Juros em alta, incerteza fiscal e cenário pré-eleitoral foram alguns dos fatores que provocaram a desconfiança do mercado e frearam algumas estreias na bolsa em 2022. No entanto, aos poucos, deve haver reversão nesse panorama, pois há expectativa de retomada dos IPOs em 2023.
Em 2022, empresas como Vix Logística, Madero, Dori Alimentos, CSN Cimentos e Monte Rodovias adiaram a sua abertura de capital. De acordo com especialistas, não veremos o boom de 2020 e 2021, quando 73 novas empresas entraram na B3. Porém, os IPOs devem começar a ganhar força de forma mais lenta a partir do ano que vem.
Além do Brasil, o aperto monetário persistirá também no cenário internacional. Para José Eduardo Laloni, presidente da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), a velocidade da retomada dos IPOs dependerá de fatores macroeconômicos tanto no mercado externo quando externo.
Segundo a Bloomberg, a combinação entre inflação e altas taxas de juros prejudicou os valuations das empresas. Com isso, reduziu o apetite dos investidores pelos IPOs de empresas de tecnologia de alto crescimento, que impulsionaram a bolsa nos últimos anos. Por sua vez, as empresas de consumo também sofrem com a diminuição da demanda por suas ações, devido ao aumento da inflação.
IPOs em 2023: quais as perspectivas?
Segundo o portal Valor Investe, os bancos de investimentos acreditam que haja espaço para, aproximadamente, 40 operações em 2023. Nesse sentido, follow-ons (ofertas subsequentes) e vendas de lotes de participação de companhias (block trade) complementariam os IPOs esperados para o ano.
De acordo com a estimativa mais conservadora, espera-se que os aportes em novas ofertas movimentem de R$ 60 bilhões a R$ 70 bilhões. Já em um cenário mais otimista, o potencial seria de até R$ 100 bilhões. No entanto, isso dependeria da melhora do cenário externo e da reversão da curva de alta da taxa de juros no Brasil.
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Um levantamento do jornal Valor Econômico mostra algumas empresas que podem abrir o capital em 2023. Entre elas, estão BKR Ambiental, Aegea Saneamento, Eurofarma, Iguá, Compass, Kalunga (varejista de materiais de escritório) e São Salvador Alimentos (dona da marca Superfrango).
Outro nome importante, dessa vez do setor de geração de energia, é a CTG, subsidiária da China Three Gorges, multinacional chinesa com presença em mais de 40 países. No final de novembro, a empresa protocolou prospecto preliminar para abrir o capital na B3.
Ainda não há informações públicas sobre os números. Segundo o Brazil Journal, o objetivo seria captar algo em torno de R$ 4 bilhões. Se tudo correr conforme esperado, provavelmente a CTG abrirá a safra de IPOs em 2023, no mês de fevereiro. Lembrando que, desde a Eletrobras em junho deste ano, não vemos novas ofertas públicas na bolsa brasileira.
Cenário externo
Ainda segundo a Bloomberg, somente US$ 207 bilhões foram levantados em aberturas de capital neste ano, queda de 68% em relação a 2021. Nesse sentido, nem mesmo o aumento das ações em circulação na China e no Orienta Médio conseguiu compensar a desaceleração do mercado norte-americano.
Para Edward Byun, codiretor de mercados de capitais da Ásia (exceto Japão) do Goldman Sachs, duas coisas são necessárias para a retomada de captação de recursos por parte das empresas: estabilidade em torno da inflação e visibilidade na trajetória de aumento das natas de juros.
“Uma vez que haja convicção de que a inflação atingiu o pico e clareza sobre a perspectiva da taxa – provavelmente no segundo trimestre do próximo ano – começaremos a ver o mercado avançar”, declarou à Bloomberg.
De acordo com dados da empresa, a queda dos IPOs em 2023 é a pior desde 2008, quando os lançamentos na NYSE e NASDAQ caíram 73%. Nesse sentido, os IPOs em 2023 vêm na sequência de um boom em 2021, quando o auge das listagens levaram o mercado a uma cifra sem precedentes de captação inicial de US$ 655 bilhões.
Por outro lado, China e Oriente Médio foram os mercados que tiveram um bom desempenho em 2022, o que deve se manter no próximo ano. No caso da China, espera-se que nem mesmo o aumento dos casos de Covid por causa da diminuição das restrições atrapalhem essa expectativa. Para o Oriente Médio, a queda nos preços do petróleo – que já afetam as bolsas internacionais – também não deverá prejudicar novos IPOs para 2023.
“Dado que o governo chinês está afrouxando as regulamentações no setor imobiliário, e estamos vendo uma clara tendência de amenizar as restrições da Covid, esperamos uma recuperação do mercado”. A declaração é de Mandy Zhu, head de China e global bank do USB.
Mesmo com a política de Covid zero e com a crise imobiliária, as empresas chinesas levantaram a cifra recorde de US$ 92 bilhões em IPOs em 2022. Por sua vez, as companhias do Oriente Médio captaram quase US$ 23 bilhões.
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IPOs em 2023: o que está no radar no exterior
No Ocidente, a expectativa é de que a retomada dos IPOs em 2023 comece pelos EUA. Entre os nomes no radar dos investidores, estão a Epic Games, a varejista de roupas esportivas Fanatics e a gigante de entregas Instacart.
Logo após, quem deve retomar as estreias nas bolsas é a Europa. Nesse sentido, Andreas Bernstorff, diretor de mercado de capitais do BNP Paribas, é provável que os setores cíclico e de valor tenham demanda com a transição energética. Dessa forma, as empresas de tecnologia climática estariam particularmente bem posicionadas para atrair uma forte demanda.