Com cerca de 60% de participação no mercado de bebidas, a Ambev (ABEV3) tem sua história marcada por fusões e aquisições ao longo dos anos, tanto no Brasil quanto no exterior.
É difícil acompanhar a quantidade de rótulos de cervejas, refrigerantes e bebidas do tipo coquetéis que a companhia abarca em seu portfólio. Além das clássicas Brahma, Antarctica, Skol e Pepsi, há mais de 30 marcas no site da Ambev, entre elas Budweiser, Stella Artrois, Leffe, Budweiser, Norteña, Quilmes, e antigas cervejas artesanais, como Colorado e Wäls. Mas, ao que tudo indica, a estratégia deve mudar daqui para frente, com a priorização de investimentos em tecnologia em vez de crescimento.
Neste conteúdo, você conhecerá a origem e a trajetória dessa gigante formada a partir de empresas centenárias, e saberá as perspectivas para a companhia de acordo com a equipe da Terra Investimentos. Portanto, se você investe em ações, ou simplesmente deseja aprender mais sobre as grandes empresas brasileiras listadas na bolsa, continue a leitura a seguir.
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Quem é a Ambev (ABEV3)?
A Companhia de Bebidas das Américas – Ambev – nasceu em 1999, resultado da fusão entre duas cervejarias centenárias: Brahma e Antarctica, fundadas em 1885 e 1888 respectivamente.
O controle da Brahma era do trio de bilionários que, anos depois, fundou o private equity 3G Capital – Jorge Paulo Lemann, Marcel Herrmann Telles e Carlos Alberto da Veiga Sicupira. Por meio do “Grupo Braco”, os três tinham juntos 55% do capital votante da Brahma. Já a Antarctica era controlada pela Fundação Zerrenner, detentora de 88% do seu capital votante antes da operação que juntou as duas marcas. Em ambas as empresas, as ações que não estavam nas mãos dos controladores já eram negociadas na bolsa antes da fusão.
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Internacionalização e mudanças no grupo
Em 2000, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) finalmente aprovou a transferência do controle acionário da Brahma e Antarctica para a Ambev, que viria a ser um dos maiores conglomerados de bebidas do mundo. Mas o processo de internacionalização do grupo já havia começado em 1994, quando a Brahma começou a operar na Argentina, Paraguai e Venezuela.
Em 2003, a operação com a Quinsa trouxe a liderança para a Ambev nos mercados da Argentina, Paraguai, Uruguai e Bolívia. No mesmo ano, a companhia adquiriu operações também no Peru, Equador e América Central, acelerando ainda mais o seu processo de expansão internacional.
Em 2004, em meio a críticas do mercado (aqui e lá fora), ocorre mais uma a fusão: dessa vez, entre AmBev e a cervejaria belga Interbrew. O negócio dá origem à InBev, operação que envolveu uma troca de ações no valor de US$ 11 bilhões. Constituída a InBev, foi implementado um plano de reestruturação que ocasionou demissões nas fábricas em todo o país. A nova empresa também partiu para aquisições em novos mercados, como Rússia e China, que estavam na mira de seu plano de expansão.
Por fim, em 2008, a compra da Anheuser-Busch (dona da marca Budweiser) pela InBev dá origem à AB InBev. negociação totalizou US$ 52 bilhões, e tornou a empresa líder mundial na indústria cervejeira e uma das cinco maiores de produtos de consumo em todo o mundo. Ao todo, são mais de 500 marcas da bebida no portfólio da companhia, entre elas Brahma, Stella Artois e Hoegaarden.
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Investimentos em tecnologia e digitalização
Nos últimos anos, a Ambev vem arrefecendo o seu apetite histórico por aquisições em série para investir mais em tecnologia. Segundo o alto escalão da empresa, o foco agora é se consolidar como uma plataforma tecnológica com marcas fortes de bebidas em todo o mundo.
A nova diretriz se tornou mais perceptível a partir de 2017. Desde então, a companhia tem intensificado seus investimentos em tecnologia, ampliando para mais de 5 mil funcionários o seu time original de menos de 1 mil profissionais do setor.
“Vimos que esse jogo de ‘War’ não tinha muito mais espaço, pois já estávamos no mundo inteiro”, declarou o presidente da Ambev, Jean Jereissati, no Ambev Tech & Cheers, evento de tecnologia da companhia realizado em agosto de 2022 em São Paulo.
De acordo com o executivo, a companhia percebeu que era preciso inovar o modelo de negócios nos processos, e não só nos produtos. Nesse sentido, ele acredita que, atualmente são os ecossistemas que vencem, e não as empresas. Algumas das criações da Ambev foram as plataformas de vendas Zé Delivery e Bees, que atendem clientes do varejo e comerciais, respectivamente. Segundo a Ambev, a Zé Delivery responde hoje por 6% das vendas, e a Bees já alcança 88% dos bares e restaurantes atendidos.
Análise da Terra investimentos
Os últimos resultados da Ambev demonstraram um efeito negativo sobre as margens da empresa. Nesse sentido, o ciclo de alta das commodities agrícolas e a escalada da inflação nos principais mercados elevaram os custos da empresa, tornando a lucratividade menor.
“Nos resultados do último trimestre, as margens ainda demonstram o efeito negativo dos altos custos, mesmo com aumento das receitas. Dentre suas diferentes operações, o mercado interno foi o responsável pelo melhor desempenho. Isso por causa dos maiores volumes de vendas e melhores preços, o que compensou parcialmente o aumento dos custos”, avalia Luis Moraes, analista da Terra Investimentos.
Em outros mercados do continente americano, os resultados também se mantiveram pressionados pela inflação. Além do aumento dos custos de produção, a deterioração do poder de compra da população também contribuiu para os números mais modestos.
“Por fim, pode-se dizer que o resultado foi positivo em razão do fortalecimento do mercado interno e indicativos de que a Ambev poderá buscar a recuperação de sua lucratividade nos próximos anos”, diz Novaes.
Perspectivas para a companhia
Aparentemente, existe uma grande expectativa no mercado de que a Ambev consiga expandir suas margens nos próximos anos. Nesse sentido, o principal fator para a tese é o ciclo de baixa das commodities agrícolas, o que permitiria a compra de insumos por um preço menor.
“Durante os últimos anos, a alta demanda e elevação dos custos de produção impulsionou os preços no mercado internacional de commodities. No entanto, com a queda dos custos e possibilidade de maior oferta, a atual tendência de baixa no mercado de commodities deve ser ampliada”, observa Novaes.
O analista ainda aponta que o próximo resultado da companhia deve indicar o impacto da Copa do Mundo sobre as vendas. E o efeito deve ser positivo, ainda que limitado pelas restrições impostas pelo CADE aos contratos de exclusividade com os pontos de venda. Além disso, o serviço de entregas da Ambev, Zé Delivery, registrou número recorde em pedidos durante a Copa do Mundo, e isso pode se refletir positivamente nos resultados.
Pontos fortes da Ambev
- – A empresa possui foco em práticas ESG.
- – O mercado de commodities agrícolas está em baixa.
- – O serviço de entregas para consumidores finais Zé Delivery vem ganhando tração.
Pontos fracos da Ambev
- – Forte concorrência com a Heineken no mercado interno.
- – A reforma tributária poderia remover certos benefícios fiscais do setor.