Se, por um lado, a internet e as redes sociais democratizaram informações sobre investimentos, por outro, o cuidado com fraudes é ainda mais necessário nos dias de hoje.
Assim como existem profissionais sérios que orientam cuidadosamente os investidores, há também quem recomende ações e outros ativos nas redes sem nenhum fundamento, simplesmente com a intenção de valorizar os papéis. Isso tem nome, e não é algo novo: trata-se do Pump and Dump, uma manipulação de mercado que pode causar sérios prejuízos a investidores desatentos.
Inicialmente, o Pump and Dump acontecia basicamente com ações. Com o passar do tempo, o mecanismo também alcançou as criptomoedas, NFTs e outros ativos digitais sem regulamentação.
A seguir, entenda o que é e como funciona o Pump and Dump, e o que fazer para evitar cair nesse tipo de fraude.
O que é Pump and Dump?
Na tradução, Pump and Dump significa “inflar e largar”, e é exatamente essa a sistemática desse tipo de fraude.
Basicamente, o golpe acontece quando notícias falsas relativas a uma ação, criptomoeda ou outro avito financeiro são divulgadas com o objetivo de valorizar o investimento. Isso causa uma onda de otimismo por parte dos investidores, que adquirem o ativo para aproveitar a onda de valorização.
Quando o ativo atinge determinado valor, os responsáveis pela disseminação dos boatos começam a vendê-lo. Isso faz com que o preço retorne ao baixo patamar inicial – o golpe costuma ser aplicado em ativos de baixo valor e baixa liquidez, como explica o educador financeiro André Massaro.
“Em ativos de baixo valor, com pouco dinheiro já se consegue fazer uma movimentação razoável. E quando a liquidez também é baixa, qualquer movimento fora do normal já aumenta drasticamente a volatilidade e causa um tumultuo nas ofertas. Ao passo que é praticamente impossível movimentar artificialmente uma ação de alta liquidez, como uma blue chip, por exemplo”, explicou Massaro em seu canal no YouTube.
Como funciona o Pump and Dump?
A estratégia desse golpe envolve duas fases, que são inflar o ativo e, posteriormente, largá-lo no mercado. Veja a seguir como isso acontece na prática.
1.° passo: Pump (inflar)
Na primeira fase, um grupo de pessoas se articula para planejar o golpe e escolhe o ativo-alvo, que pode ser uma ação meio esquecida ou uma criptomoeda nova, por exemplo.
Então, esse grupo começa a disseminar falsas notícias que empurram o preço do ativo para cima. No caso das ações, é comum que os boatos envolvam planos de reestruturação, fusões milionárias, vinda de um CEO famoso no mercado, e assim por diante. A mesma lógica se aplica às criptomoedas – as notícias podem se relacionar a nomes famosos por trás dos projetos ou qualquer outro evento que provoque o chamado “efeito manada” no mercado.
E esse efeito manada é potencializado pelas redes sociais, criando um outro problema comportamental entre os investidores: a chamada síndrome de FOMO. A palavra é a sigla para fear of missing out (medo de ficar de fora), ou seja, as pessoas investem em determinado ativo não pelos seus fundamentos e potencial de valorização, mas sim porque todo mundo está seguindo a mesma direção.
“Hoje, qualquer um pode sair gritando que descobriu uma grande oportunidade, uma ação ou criptomoeda que vai virar a nova estrela do mercado”, alerta Massaro. Ele também chama atenção para o fato de que muitos robôs de investimentos captam essas movimentações. Isso acaba sendo confundido com uma tendência dos ativos, quando na realidade é algo artificial, pois não passa de manipulação de mercado.
2.° passo: Dump (largar)
Depois que muita gente já comprou o ativo e o seu preço ficou inflado o suficiente para gerar um bom lucro, o grupo que manipulou o mercado começa a vendê-lo.
Literalmente, inicia-se assim a fase de largar o ativo de volta no mercado. Com isso, o preço começa a retornar ao patamar original – justamente porque nenhum fundamento justificou a alta – e quem entrou no ativo durante a alta vai ter perdas com a desvalorização.
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Exemplo de Pump and Dump
Um dos casos mais famosos de Pump and Dump no mercado financeiro é o de Jordan Belfort, interpretado por Leonardo DiCaprio no filme “O Lobo de Wall Street”.
Resumidamente, a fraude idealizada por Belfort consistia no seguinte: junto com seu sócio, ele comprava um grande volume de ações penny stocks (títulos de menos de um dólar) de uma só empresa. Para não ser descoberto, usava identidades falsas nessas compras.
O grande volume negociado fazia as ações subirem, e cada centavo em uma ação de menos de um dólar pode representar uma alta de 30%, 50%, 100% ou até mais. Então, diversos corretores que trabalhavam para ele ligavam incessantemente para clientes oferecendo essas ações como se fossem uma oportunidade única do mercado.
Quando a bolha das ações estava no ponto máximo, Belfort começava a fase do dump, despejando no mercado o que comprou a preços módicos. Ele chegou a ficar milionário com essa fraude, e vários corretores que trabalharam com ele também construíram fortunas. Até que, em 2004, foi condenado a quatro anos de prisão (dos quais cumpriu 22 meses) e se comprometeu a devolver US$ 110 milhões às suas vítimas – o que não ocorreu por completo.
Como se proteger desse tipo de golpe?
Embora o Pump and Dump configure crime, muitas vezes nem a Comissão de Valores Mobiliário (CVM) nem o Ministério Público conseguem comprová-lo. Mas dá para evitar cair em golpes, adotando medidas como as que veremos a seguir.
Conheça o ativo no qual deseja investir
Antes de adquirir o ativo, é preciso obter conhecimento suficiente sobre ele para embasar o propósito do seu investimento.
Saiba quem é a empresa, qual a sua origem, entenda os seus fundamentos, pesquise sobre concorrentes e perspectivas do mercado e busque informações sempre atualizadas sobre o negócio. Isso lhe dará confiança para investir e poderá evitar surpresas desagradáveis no futuro.
Desconfie de notícias e informações exageradas
Não existe milagre nem dinheiro fácil, e isso não é diferente no mundo dos investimentos. Logo, se você ouviu algo muito bom para ser verdade sobre uma empresa, é porque, possivelmente, não era verdade mesmo.
Cheque as fontes das informações
Muitas corretoras de investimento e casas de análise disponibilizam informações gratuitas sobre investimentos, mesmo para não clientes. Além disso, há vários analistas, economistas e profissionais do mercado financeiro que divulgam informações gratuitas sobre o tema em suas redes sociais e canais no YouTube.
Por outro lado, os boatos que fazem surgir o Pump and Dump normalmente vêm de grupos e fóruns em redes sociais sem a chancela de algum nome com credibilidade. É claro que isso não significa que todas as informações de grupos particulares sejam duvidosas, mas as chances de notícias falsas nesses canais são maiores sim.
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