Passadas as eleições e em plena copa do mundo, parece até que 2022 já se despediu, não é mesmo? Se você também está com essa sensação, que tal já pensar na sua estratégia de investimento para o próximo ano e conferir alguns setores da bolsa para ficar de olho em 2023, segundo a equipe da Terra Investimentos?
Se você já investe em ações, ou está pensando em dar os primeiros passos nesse mercado, continue a leitura para entender melhor o atual cenário, e de que forma as diversas variáveis macroeconômicas podem influenciar a bolsa no ano que vem.
Setores da bolsa: no que ficar de olho em 2023?
Para Luis Novaes, analista da Terra Investimentos, diversas incertezas podem influenciar o ritmo do mercado no ano que vem. No entanto, três fatores mais importantes merecem destaque no momento: o ciclo de juros no Brasil e no mundo, a situação econômica do Hemisfério Norte e a abertura e retomada do crescimento da economia chinesa.
Acompanhe a seguir por que razões esses aspectos merecem muita atenção.
Ciclo de juros
A pandemia trouxe fragilidade para economia mundial, situação que ainda foi agravada coma guerra entre Rússia e Ucrânia, iniciada nos primeiros meses de 2021.
“Desde então, os preços vêm em uma relevante escalada, em decorrência da baixa atividade econômica e dos custos inflacionados pelos componentes de energia e combustíveis. Para conter esse avanço dos preços, os bancos centrais aumentaram suas respectivas taxas básicas de juros”, explica Novaes.
Para o analista, o Brasil foi hábil na condução da política monetária para controlar a inflação. Nesse sentido, contando com a experiência dos economistas do Banco Central em questões inflacionárias, liderou o ciclo de alta dos juros no mundo.
Essa resposta rápida da autoridade monetária brasileira alimentou a perspectiva de que a Selic cairia a partir do segundo semestre de 2023. Ou seja, já que o Brasil fez esse movimento de forma adiantada, seria natural que começasse a reduzir os juros antes dos outros países. No entanto, o analista acredita que ainda existem fatores que podem adiar o início do ciclo de baixa por aqui, como os impactos das medidas do governo em relação à estabilidade fiscal e os juros no exterior.
“Esses dois fatores poderiam forçar o Banco Central brasileiro a manter os juros para garantir uma taxa real significativa em relação ao exterior”, avalia Novaes.
Lembrando que, na última reunião do FOMC, os juros norte-americanos aumentaram 0,75 ponto percentual, para o intervalo entre 3,75% e 4%. Essa foi a quarta alta consecutiva dos juros nos EUA, que chegaram ao maior patamar desde a crise do subprime, em 2008.
Segundo a ata da reunião, divulgada em 24 de novembro, a maioria dos integrantes do comitê acha que uma desaceleração no ritmo dos aumentos seria bem vinda. Isso porque poderia haver riscos para o sistema financeiro do país se o Fed continuar com o mesmo ritmo agressivo de altas. Porém, ainda não há indícios de que a inflação possa reduzir por lá.
Desaceleração da economia no Hemisfério Norte
Devido ao aumento de juros, as grandes economias do Hemisfério Norte podem passar por um período de recessão no próximo ano. Para Novaes, a deterioração na atividade econômica no exterior poderia prejudicar o setor produtivo brasileiro, tendo em vista a relevância da demanda internacional nos resultados das empresas.
Retomada da economia chinesa
Atualmente, a China é único país entre as grandes potências a adotar uma política rígida de combate à Covid-19. De acordo com as autoridades, abandonar essa política hoje seria renunciar a todo progresso atingido até o momento e permitir que o vírus faça milhares de vítimas.
No entanto, os impactos sociais e econômicos da medida estão tornando a população insatisfeita. Mesmo com os sucessivos protestos, a sensação até agora é de que o governo chinês não irá recuar da política severa de lockdown.
“A reabertura da economia chinesa seria um grande catalisador para os impulsos dos mercados, não só no Brasil, como ao redor do mundo”, diz o analista.
Setores que podem ser beneficiados com o atual cenário
Para Novaes, no atual contexto econômico, alguns setores podem ser beneficiados até que esses principais fatores se modifiquem e influenciem o mercado. São eles:
Óleo e Gás
Com a guerra entre a Rússia e Ucrânia sem um fim aparente, as petrolíferas devem continuar registrando bons resultados nos próximos meses. Nesse sentido, a OPEP+, grupo internacional de produtores de petróleo, demonstra que seguirá tomando decisões com o objetivo de manter o preço da commodity no próximo ano.
“A Rússia, em represália ao teto de preços impostos ao petróleo, pode tomar uma decisão que resulta em menor oferta. Por sua vez, a possível reabertura da economia chinesa também é positiva, tendo em vista a maior demanda esperada”, avalia Novaes.
Seguradoras
As seguradoras registraram péssimos resultados nos últimos anos, impactados pela escalada de pagamentos realizados por casos relacionados ao vírus ou aos efeitos da pandemia na economia. No entanto, para Novaes, essa fase aparenta ter ficado no passado.
“Aparentemente, as seguradoras recuperaram sua estabilidade nos últimos meses, e talvez isso seja mantido para o próximo ano”, diz.
Serviços
De todos os setores da economia nacional, aquele que demonstrou a recuperação mais expressiva foi de serviços, puxando os índices de atividade compostos e geração de empregos. Contando com o menor impacto das taxas de juros, espera-se esse desenvolvimento se traduza em resultados para as empresas no próximo semestre.
Setores com perspectivas não muito favoráveis
Por outro lado, há segmentos que não deverão apresentar um bom desempenho e/ou precisarão de gatilhos para dar início a uma recuperação:
Mineração
De forma geral, as mineradoras e metálicas são dependentes da demanda chinesa por materiais básicos e insumos de produção. Apesar da grande expectativa de reabertura da economia do país, não é certo que isso deva ocorrer, ao menos da forma como alguns investidores esperam. Logo, se esse processo e arrastar durante o ano, as empresas do segmento deverão apresentar próximas temporadas de balanços pouco expressivas.
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Varejo
Segundo Novaes, os altos juros devem seguir pressionando o setor, que ainda não retomou os níveis de desempenho do período pré-pandemia. Além disso, com a perspectiva ainda incerta sobre a estabilidade fiscal – que influencia diretamente a trajetória dos juros – as varejistas devem iniciar o próximo ano sem grandes pretensões.
“Essa situação deverá durar até que a perspectiva econômica, no Brasil e exterior, fique mais clara. Daí sim o Banco Central poderia dar início aos cortes de juros”, observa.
Frigoríficos
Por fim, os resultados operacionais dos frigoríficos são significativamente expostos ao mercado externo, principalmente às economias norte-americana e chinesa. Dessa forma, Novaes acredita que, considerando que as perspectivas econômicas para esses países não são positivas para o consumo e produção do gado, o setor não deverá ser destaque nos próximos trimestres.