam elevados investimentos em imobilização. Ou seja, nem sempre um IPL alto pode significar um problema, a não ser que a empresa esteja imobilizando seus recursos acima de suas necessidades.
Índice de endividamento geral (EG)
Por fim, temos o índice de endividamento geral, que representa de forma mais ampla o o grau de endividamento da empresa. Ele é expresso em percentual, e seu cálculo é dado pela seguinte fórmula:
EG = (Capital de terceiros / Ativos totais) x 100
Ao relacionar o capital de terceiros (passivo) com os ativos totais, ele mostra o grau de alavancagem da organização. Ou seja, quanto maior for o EG, mais endividada a empresa estará.
Apesar de mostrar as dívidas de forma abrangente, esse indicador deve ser utilizado em conjunto com os vistos anteriormente. Isso porque, se olhado isoladamente, ele não mostra o quanto das dívidas estão no curto e no longo prazo. Como vimos, uma grande concentração de obrigações no curto prazo pode levar a um desequilíbrio financeiro que, em casos mais graves, prejudica o resultado da organização.
Não há como determinar um valor ideal para o EG, pois isso dependerá de vários fatores, como setor de atuação ou grau de desenvolvimento da empresa, por exemplo. Na prática, empresas novatas ou ainda não totalmente maduras (small caps) normalmente demandam mais financiamentos do que empresas já consolidadas no mercado (blue chips). De qualquer forma, é sempre importante ficar de olho nesse indicador e acompanhar a sua evolução.
Aspectos gerais sobre o endividamento das empresas
Todos os indicadores que vimos neste conteúdo são importantes para entender o quanto as dívidas podem comprometer a saúde financeira da empresa. Porém, eles não são muito úteis quando utilizados isoladamente, ou quando não temos informações sobre o contexto do negócio.
Para uma análise eficiente, precisamos utilizar dados qualitativos, que nos permitam entender a estratégia da empresa e o que podemos projetar para o seu futuro. Por exemplo, qual o objetivo da organização ao se endividar? Será que ela está simplesmente pagando dívidas, ou investindo em um novo produto ou projeto? Dependendo do caso, a dívida pode gerar bons resultados.
Além disso, é importante conhecermos o custo dessa dívida, se os juros são altos ou se a empresa conseguiu uma boa condição de empréstimo. Isso fará diferença no resultado financeiro e, consequentemente, afetará o lucro ou prejuízo de um ou mais exercícios.
Outro aspecto importante é entender como o endividamento está distribuído no tempo. Eventualmente, o grau de endividamento até pode ser alto, mas não é necessariamente um problema se estiver distribuído no longo prazo, com um custo adequado, e se a empresa gerar caixa para o seu pagamento.
Lembrando que, quanto mais indicadores financeiros utilizarmos, mais assertiva tende a ser a análise de uma empresa.