Vale (VALE3): o que você precisa saber sobre a empresa

Tempo de leitura: 5 minutos

Imagem mostra logo da Vale (VALE3)
Imagem mostra logo da Vale (VALE3)

Quando o assunto são as gigantes brasileiras listadas na bolsa, a Vale (VALE3) é, sem dúvida, uma das mais lembradas. Seja pela representatividade no mercado mundial de commodities, ou mesmo por algumas polêmicas que acompanham a sua história, o fato é que, durante a temporada de balanços, a companhia costuma estar nos holofotes dos investidores nacionais e estrangeiros.

Neste conteúdo, reunimos algumas das informações mais importantes que você precisa conhecer para investir na empresa. Portanto, se você pensa em se tornar sócio da Vale, continue a leitura e saiba mais sobre seu histórico, setor de atuação e perspectivas para o negócio. Confira a seguir!

Quem é a Vale (VALE3)?

A Vale foi fundada como estatal em 1942, durante o governo de Getúlio Vargas. Originalmente chamada de Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), sua criação fez parte dos planos de industrialização do então presidente, que defendia a plena exploração dos recursos minerais brasileiros, especialmente o ferro. O decreto-lei que criou a companhia previu sua duração por 50 anos.

A criação da CVRD ocorreu justamente em um momento no qual o Brasil vinha sendo pressionado para entrar na Segunda Guerra Mundial. Nesse sentido, a empresa teve papel importante no fornecimento de minério de ferro para a indústria americana no combate aos nazistas.

Depois de ter passado por diversas modificações societárias, a empresa foi privatizada em 1997. Naquele ano, o seu controle foi adquirido por um consórcio de investidores financiado pelo BNDES e liderado pela Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). Na ocasião, a União vendeu 42% das cotas das ações da estatal por R$ 3,3 bilhões. Dez anos depois, passou a se chamar Vale S/A.

Com presença em aproximadamente 30 países, a companhia é a maior produtora mundial de minério de ferro, pelotas e níquel. Além disso, também produz ferro liga, manganês, carvão metalúrgico e térmico, cobalto, cobre e subprodutos de ouro e prata. Suas linhas de negócios contemplam hoje quatro operações distintas: mineração, siderurgia, logística e energia. Com o passar do tempo, a Vale vem expandindo sua atuação, tendo entrado também na produção de lítio para baterias elétricas.

Diferenciais competitivos da Vale (VALE3)

Independentemente da cotação do minério de ferro no cenário internacional e das recentes polêmicas ambientais nas quais se envolveu (Mariana em 2015 e Brumadinho em 2019), a empresa é presença frequente nas recomendações do mercado. De janeiro de 2018 até novembro deste ano, a Terra Investimentos sugeriu a Vale em 54% de suas carteiras recomendadas.

Um dos principais motivos da forte presença é o fato de que a empresa brasileira ser a segunda maior mineradora do mundo, atrás apenas da australiana BHP. Além disso, a Vale é uma boa pagadora de dividendos e representa atualmente cerca de 14% da carteira teórica do Ibovespa, a maior participação no índice.

Nesse sentido, Regis Chichila – analista da Terra Investimentos – observa que pela empresa ter o maior peso no Ibovespa, pode-se correlacionar a carteira ao principal índice da B3. “Mesmo que a Vale passe por um período ruim, é provável que o índice também apresente um desempenho ruim. Isso torna o investimento menos arriscado, pois ela nunca vai perder de muito para o índice de referência”, disse o analista ao Estadão.

Outro aspecto positivo diz respeito à qualidade do minério de ferro brasileiro, que é mais rico do que o encontrado em outros países. Por exemplo, na região dos Carajás (sudeste do Pará), o teor ferroso da commodity chega a 67%, enquanto em locais como Austrália, que também está entre os maiores produtores, esse percentual é de 58%.

Em outras palavras, as mineradoras na Austrália precisam queimar mais carvão para extrair o minério de ferro do que as brasileiras. Dessa forma, acabam liberando mais dióxido de carbono (CO₂), um dos principais gases de efeito estufa. Em um contexto de preocupações ambientais cada vez mais fortes, isso favorece a Vale no cenário internacional.

Análise dos especialistas da Terra Investimentos

Segundo o analista Luis Novaes, o mercado já esperava um trimestre de resultados ruins para o setor de mineração ou produtores metálicos. Isso porque a China, o principal importador de minerais extraídos pelas empresas brasileiras, vive um momento de incerteza econômica. Nesse sentido, o país experimenta um crescimento abaixo do usual em razão das políticas restritivas ligadas ao combate à pandemia, que penalizam a sua atividade produtiva. Logo, a baixa demanda por minério de ferro prejudicou a cotação da commodity no mercado internacional, o que penalizou os resultados das empresas brasileiras. 

“Nesse contexto, o resultado da Vale no 3T22 foi decepcionante para os investidores. Os preços realizados no segmento de minério de ferro estiveram abaixo dos vistos nos últimos trimestres, refletindo a desvalorização da commodity. Dessa forma, o maior volume extraído no período acabou sendo irrelevante. O mesmo ocorreu com os preços do segmento de metais básicos, que também sofreram o impacto negativo da baixa demanda por cobre e níquel no exterior”, avalia Novaes.

Aumento dos custos de produção e queda nos preços do minério

Os custos de produção aumentaram consideravelmente no último trimestre. Isso deve-se principalmente ao custo direto da extração do minério de ferro e ao maior valor do frete, devido ao preço mais alto dos combustíveis diante da escassez na Europa, motivada pela guerra entre Rússia e Ucrânia. Na divisão de metais básicos, os custos também registraram alta, especialmente na produção de níquel.  

Com preços menores e custos maiores, o resultado operacional da Vale esteve abaixo do esperado, mesmo contando com as condições adversas no exterior.

Dívida líquida

Outro ponto observado pelos analistas foi a modificação na classificação da Dívida Expandida Líquida que a Vale fez no último trimestre, excluindo alguns itens a fim de se aproximar das práticas de mercado. Segundo Novaes, isso fez com que a dívida da empresa saísse do patamar próximos aos US$ 20 bilhões para US$ 13 bilhões.

“No entanto, o guidance de dívida da empresa ainda está entre US$ 10 e 20 bilhões. Ou seja, a medida abriu mais espaço para endividamento nos próximos anos, o que tem seu lado positivo e negativo, a depender da capacidade da empresa de honrar seus compromissos”, alerta o analista.

Perspectivas para a Vale

Assim como qualquer empresa de commodity, a Vale depende dos preços do minério de ferro e metais no mercado externo. Por sua vez, esses preços refletem basicamente a atividade industrial chinesa, que é a grande consumidora de minerais no mundo. Logo, a queda da atividade econômica no país em razão das políticas de combate à Covid afeta o mercado como um todo.

No mercado, existe uma grande expectativa sobre quando o governo chinês irá seguir a tendência mundial e abandonar as restrições. Nesse sentido, analistas defendem que os objetivos propostos por essa política, de manter os níveis de contaminação próximo a zero, aparentam ser irreais diante da capacidade de transmissão do vírus. 

“Uma vez que a economia chinesa retome seu crescimento, seja por abandonar essa política ou por qualquer outra medida adotada, os preços dos metais tendem a subir novamente. Então, a Vale, eventualmente, poderá apresentar resultados melhores do que os do 3T22, mas as incertezas sobre o quão rápido pode ser essa retomada afasta os investidores”, diz Novaes.

Para o próximo trimestre, espera-se que a companhia tenha um resultado melhor. Isso por causa da sazonalidade das indústrias chinesas, que devem reabastecer seus estoques de minério de ferro e outros insumos para o próximo ano. No entanto, os custos podem seguir pressionando as margens da Vale.

A tese de investimento de longo prazo da Vale passa pelo segmento de metais básicos. Nesse sentido, uma parcela do mercado espera que a transição energética impulsione os resultados dessa divisão, considerando que o níquel e cobre são componentes essenciais para a construção de diversos equipamentos a serem usados em uma economia mais voltada à energia elétrica. Mas enquanto não houver um substituto acessível, o minério de ferro – principal gerador de receitas da companhia – deve se manter relevante para os seus resultados e para a economia brasileira.

Pontos fortes

Como principais pontos fortes, os analistas da Terra Investimentos destacam o seguinte:

  • – A Vale é um dos maiores produtores de minério de ferro do mundo. 
  • – Além disso, é bem-posicionada no segmento de metais básicos, que pode se valorizar com a transição energética. 
  • – A companhia possui receitas provenientes do exterior, que são favorecidas pela depreciação do real frente ao dólar. 
  • – Possui uma política de dividendos definida, que permite previsibilidade ao investidor. 
  • – Por ser uma das principais empresas da bolsa, recebe fluxo estrangeiro em momentos de alta. 
  • – O segmento de minério de ferro possui margens altas, possibilitando resultados positivos mesmo em tempos de preços baixos.

Pontos fracos

Já os pontos que merecem mais cautela por parte dos investidores são os seguintes:

  • – As condições climáticas podem afetar produção do minério de ferro. 
  • – A produção da Vale depende da atividade econômica da China e do ciclo de expansão da economia internacional. 
  • – Grande risco ambiental, com recentes episódios que causaram imensos prejuízos sociais.

Compartilhe:

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on pinterest
Share on telegram
Share on whatsapp
Share on email
Blog Terra Investimentos

Posts Relacionados